1 de julho de 2012

Sobre Desencarne de Chico Xavier:



" ...... Passados alguns instantes da alocução proferida por Léon Denis, perfumada aragem começou a soprar, balsamizando o ambiente. De onde será que provinha aquele suave perfume que, aos poucos, se intensificava, impregnando-nos o corpo espiritual? Tínhamos a impressão de que, caindo de Esferas Resplandecentes, aquele orvalho celeste, constituído de diminutos flocos luminosos, antecedia o momento em que o espírito Chico Xavier seria conduzido à ignota região da Vida Sem Fim.

Quando o fenômeno a que tento me referir se fez mais evidente, algumas explosões começaram a ocorrer na extensa faixa de luz azulínea que, agora, ia mudando de tonalidade, como se um arco-íris se estivesse materializando diante dos nossos olhos.

Gradativamente, cinco entidades foram se fazendo visíveis para nós, tangibilizando-se no pequeno espaço que me parecia reproduzir produzir a abençoada estrebaria em Belém...

Os cinco espíritos, que não posso lhes dizer que tenham assumido forma propriamente humana, foram sendo identificados por nós: eram Bezerra de Menezes, Emmanuel, Eurípedes Barsanulfo, Veneranda e Celina, a excelsa mensageira de Maria de Nazaré.

Diante da estupenda visão, todos sentimos ímpetos de nos ajoelharmos; muitos, efetivamente, se ajoelharam, com os olhos banhados de lágrimas.

Bezerra de Menezes, Emmanuel e Eurípedes Barsanulfo estavam, por assim dizer, mais humanizados, no entanto Veneranda e, especialmente, Celina, nos pareciam dois anjos alados, falenas divinas que se tivessem metamorfoseado apenas para que pudéssemos vê-las... Eu tinha a impressão de estar participando de um sonho que transcendesse a mais fértil imaginação.

Adiantando-se aos demais companheiros, Veneranda, que o tempo todo pairava no ar, começou a orar com sentimento que a palavra não consegue traduzir:


— “Senhor da Vida — exorou, sensibilizando-nos profundamente — aqui estamos para receber, de volta ao nosso convívio, um dos Vossos servidores mais fiéis que, após quase um século de lutas acerbas pela causa do Vosso Evangelho na Terra, regressa ao Grande Lar, com a consciência do dever cumprido.

Que as Vossas bênçãos envolvam o espírito naturalmente exaurido, restituindo-lhe as energias que se consumiram de todo por amor do Vosso Nome entre os homens, nossos irmãos! Que do seu extraordinário esforço não se perca, Mestre, uma única gota de suor, das que se misturaram às lágrimas anônimas vertidas por ele no testemunho da Fé. Que o trabalho de sua profícua existência no corpo físi¬co continue a ser prodigiosa sementeira para as gerações do porvir, apontando o Caminho para quantos anseiam por seguir os Vossos passos...

Senhor, os que tão somente agora, depois de séculos e século de sombras, nos convencemos da Vossa magnanimidade, vos agradecemos por não terdes consentido que o nosso irmão sucumbisse diante das provas e, em nada, se afastasse da trajetória que lhe traçaste no mundo — sabemos que, nos momentos mais difíceis, sem que nós mesmos pudéssemos perceber, a Vossa mão o sustentava para que não tombasse sob o peso da cruz que lhe pusestes aos ombros... Nós vos louvamos por terdes realizado nele a obra consagrada do Vosso amor, que, um dia, redimirá a Humanidade inteira.


E que, agora, ainda unidos ao espírito companheiro que soube transformar-se em exemplo de renúncia e de sacrifício, de desprendimento e de abnegação, possamos dar seqüência à tarefa que iniciastes há dois mil anos, da edificação do Reino de Deus sobre a face da Terra!...

Que a claridade sublime das Altas Esferas não nos faça ignorar os vales de sombras dos quais procedemos e nos quais acendestes, para sempre, a Vossa Luz... Que não nos seja lícito o descanso, enquanto o orbe planetário, onde tantas vezes expiamos as nossas faltas, se transfigure em estrela de real grandeza, a fulgir na glória dos mundos redimidos.

Abençoai, Senhor, os nossos propósitos que são os Vossos e que, hoje e sempre, possamos exaltar-Vos o Nome através de nossas vidas!...”

Terminando de orar, Veneranda e Celina se aproximaram de Cidália, que continuava a aconchegar em seu materno coração o espírito que foi nosso Chico, o qual, de quando a quando, estampava cândido sorriso, como se fosse uma criança participando de um sonho bom do qual jamais ousasse acordar.

