No grau 24 os trabalhos consistem em ensinar os
Irmãos a construir o Tabernáculo, por isso sua origem está fundamentada nos
versículos 25 a 26 do livro do Êxodo, onde Deus dita a Moisés as instruções
para essa construção.
E o grau em que, simbolicamente, o maçom adquire
a capacidade de funcionar como sacerdote. Nesse caso, deverá ter em mente todos
os ensinamentos dos graus anteriores, porque será o momento de usá-los.
Não se pode esquecer que o sacerdote, na cultura
hebraica, não é somente o oficiante de cerimônias religiosas. Ele é, também, o
intérprete e aplicador das leis, visto que tal cultura era essencialmente
teocrática e as funções do estado não estavam dissociadas da religião.
Dessa forma, dos maçons-sacerdotes não se exige
que estejam a par somente das tradições religiosas, mas também de todas as
fórmulas legais existentes, para que possam julgar com justiça e ministrar aos
irmãos dos graus inferiores a correta orientação doutrinária. Por isso se evoca
constantemente, como ensinamento do grau, as questões ligadas á justiça, aos
triunais, aos julgamentos, ao respeito que deve á lei, etc.
No relato bíblico, vê-se que Deus orientou
Moisés para que requisitasse do povo de Israel os materiais necessários para a
construção do Tabernáculo e da Arca da Aliança. Os materiais requisitados eram
ouro, prata, bronze, estofo azul, púrpura carmezim, linho fino, peles de cabra
e de carneiro, e de animais marinhos, madeira de acá-cia, azeite, incenso,
pedras preciosas para ornamentar as vestes sacerdotais. Não é demais lembrar
que nessa época o povo de Israel vagava pelo deserto, sem ter ainda se fixado
em Canaã.
Todo o material requisitado para a construção do
Tabernáculo guarda estreita relação com a vida nômade que aquele povo levava.
Os israelitas viviam em tendas cobertas de peles de carneiro e cabras, cujos
rebanhos os acompanhavam em sua peregrinação. Possuíam ouro, prata e bronze em
forma de utensílios, ornamentos, estatuetas e outros objetos, obtidos como
parte dos despojos retirados do Egito por ocasião do Êxodo. Outros objetos,
tais como tecidos finos, púrpura, linho etc. bem como as especiarias, eram
comprados das caravanas que constantemente cruzavam seu caminho, em sua rota
para a Palestina.
A marcha dos hebreus através do deserto deve ter
sido um espetáculo magnífico. Estima-se que eram em número de seiscentas mil as
pessoas que deixaram o Egito, sendo que a maior parte dessa multidão,
especialmente os mais idosos, morreram durante a jornada. E por quarenta anos
viveram no deserto antes de entrar em Canaã, a terra da promessa, que manava
leite e mel.
É preciso ver nessa peregrinação de Israel pelo
deserto, suas lutas internas e externas, as dúvidas, os sofrimentos, a
obstinação pela manutenção da fé, o castigo imposto por Deus a Moisés, de ser
impedido de entrar na terra prometida, apesar de ter cumprido gloriosamente a
missão que lhe foi confiada, um profundo ensinamento iniciático.
Em primeiro lugar a construção de um Tabernáculo
foi necessária para que, fosse para onde fosse o povo de Israel, levasse o
símbolo da presença de Deus no meio do povo. O Tabernáculo era uma espécie de
tenda, construída de uma forma especial. Representava um templo móvel, próprio
para um povo errante. E dentro dele a Arca Sagrada, símbolo da aliança do povo
de Israel com Deus.
Note-se o simbolismo dos materiais requeridos
para a construção da Arca, do Tabernáculo e seus adereços: ouro e prata,
metais, que como vimos, na tradição alquímica são metais puros; madeira de
acácia, sendo esta, no Oriente, a planta que simboliza a ressurreição. Além
desses objetos, havia também pedras preciosas, como a ônix, por exemplo, que
segundo a tradição ligada á Gematria, é um poderoso catalizador de energia; e
linhos finos, simbolizando a pureza que a casta sacerdotal deve manter.
Nenhuma indicação, seja em relação aos materiais
requeridos, ou á construção da Arca e do Tabernáculo e seus acessórios, é
gratuita. Tudo tem sua razão de ser; o Propiciatório e os querubins, ambos de
ouro; a mesa de madeira de acácia, de dois côvados por um, para suportar a
Arca, e as argolas de ouro para facilitar o seu transporte; todos os vasos,
pratos e utensílios de serviço nas cerimônias, feitos de ouro, enfim, tudo
visava a uma finalidade prática, ou iniciática, pois ali, naquele Tabernáculo,
se realizariam as cerimônias que consagravam a união de Deus com seu povo.
