Um
homem, indiano, buscava com determinação seu crescimento espiritual. No
entanto, pela segunda vez havia caído nas garras dos falsos profetas. Ele
acreditou cegamente nos falsos mentores e teve grandes decepções.
Mais
uma vez, resolveu procurar um guru a quem diziam ser um mestre autêntico, e não
um falso profeta. Procurou este homem, que vivia na beira do rio Ganges, na Ìndia. Apresentou-se e começou a conversar com ele. Disse
que queria muito encontrar um mestre de verdade e não um oportunista ou
aproveitador. Então perguntou:
- Mestre, muitos dizem que o senhor tem grande
conhecimento a respeito dos homens santos e dos líderes espirituais. Seria
possível o senhor me dizer como podemos identificar os chamados falsos
profetas?
- Sim, respondeu o mestre. Na maioria das vezes
é uma tarefa difícil conseguir identificar os falsos profetas, pois seu
discurso pode ser muito semelhante aos mestres autênticos. Porém, existem
algumas orientações gerais a esse respeito, que todos deveriam considerar.
- Que orientações são estas, senhor? Perguntou o
homem.
- Em primeiro lugar, você jamais deve perder de
vista que o único mestre a que devemos seguir com toda nossa dedicação é o
nosso mestre interior. O mestre externo nada mais é do que um canal para a
expressão do seu mestre interno. O mestre externo funciona tal como um espelho
que visa refletir a sabedoria que já existe latente em teu próprio interior.
- Acho que entendi mestre, e o que mais?
- Além desta, existem sete orientações gerais
que podem ajudar qualquer pessoa a reconhecer ou identificar um falso profeta.
- A primeira orientação, e talvez a mais
importante, é procurar perceber se o mestre ou líder religioso coloca sua
própria personalidade em destaque. Os falsos profetas sempre colocam seu ego
acima da sabedoria da mensagem que propagam. O mestre autêntico expõe sempre o
ensinamento em primeiro plano, e seu ego fica sempre em segundo plano, ou quase
não aparece. Os falsos mestres sempre desejam o culto ao ego.
- Entendi mestre, respondeu o homem. E a segunda
orientação?
- A segunda orientação diz respeito a imposição
de dogmas e ao livre pensamento. Um falso mestre sempre dirá que você deve
aceitar as verdades que ele ensina de forma cega e total. Seu livre pensamento
não é respeitado, e você precisará adotar a fé cega, sem que possa refletir
sobre o dogma imposto.
- Verdade mestre, e a terceira orientação?
- A terceira orientação diz respeito ao
ensinamento e sua prática. Os falsos mestres sempre ensinam uma coisa, mas na
praticam fazem outra coisa. Seus atos não correspondem aos seus ensinamentos.
Eles pregam grandes verdades, mas quase não as praticam. Um mestre autêntico
ensina mais pelo exemplo, pela sua história de vida, do que meramente por
palavras. Uma vida de pureza e virtudes é o melhor tratado de sabedoria que uma
pessoa pode "escrever" e deixar registrado para as gerações futuras.
- A quarta orientação aborda sobre o respeito ao
livre arbítrio do fiel ou seguidor. Um falso profeta, sempre que puder, dirá ao
fiel o que ele deve fazer em sua vida. Um mestre autêntico apenas orienta e
deixa o seguidor refletir e ele mesmo escolher como agir. Os falsos profetas
gostam muito de controlar os seguidores, e uma das melhores formas para isso é
sempre dizer a eles o que fazer e como se comportar. Mas a escolha do seguidor
deve sempre ser respeitada, pois o fiel é quem deverá colher os frutos das boas
ou más ações que praticar. Embora possam receber orientações e recomendações,
cabe apenas a própria pessoa decidir quais serão suas ações no mundo.
O homem ouvia atentamente as palavras do guru.
Este continua:
- A quinta orientação diz respeito à dependência
e a independência. Os falsos profetas desejam sempre que seus seguidores
dependam dele. Nenhum mestre deve criar uma relação de dependência entre ele e
seu seguidor. O mestre verdadeiro deseja que o fiel se torne independente do
próprio mestre, e num futuro breve possa guiar sozinho a sua vida e seu caminho
espiritual. Um motorista jamais aprenderia a dirigir se o professor sempre
guiasse o veículo. O mestre ajuda o discípulo para que futuramente o discípulo
não mais precise de ajuda. Apenas os falsos mestres querem manter seus
discípulos dependentes dele, pois essa é uma excelente forma de dominação.
- A sexta orientação versa sobre a ilusão da
exclusividade de um conhecimento. Os falsos profetas sempre dirão aos
seguidores que eles (os supostos mestres) são os únicos detentores de uma
verdade, e que apenas eles ou a doutrina que eles pregam podem conduzir os fiéis
à verdade ou a Deus. Desconfie sempre dos falsos profetas que afirmam serem os
únicos canais de um conhecimento, e que aquela sabedoria é exclusividade de uma
pessoa ou um grupo.
- E finalmente a sétima e última orientação, que
fala sobre a responsabilidade e a culpabilização. Os falsos profetas quase
sempre colocam a culpa do sofrimento do fiel em algo externo a ele, sejam
demônios, entidades, família, sociedade, etc. O mestre verdadeiro sempre coloca
a responsabilidade de tudo o que ocorre com o seguidor nele mesmo. Em última
instância, somos responsáveis pelo céu ou o inferno que vivemos, que nada mais
é do que uma criação nossa. É verdade que existem milhares de influências neste
mundo, mas a forma como nós encaramos ou enfrentamos as adversidades depende de
nós mesmos. Portanto, tudo o que nos acontece tem a nossa participação ativa,
mesmo que não tenhamos consciência das causas. Estas são as orientações gerais
para não se deixar levar pelos falsos profetas. Quem medita nestes pontos,
dificilmente será enganado.
Autor: Hugo Lapa
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