O silêncio reinante era de tal ordem, que, aos nossos ouvidos, a voz inarticulada da Natureza nos parecia uma sinfonia; de minha parte, confesso-lhes que eu nunca tinha ouvido a música dos astros e nem podia imaginar que o próprio silêncio tivesse voz.

A faixa de luz azulínea que se transformara num arco-íris ainda se mostrava mais viva, e todos permanecíamos na expectativa do que não sabíamos pudesse acontecer.

Direcionando os sentidos, quis ver, naquela hora, como os preparativos para o féretro estavam desenvolvendo-se no Plano Físico e, justamente, quando começou a ser entoada a canção “Nossa Senhora” e os nossos irmãos começaram a movimentar-se, dando início ao cortejo, uma Luz indescritível, descendo por aquele leque iluminado que ligava a Terra ao Infinito — a faixa de luz que ali se instalara logo após ter sido armado o velório no “Grupo Espírita da Prece” —, uma Luz que, para mim, era muito superior à luz do próprio Sol e que me acionava a memória para a lembrança da visão que Paulo teve do Cristo, às portas de Damasco, repetiu com indefinível ternura:


— “Vinde a mim, todos os que andais em sofrimento e vos achais carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou man¬so e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.

Aquela Extraordinária Visão, que sequer povoava os meus sonhos mais remotos de espírito devedor, estendeu dois braços humanos reluzentes e, quando notei que o Chico em espírito se transferia dos braços de Cidália para aqueles Braços que o atraíam, digo-lhes que, desde quando fui beneficiado com o laurel da razão, não tenho recordação de jamais ter chorado tanto...

Aquela Luz, que se humanizava parcialmente para que pudéssemos vê-la, estreitou Chico Xavier ao peito e depositou-lhe um ósculo santo na fronte e, em seguida, partiu, levando-o consigo, despedindo-se com inesquecível sorriso dos que continuavam presos ao abismo, sentenciados pelo tribunal da consciência culpada.

Foi Odilon que, depois de muito tempo, conseguiu falar, comentando conosco:

— Eu sempre que lia as páginas do Velho Testamento, ficava intrigado e colocava em questão a narrativa de que o profeta Elias fora conduzido ao céu por “um carro de fogo”... Agora sei que não se tratava de força de expressão ou algo semelhante.(...)


Um grande vazio se fez após e, gradativamente, a faixa de luz foi se recolhendo de baixo para cima, à medida em que o cortejo celestial se retirava.


A praça em que nos havíamos reunido já se encontrava praticamente vazia; diversos grupos, procedentes de várias regiões da Espiritualidade, haviam partido e, agora, os curiosos e desocupados de além-túmulo se aproximavam, como que para vasculhar os espólios do concorrido velório...

Contrastando com a luz do corpo espiritual de eminentes entidades, esses outros nossos irmãos se mostravam opacos em seu novo veículo de expressão, dando-me a impressão de que, embora desencarnados, ainda não tinham logrado completa emancipação; muitos caminhavam sem qualquer desenvoltura, qual se fossem doentes com dificuldade para mudar o passo...

Identificando-nos na condição de adeptos do Espiritismo e amigos de Chico Xavier, começamos a ser abordados por aquelas entidades infelizes que, aos meus olhos, se assemelhavam a sobreviventes onde houvesse sido travada intensa batalha. A grande maioria exibia as vestes em farrapos e, além da obscuridade espiritual à qual já me referi, deixavam exalar de si quase insuportável odor...


— Por favor, auxiliem-nos! — disse-nos um deles, adiantando-se aos demais —Estamos convencidos de que, realmente, o mal não compensa... O que vimos acontecer hoje, aqui...

Olhando-me, significativamente, Odilon comentou:

— Quantas bênçãos a vida e a suposta morte de um verdadeiro homem de bem pode espalhar! Quantos não estarão sendo motivados à renovação íntima, ante o episódio da desencarnação do nosso Chico! ... Ele que, no corpo, descerrou caminhos para tanta gente, ao dei¬xar a vestimenta física, prossegue orientando com os seus exemplos os que se desnortearam além da morte.

Faz-me recordar o que disse Jesus, no capítulo 12, versículo 24, das anotações de João: “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto”...


Retirado do livro “Na Próxima Dimensão”, pelo Espírito Inácio Ferreira, psicografado pelo médium Carlos Alberto Baccelli (Capítulos 7 – 10, 13)

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