V.I.T.R.I.O.L. não é exatamente uma palavra. Trata-se de um grupo de palavras formando uma frase de origem latina, com significado de grande profundidade e muito peculiar. Cada uma das letras corresponde à inicial de uma palavra e o conjunto delas forma a sigla: VITRIOL.
VITRIOL é, portanto, a sigla composta das iniciais das palavras do Latim, que integram a frase: “Visita Interiora Terrae Rectificandoque Invenies Occultum Lapidem”, ou seja, “Visite o Interior da Terra e Retifique Integralmente a Oculta Lápide”. Existe toda uma complexa explanação alquímica, para explicar o que venha a ser “Oculta Lápide” ou “Pedra Oculta”, também conhecida como “Pedra Filosofal” ou “Pedra do Sábio”. Nós Maçons, poderíamos chamá-la de “Pedra Cúbica”, ou talvez, até de “Pedra Polida”.
Na verdade esta viagem ao interior da Terra está também revestida de profundo simbolismo. Ninguém poderia imaginar uma viagem penetrando perpendicularmente rumo ao centro da Terra, onde existe lava incandescente a temperaturas altíssimas! – Júlio Verne talvez – O que de fato está proposto é uma busca introspectiva, possivelmente lenta, porém, persistente e gradual, na busca do conhecimento.
No processo ritualístico pelo qual passa o candidato a Aprendiz Maçom, consta sua permanência na “Câmara de Reflexões”. Seria ali, num ambiente sombrio, cercado de um grande número de objetos e símbolos, com tantos significados distintos, que ele empreenderia a dita viagem ao interior de si mesmo? Num momento de extrema tensão, sem saber a razão pela qual estava naquele lugar, senão por suas próprias deduções nem sempre muito coerentes, devido às circunstâncias, sem saber por quanto tempo permaneceria ali, nem o que estava por vir...
Alheamento – Silêncio:
Embora o nome “Câmara de Reflexões” sugira introspecção, as condições são bastante adversas e o tempo insuficiente para aquela viagem proposta e defendida por Sócrates, “conhece-te a ti mesmo”. Esta busca, além de muita dedicação e estudo, requer um estado de espírito absolutamente sereno, isento de preocupações de qualquer natureza.
A iniciação nos Augustos Mistérios representa tão somente um marco decisório, a intenção de perseguir a partir dali, o aperfeiçoamento moral, espiritual e o compromisso de buscar o conhecimento que lhe fará uma pessoa melhor a cada dia. A transformação não acontece num passo de mágica, apenas com a sagração a Aprendiz Maçom.
A sigla VITRIOL, vem sendo usada até mesmo como método de formação e treinamento de empreendedores (VENDEDORES). É o mercantilismo da filosofia onde ela deveria ser tratada com o maior respeito, pois se encontra em seu estado mais sublime e puro. Por ser uma sigla formada a partir de uma expressão em Latim, e de fundo profundamente filosófico, ela permite múltiplas interpretações, especulações e divagações... Sabemos que as traduções nem sempre representam com fidelidade o pensamento contido no texto original, pois as palavras têm conotações próprias para cada idioma. Quando tratamos de coisas subjetivas, alegóricas ou místicas, aí então fica bem mais difícil uma tradução linear. Quer nos parecer que o mais adequado seria uma versão, ainda que ela não coincidisse com as letras da sigla, mas que expressasse seu verdadeiro sentido. Algo como: “Busque no interior de si mesmo o aperfeiçoamento de seu caráter”.
Se quisermos divagar um pouco sobre o tema VITRIOL do ponto de vista maçônico, podemos deduzir que a Câmara de Reflexões é uma caverna, ou o interior da terra, onde o profano (candidato) passa pelo processo de renascimento. Da morte material para o renascer espiritual. O “retificar-se” pode ser entendido como tornar seu comportamento reto, isento de desvios, ou seja; abolir os vícios, para ser um novo indivíduo, com novos padrões de conduta. Assim será revelada ao novo homem, a pedra bruta que existe dentro de si e que precisa ser trabalhada.
