Um leitor, refletindo por um momento a respeito do título
acima, poderia muito bem declarar: "Bem! O que quer que sejam as
religiões, o mais certo é que elas não são fraternais". E é uma infeliz
verdade que se analisarmos a história religiosa do passado recente
encontraremos mui escassa fraternidade; antes veremos religião combatendo
religião, disputando pela supremacia e esmagando suas rivais até a morte; as
guerras religiosas tem sido as mais cruéis; as perseguições religiosas tem sido
as mais impiedosas; cruzadas, inquisições, horrores de toda sorte, mancham com
sangue e lágrimas a história das contendas religiosas; pareceria uma pilhéria,
por entre campos de batalha ensangüentados e tenebrosas chamas de incontáveis
fogueiras, tagarelar sobre a "Fraternidade das Religiões"!
Não só entre as religiões é que a luta contínua acontece.
Mesmo dentro da esfera de uma única religião formam-se seitas, que amiúde
empreendem guerras entre si. O Cristianismo se tornou proverbial entre as
nações não-Cristãs por causa dos ódios mútuos dos seguidores do "Príncipe
da Paz". Católicos Romanos e Anglicanos, Luteranos e Calvinistas,
Wesleyanos, Batistas, Congregacionistas, etc, tumultuam a paz das nações por
suas furiosas controvérsias.
A Grã-Bretanha e a Irlanda pagam hoje a herança de
ódio gerada pelos danos cruéis infligidos sobre os Católicos Romanos pelo
terrível código penal criado por um Parlamento Protestante; hoje em dia (1907)
o Reino Unido se precipitou em uma grande querela constitucional por causa dos
ódios entre Anglicanos e Não-Conformistas, que não são capazes de concordar nem
mesmo sobre uma base mínima de ensinamento Cristão comum que poderia ser
ensinado nas escolas nacionais às crianças de todos os Cristãos.
A França está
dividida em duas e sob ameaça de guerra civil como resultado da vingança dos
Livres-Pensadores sobre a Igreja Católica Romana por causa dos males que esta
lhes causou em seus dias de supremacia. Na Bélgica os assuntos políticos são
decididos pela maioria ora clerical ora anticlerical. O Islã tem as acirradas
lutas entre os Xiitas e os Sunitas, ao passo que ambos se unem para denunciar o
infiel Sufi. Mesmo no Hinduísmo há hoje os lados fanatizados dos Vishnuítas e
dos Shivaítas, que se denunciam mutuamente com uma bitolação imitada dos exemplos
missionários. A controvérsia religiosa se tornou o protótipo do que há de mais
amargo e não-fraterno nas lutas do homem contra homem.
Mas não foi sempre assim. O antagonismo entre as religiões é uma planta
que cresceu só há pouco, a partir da semente de uma reivindicação
essencialmente moderna - a de que apenas uma única religião é a especial e que
somente ela é inspirada. No mundo antigo havia muitas religiões, e em sua maior
parte a religião era coisa nacional, de modo que o homem de uma nação não tinha
o desejo de converter o homem de outra nação. Cada nação tinha sua própria
religião, assim como tinha suas próprias leis e seus próprios costumes, e os
homens nasciam e permaneciam no credo de sua terra natal. Daí que, se olhamos
para a história do mundo antigo, ficamos surpresos com a raridade das guerras
religiosas.
Mesmo quando os Hebreus invadiram a Palestina e mataram os
habitantes idólatras da região, isso foi antes uma guerra de conquista, causada
pela cobiça comum, e uma guerra entre Javé, seu Deus particular, e os Deuses do
povo invadido; de fato, a antiga tendência geral de assimilar na sua própria
religião os Deuses das tribos conquistadas se apresentou muitas vezes na sua
história; esta tendência foi acidamente denunciada pelos profetas, não como uma
heresia, mas como uma apostasia nacional de sua própria Deidade particular, que
os havia libertado da tirania do Egito e conquistado a Palestina para eles.
Além disso, observaremos que, dentro de uma única religião, havia muitas
escolas de pensamento que coexistiam sem ódio. O Hinduísmo tem seus seis
darshanas - seis "pontos de vista" - e mesmo que os filósofos
disputem e debatam, e que cada escola defenda sua própria posição, não há falta
de sentimento fraterno, e todos os filósofos ainda são ensinados dentro da uma
mesma tol ou pâthashâlâ - escola religiosa.
