6 de novembro de 2010

O Nascimento das Religiões



Inicialmente, vamos definir alguns termos básicos, indispensáveis para possibilitar a delimitação do que se deve entender por religião.


Cosmogonia--- Teoria, hipótese ou especulação sobre a origem do Universo. Mesmo raças primitivas desenvolveram mitos a este respeito, inclusive a criação do mundo, exposta na Bíblia. Reservada, atualmente, por muitos, para expressar os mitos primitivos, de interesse antropológico e histórico.



Cosmologia --- Teorias que tentam explicar, cientificamente, a origem do Universo.
Escatologia --- É um termo teológico derivado do Novo Testamento, relacionado com o Apocalipse (os últimos dias) e antigas profecias, pois também o hinduismo, budismo, zoroastrismo e outras religiões, possuem teorias a respeito desse tema.



Religião --- Em termos atuais, poderíamos dizer que religião é “o conjunto de crenças e cultos praticados por um grupo social, em que uma força sobrenatural é objeto de devoção e temor. Praticamente, todas tem uma visão do mundo e possuem um código de preceitos éticos”.


As definições acima são atuais. Mas, neste trabalho, tentaremos explicar o nascimento e o evolver das religiões. Não existem dados concretos com relação ao despertar da religiosidade, no homem. Entendemos que nasceram juntos, se é que isso já não ocorria, de algum modo, em alguns animais superiores.


Ao que tudo indica, já o homem de Neanderthal cultuava certos animais e acreditava na vida pós-morte. O culto dos antepassados,até hoje presente em varias religiões,deve ter sido a primeira manifestação de religiosidade humana. No entanto, os xamãs, surgidos ha mais de 50.000 anos e ainda hoje existentes, provavelmente, foram os responsáveis pelo estabelecimento da relação entre os dois mundos.



A Antropologia Cultural demonstra que, indiscutivelmente, todas as religiões ali tiveram sua origem. Quanto mais primitiva, mais simples seus mitos e cultos. É de acentuar a presença freqüente, desde o inicio, da crença na reencarnação. O mundo xamânico, rico em manifestações espirituais, não apresentava um deus/a dominante.
Aparentemente, o culto da Deusa Mãe foi o primeiro a destacar-se, pois dele existem sinais que remontam a mais de 30.000 anos, nas tribos de caçadores-coletores. Permaneceu por milênios, sendo reforçado nas sociedades agrárias, algumas já avançadas (período neolítico).



Entalhes gravados em pedra, mostram mulheres nuas, obesas, quadris e seios exagerados, triângulo púbico bem saliente. Algumas grávidas.Seriam trabalhos de arte sacra? Provavelmente, impressionados pelo poder gerador da mulher, semelhante à força germinadora da terra, alem da ignorância da paternidade, sendo ambas responsáveis pela vida dos bebes e dos vegetais e animais, teriam que ser divinizadas.
Figuras com evidente intenção religiosa, numerosas, foram encontradas, datando do período situado entre 4.500 e 3.500 atrás. Mulher e terra doavam a vida. Podiam também retira-la, quando ofendidas, causando também destruição. Dai algumas empunharem serpentes.



Na Suméria, 4.000 anos a.C., construíam zigurates, procurando unir a Deusa Mãe com os deuses do céu. A rainha era identificada com a deusa.
Nos 1.500 anos seguintes os povos do Oriente Médio evoluíram, a partir da Anatólia, ao norte, até o Egito, no sul, estendendo-se até o Iran, mas a Deusa Mãe predominava em toda área. Fogo da vida originava plantas e corpos. Recebia os mortos. Presidia a vida, nascimento, morte e renascimento. Dai a idéia de reencarnação.



Sua presença no Egito (Nut e Isis), Suméria (Inana e Erihkigal), Babilônia (Ishtar e Tiamat), Canãa (Astarte ou Amat), China (a Deusa alimentava seu marido com o ato sexual), e outras nações poderiam ser citadas, demonstra que, em certo momento, sua aceitação foi, praticamente universal. Naturalmente, existiam deuses e deusas secundários, geralmente provindos das crenças xamanicas.



O feiticeiro moderno considera-se parte do renascimento de uma ancestral religião da natureza, um culto que antecede ao cristianismo e não se opõe especificamente aos ensinamentos de Jesus. Essa religião que se chama Wicca (feiticeira em inglês arcaico), relaciona-se com as estações e prega o jubilo e celebrações (ritos). Veneram a Deusa Mãe, revivendo a antiga tradição. Alguns ramos da Wicca também cultuam uma divindade masculina, o Deus Chifrudo, vinculado ao deus grego Pan e ao celta Cernuno, simbolizado pelo sol, sendo o senhor da caça e da morte, nada tendo de satânico.



Provavelmente, nas sociedades agrárias, cujo inicio data, possivelmente, de 8.000 anos atrás, o homem entendeu seu papel de pai, passando a mulher a ser apenas depositaria de sua semente. Posteriormente, as cidades agrárias foram tomadas pelas tribos semitas, vindas dos desertos do sul; os helenos, do sul da Rússia, e os arianos, da Europa. Destronaram a Deusa Mãe e a substituíram pelos deuses guerreiros que adoravam. Assim surgiram Yehweh e Zeus.