A ornamentação interna também deve ser objeto de
particular interesse porquanto é composta de tantas minúcias, que dificilmente
creditaríamos a um mero exercício de imaginação por parte de Moisés ou os
sacerdotes israelitas. Dez cortinas de linho retorcido, com estofo azul de
púrpura e carmezim, ornamentadas por querubins, com vinte e oito côvados de
largura por quatro de altura, constituíam as paredes do Tabernáculo. Nas orlas,
laçadas de estofo azul, presas com colchetes dourados; por cima de tudo isso,
uma cobertura de peles de cabra servindo como tenda. E acima dessa coberta mais
duas outras coberturas feitas, uma de peles de carneiro tintas de vermelho, e
por cima dela outra, feita de peles de animais marinhos.
Tudo isso, naturalmente, tinha que ser
sustentado por uma armação de madeira cuidadosamente elaborada. Os planos para
essa armação são tão minuciosos que até um carpinteiro moderno teria
dificuldade para executá-los. Traves e tábuas de madeira de acácia, todas
cuidadosamente aparelhadas, orientadas em relação ao norte e sul com extrema
precisão; e todo o sistema de travamento, com encaixes, presilhas, colchetes,
bases, argolas, etc. tudo de ouro ou bronze conforme o caso.
E por fim, a montagem do altar. Sobre quatro
colunas de madeira de acácia, cobertas de ouro, com colchetes desse metal e
bases de prata, Moisés deveria pendurar um véu de estofo azul, púrpura e
carmezim, ornamentado com querubins, formando o Propiciatório; e sob esse véu
depositar a Arca da Aliança. Fora, em frente ao propiciatório, uma mesa
orientada para o norte e sobre ela, candelabros orientados para o sul. Na porta
da tenda, um reposteiro para estofados, nas mesmas cores e motivos, ornado por
cinco colunas de madeira de acácia, recobertas de ouro, faziam o papel de
antecâmara do Propiciatório, que era o altar do Santo dos Santos.
Um modelo do Universo:
Todas as instruções para a construção do
Tabernáculo foram passadas a Moisés através de um sonho. Esse era, pelo menos
na visão interior de Moisés, o modelo do universo de cima, onde residia o
Grande Arquiteto do Universo. Construindo-o dessa maneira, Moisés pensava reproduzi-lo
na terra. E nesse simulacro do “céu”, esse holom do universo, ele receberia a
visita do Deus de Abraão, Isaac e Jacó, o Inominado, aquele cujo nome era, pelo
menos até aquele momento, para ele, apenas um Verbo: “Eu Sou”. Nisso, estava
ele perfeitamente de acordo com o preceito hermético, segundo o qual “o que
está em cima é igual ao que está em baixo”.
Essa inspiração de Moisés não foi, de certo,
gratuita. Afinal Moisés viveu no Egito os primeiros quarenta anos de sua vida,
sendo inclusive membro da família real. Isso o credenciava a compartilhar dos
segredos atribuídos aos sacerdotes egípcios, de vez que a família real, por
força da própria estrutura política do Egito, era iniciada nos sagrados
Mistérios.
Hermes, o deus grego que simboliza o conhecimento,
era para os egípcios, o deus Thot, protetor das ciências, entre elas a
Arquitetura, arte sagrada entre os egípcios. Os gnósticos e hermetistas gregos
também identificavam o deus Toth com a figura mitológica de Hermes
Trismegistus, uma espécie de deus-sacerdote que teria vivido três encarnações
no Egito e legado áquele povo, (e á toda humanidade), a verdadeira sabedoria.
Daí a possibilidade de que Moisés tivesse elaborado os planos do Tabernáculo de
acordo com antigos ensinamentos por ele adquiridos no Egito não é possibilidade
que deva ser descartada. São muitos os conhecimentos arcanos e os motivos
esotéricos aplicados na confecção do Tabernáculo a indicar uma influência dessa
ordem.
É provável também que essa visão de Moisés tenha
inspirado o arquiteto do Templo, que três séculos mais tarde, iria ser
construído pelo rei Salomão. Mas sobre isso não há informação que o confirme. O
que se pode perceber nessa riqueza de detalhes, como já se disse, é o elevado
conteúdo esotérico e por que não dizer, iniciático, desses planos de
construção. A orientação em relação aos pontos cardeais, o tamanho exato das
armações, as coberturas e a ornamentação, tudo denota uma orientação que não
pode ser casuística.
Essa é razão do apreço com que os maçons
operativos cultuavam as lendas relativas á construção do Templo de Salomão, que
segundo suas crenças, eram baseadas nas instruções dadas a Moisés para a
construção do Tebernáculo. Dessa forma, todos os adereços, os planos
geométricos, a forma e todos os demais detalhes estavam ligados a um
conhecimento esotérico que deveria ser veiculado através desses símbolos.
Assim, tanto o Tabernáculo quanto o Templo de Salomão seriam verdadeiras
enciclopédias de saber arcano, que dessa forma eram conservados e transmitidos
aos iniciados. Foi essa tradição que os maçons operativos medievais conservaram
e retransmitiram através da sua Arte.
MESTRES DO UNIVERSO
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