Até em um mesmo sistema filosófico,
o Vedânta, há três subdivisões reconhecidas - Advaíta, Vishishtâdvaíta, e
Dvaíta - diferindo no mais fundamental dos ensinamentos: a relação entre Deus e
o espírito individual - mas todas convivem lado a lado, e os colegas da mesma
escola aprendem uma, duas ou as três sem atacar a ortodoxia alheia. Uma pessoa
pode pertencer a qualquer uma das três, ou a nenhuma delas, e ainda continuar
sendo um bom Hinduísta, embora, como disse antes, nos tempos modernos o
sectarismo religioso tenha se tornado mais acirrado.
No poderoso Império da Roma Antiga todos os credos eram bem-vindos,
todas as religiões eram respeitadas, e mesmo honradas. No Panteão - o templo de
todos os Deuses - de Roma eram encontradas as imagens que simbolizavam os
Deuses de todas as nações súditas, e os cidadãos romanos demonstravam
reverência a todos. E se uma nova nação entrava na órbita do Império, e se esta
nação adorava uma forma de Deus diversa daquelas já cultuadas, as imagens ou
símbolos dos Deuses da nova nação-filha eram trazidos para o Panteão da
Pátria-Mãe com toda a honra, onde eram entronizados com reverência.
Assim, todo
o mundo antigo era todo permeado pela idéia liberal de que a religião era um
assunto de caráter privado ou étnico, onde ninguém tinha o direito de
interferir. Deus estava em toda parte, em todas as coisas; que importava a
forma sob a qual era adorado? Ele era um só Ser invisível e eterno, com muitos
nomes; que importava o título pelo qual era invocado? A palavra de ordem da
liberdade religiosa do mundo antigo ressoa na esplêndida declaração de Shri
Krishna: "Por quaisquer caminhos que os homens tomem para se aproximar de
Mim, ali mesmo Lhes dou as boas-vindas, pois de todos os lados todos os
caminhos são Meus"
A primeira vez em que a perseguição religiosa manchou os anais da Roma
Imperial foi quando o jovem Cristianismo entrou em conflito com o Estado, e
derramou-se o sangue de Cristãos, não como sectários religiosos, mas como
traidores políticos, e como perturbadores da paz pública. Eles reivindicaram
supremacia sobre as antigas religiões, e assim provocaram ódios e tumultos;
eles atacaram as religiões que até então haviam vivido em paz lado a lado,
declarando que só eles estavam certos, e os outros todos, errados; eles
suscitaram o ressentimento por causa de sua atitude agressiva e intolerante,
causando distúrbios aonde quer que fossem.
E pior ainda, deram origem a
suspeitas mais sérias a respeito de sua lealdade ao Estado, ao se recusarem a
tomar parte na cerimônia usual de espargir incenso no fogo que ardia diante da
estátua do Imperador reinante, e denunciaram a prática como idólatra; Roma viu
sua soberania ameaçada pela nova religião, e o mesmo tempo que era largamente
tolerante para com todas as religiões, era duramente intolerante contra
qualquer insubordinação política. Foi como rebeldes, e não como heréticos, que
ela lançou Cristãos aos leões, e os expulsou de suas cidades para que vivessem
em cavernas e nos desertos.
Foi essa reivindicação do Cristianismo, a de ser a única religião
verdadeira, que deu origem às perseguições religiosas, primeirodo Cristianismo,
e depois por ele. Pois enquanto a sua religião é sua e a minha é
minha, e ninguém pretende impor a sua religião sobre o outro, não pode surgir
nenhum motivo de perseguição.
Mas seu eu digo: "Sua concepção de Deus está
errada e a minha está certa, só eu tenho a verdade, e só eu posso apontar o
caminho da salvação; se você não aceitar minha idéia encontrará a
danação"; então, logicamente, se eu pertenço à maioria, devo virar um
perseguidor, pois é mais interessante assar heréticos aqui do que permitir que
espalhem suas heresias, danando a si mesmo e a outros para sempre. Se, porém,
sou da minoria, provavelmente serei perseguido por homens que não tolerarão tão
prontamente a arrogância de irmãos que não lhes permitem olhar para os céus
senão através de seu próprio telescópio especial.