Assim, Tiamat, mãe de todos os deuses da Babilônia, passou a ser um enorme peixe, comandando demônios. Os deuses masculinos designaram Marduk, para enfrenta-la. Matou-a e fez o Universo, com seus restos. Historias semelhante, onde a deusa é destruída ou colocada em posição secundaria, através do casamento, tornaram-se comuns, inclusive no Velho Testamento, onde Yehweh vence a Leviatã, monstro cósmico do mar, relacionado com divindade feminina anterior.



Na Grécia, Zeus derrota Tifon, (metade homem-metade serpente), filho mais novo de Gaia, deusa da Terra.
A lenda de Lilith, de origem semita, relata ter sido ela criada, do lodo e do limo da terra, juntamente com Adão, para ser sua mulher. É anterior a Eva, mas revoltou-se, não suportando o mando masculino, inclusive não aceitava ficar por baixo, na relação sexual. Fugiu do Paraíso, sendo perseguida por 3 anjos. Preferiu viver entre demônios, passando a ser a princesa dos súcubos (espíritos femininos), os quais atacam e/ou seduzem os homens adormecidos, sugando suas energias vitais.



Estabelecida à predominância dos deuses masculinos, praticamente todas as religiões, por largo período, apresentaram “panteons” com numerosos deuses e deusas, liderados por um deles, sem predominância absoluta. Basta relembrar as mitologias grega, romana e africana, para confirmar o que foi aqui expresso.
Essas mitologias, e outras não citadas apresentam deuses e deusas com biografias muito semelhantes, embora isso tenha ocorrido em lugares muito distantes. Assim, Hecáte-Deméter, rainha do inferno, aumentava seu poder a meia-noite e era encontrada na encruzilhada. Para acalma-la, usavam bolos de mel e corações de galinha, colocados na soleira da porta. Presentes nas encruzilhadas e sacrifícios de animais e humanos eram utilizados. É de recordar que a magia, branca ou negra, iniciadas com os xãmas, espalhou-se por todas as antigas religiões. Até na Roma Imperial, a magia branca era tolerada e a negra, combatida duramente. Isso demonstra o temor aos feiticeiros, herdado de épocas imemoriais, expressos em lendas de vários povos, tais como germânicos, celtas e escandinavos.
Aos feiticeiros sempre foram atribuídos poderes estranhos dominando os animais e a natureza, realizando festas noturnas, onde invocavam deuses ou espíritos infernais, propiciando-lhes oferendas especiais, inclusive sangue humano.Ai reside a provável origem do sabath.



A Igreja Católica Romana, em sua severa perseguição as bruxas, abrandada a partir de 1.750, apenas revitalizou a campanha que contra elas sempre existiu, capitalizando o temor e as lendas existentes, centralizando na Demonologia, as historias relatadas através dos milênios.



Antes de prosseguir, vamos esclarecer que bruxaria e medicina nasceram juntas, iniciando a caminhada no xamanismo e, posteriormente, foram se independisando, como comprovam lendas de varias religiões, Assim, na tradição africana, Ossain é o orixá dos curandeiros, e Orunmila, o pai dos adivinhos.Os filhos de Ossain, não entram em estado alterado de consciência.Na Casa da Vida, os sacerdotes egípcios aprendiam ambas.



Evidente é que, há 50.000 anos, os xamãs viviam em tribos compostas por 30 ou 40 indivíduos, as quais se relacionavam, frouxamente, com 30 ou 40 tribos semelhantes. Seu modo de agir, nesse estagio, embora semelhante em todo o mundo não configurava uma religião.Isso ocorreu com o surgimento do culto da Deusa Mãe, com características próprias, em povoações maiores. Tornaram-se regionais ou nacionais, quando da conquista de novos territórios, absorvendo ou adaptando os deuses locais. Dai as confusões e complicações que surgem nas mitologias africanas, gregas e romanas, entre outras,



O desenvolvimento da civilização e do inter-relacionamento dos povos trouxe o surgimento da idéia de um deus maior, embora não senhor absoluto. Zeus, Júpiter e Olorun são exemplos dessa fase. A idéia do Deus Único, responsável pelo planeta e/ou Universo, teria sido tentada por Amenotep 4°(1367 a.C.), e logo desfeita por seu filho tutancamon. 



Moisés, considerado fundador do judaísmo, proclamou Yehweh como Deus Único do povo de Israel. Isso ocorreu no séc. 13 a.C., quando ele assumiu a liderança dos judeus, na fuga do Egito. É de relembrar que, Abrãao, ainda residente em Ur, já era monoteísta, bem como seus descendentes, Isaac e Jacob. Outros parentes permaneceram pagãos.



A natureza e os atributos de Deus, desde Moisés, tem variado muito, não só nas religiões monoteístas, desde então fundadas, como também em cada uma delas, à medida que a civilização avança. Os Vedas, provavelmente compilados ha 3500 anos, mas cuja existência data de época muito anterior, descrevem, com perfeição, a criação do Universo por Deus Infinito e Imanifesto, isto é, sem espaço e sem tempo. Energia Pura ou energia primordial (conceito quântico). Portanto, o monoteísmo (monismo) é muito anterior a Moisés.



Para finalizar este capitulo, vamos esclarecer que, a maior parte dos estudiosos de religião, afirmam que o budismo e o taoismo não são deístas, pois não focam o assunto diretamente. Segundo estudiosos hindus, a descrição de Nirvana, feita por Buda, corresponde ao Ser Ultimo, dos Vedas.
Lendo com atenção o Tao Te King, de Lao Tsé, tradução de Huberto Rohden, verifica-se, nos comentários que faz sobre a obra, que o Tao se enquadra no conceito monista (Deus Cósmico).

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