Não é suficiente ter conhecimento da existência de tal pedra, se nada for feito no sentido de desbastar suas arestas, de remover suas imperfeições. É necessário aprimorá-la na prática de boas ações, no exercício do amor ao próximo, dedicação familiar, fraternidade, humildade, tolerância e respeito. Se a pedra não for trabalhada, de nada vale sabermos que ela existe.
Na frase latina, a palavra terrae tem uma conotação bastante distinta do que sugere o significante: Terra, que designa um planeta do sistema solar. Esta mesma palavra pode tomar um sentido conotativo bastante diferente, sendo entendida simbolicamente como útero materno; local onde somos gerados. (Cabe aqui uma breve explanação sobre significante e significado. A palavra tomada isoladamente ou num determinado contexto; sentido denotativo ou conotativo – Exemplo: papagaio = ave da família das psitaciformes; pessoa tagarela, repetitiva; pandorga, pipa; nota promissória; bilhete; exclamação.) O retorno ao útero (visita) significando a possibilidade de um renascimento. Renascer uma pessoa melhor, de caráter reto (retificandoque), despido das imperfeições e dos vícios que carregava. Como? – Encontrando (invenies) a pedra oculta (occultum lapidem) e trabalhando-a para torná-la justa e perfeita. Estando ciente de que a tal pedra existe e que ela se encontra no interior (interiora) de cada um de nós, está dado o primeiro passo. Depois será a busca do conhecimento.
Quem quer que se empenhe na dura obra do seu aperfeiçoamento espiritual deve penetrar no âmago do seu ser, com o propósito sincero de encontrar e eliminar todas as imperfeições por ventura encontradas. E elas certamente não serão poucas. Este caminho a percorrer haverá de levá-lo à descoberta da Pedra Filosofal ou Pedra Polida; que é o princípio, a Centelha Divina que repousa viva dentro de cada um de nós.
Quando nascemos, trazemos algumas características genéticas que podem nos predispor a desenvolvermos certas doenças ou aptidões intelectuais. Entretanto, nosso caráter é uma folha de papel em branco, na qual irá aos poucos sendo impresso tudo aquilo que nos for transmitido. O bem ou o mal não existem em si mesmos, intrinsecamente. Eles serão desenvolvidos de conformidade com o meio, com os hábitos desenvolvidos, práticas ou costumes, através da educação recebida no lar e da educação formal. Só mais tarde adquirimos um nível de consciência capaz de discernir ou escolher entre o que seria o bem ou o mal, de conformidade com o que tenha sido impresso na folha de papel de que falamos. A tendência natural é preponderar o que tenha maior peso em nosso aprendizado. Nossos valores podem ser modificados mesmo na fase adulta, mas o processo é bem mais complexo e demorado.
Nesses tempos modernos em que vivemos, quando se valoriza sobremodo os bens materiais, superestimando o ter em detrimento do ser, e somos invadidos todo tempo por uma avalanche de informações, quando os falsos alquimistas nos vendem suas fórmulas mágicas para o enriquecimento, enquanto a ganância de povos e nações promove guerras e agressões à natureza colocando em risco a existência da humanidade, parece não haver tempo para reflexões. Tudo é urgente. O aqui e agora não nos permite sequer educar convenientemente nossos filhos. A tecnologia, a Internet, os vídeo-games estão a substituir a educação paterna indo aos poucos minando até mesmo culturas milenares como a dos asiáticos. Parece que nos resta gritar por socorro ao espírito de Sócrates que nos ajude na tentativa desesperada de conhecermo-nos a nós mesmos! Logrando tal intento, é nosso dever como Maçons, sermos o sal da terra. Isto é, transmitir esse conhecimento a outras pessoas. Assim estaremos contribuindo para um mundo melhor; mais humano, menos violento, possivelmente mais fraterno, com menos corrupção, mais justo e perfeito.
Portanto, meus irmãos, a prática de uma VITRIOL faz bem, é necessária e não tem contra-indicação...
Autor: Ir.´. RUI GONÇALVES DOCA
Membro da Loja Maçônica Liberdade e União 1158Goiânia - GO
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