De perseguido o Cristianismo passou a dominante, e arrebatou o poder do
Estado. A aliança entre Estado e Igreja tornou meio políticas as perseguições
religiosas. A heresia na religião se tornou deslealdade; a recusa em crer da
mesma forma que o Chefe de Estado se tornou traição contra aquele Chefe; e
assim foi escrita a triste história da Cristandade, uma história que todos os
que amam a Religião - sejam Cristãos ou não - devem ler com vergonha, com
tristeza, e quase com desespero.
E como a "Divindade que modela nossos
fins" determinou a ruína nacional como o mau fruto da falta de
fraternidade em religião! A Espanha empreendeu uma feroz perseguição contra os
Mouros e os Judeus; ela os queimou aos milhares, os torturou e mutilou; quando
cansou de assassínios ela os exilou, e suas estradas ficaram coalhadas de
cadáveres ao longo daquele grande êxodo, cadáveres de velhos, de mulheres, de
mães com bebês, de crianças pequenas; as lágrimas, os gritos dos fracos que ela
esmagou tão impiedosa, se tornaram os Vingadores que a levaram à ruína, e ela
caiu de sua posição de Senhora da Europa para o Poder negligenciável que é
hoje.
O Islã contraiu do Cristianismo a doença mortal da perseguição, e
esqueceu os sábios ensinamentos de Alá para seguir o mau caminho do assassínio
do infiel. O nome de Maomé, o Misericordioso, foi usado para afiar as espadas
de seus seguidores, e na Índia a queda do Império Mogul nasceu dos gritos dos
agonizantes, mortos por sua fé em Aurangzeb. Na Índia, assim como na Espanha, a
perseguição religiosa resultou em desastre político. Por isso a necessidade de
fraternidade é encarecida pela destruição que resulta da falta de fraternidade.
Uma lei da natureza é provada tanto pela destruição de tudo o que se lhe opõe
como pela permanência de tudo o que se harmoniza com ela.
A multiplicidade de credos religiosos seria uma vantagem, e não um
prejuízo, para Religião, se as religiões fossem uma fraternidade em vez de um
campo de batalhas. Pois cada religião tem uma peculiaridade própria, algo de
especial que as outras não têm para dar ao mundo. Cada religião pronuncia uma
letra do grande Nome de Deus, o Um sem outro, e este Nome só será pronunciado
quando todas as religiões emitirem a letra que lhes foi dada para emitir, em
melodiosa harmonia junto com o resto.
Deus é tão grande, tão ilimitável, que
nenhum cérebro humano, por maior que seja, nenhuma religião, por mais perfeita
que seja, é capaz de expressar Sua perfeição infinita. É preciso um universo em
sua totalidade para espelhá-Lo, ou melhor, universos incontáveis não bastam
para esgotá-Lo. Uma estrela pode falar de Sua Radiância, Ele que é o Sol de
tudo; um planeta, girando em ritmo constante, pode falar de Sua Ordem. Uma floresta
pode sussurrar Sua Beleza; uma montanha, Sua Força; um rio, Sua Vida
fertilizadora; um oceano, Sua Mutabilidade imutável; mas nenhum objeto, nenhuma
beleza de forma, nenhum esplendor de cor, nem mesmo o coração do homem onde Ele
habita, pode expressar as múltiplas perfeições deste Ser de riqueza infinita.
Em cada objeto, em cada tipo de vida, se vê apenas um fragmento de Sua Glória,
e somente a totalidade das coisas, passadas, presentes e futuras, pode
representar, com sua infinitude, a Sua Infinitude.
Da mesma forma uma religião só pode expressar alguns aspectos desta
Existência multifacetada. O que o Hinduísmo diz ao mundo? Ele diz DHARMA - lei,
ordem, crescimento harmônico e regrado, o lugar certo para cada um, o dever
correto, a obediência correta. O que diz o Zoroastrianismo? Diz PUREZA -
pensamento, palavra e ato imaculados.
O que diz o Budismo? Diz SABEDORIA - o
Conhecimento todo-abrangente, esposado ao perfeito Amor, amor ao homem, serviço
à humanidade, Compaixão perfeita, a condução do mais baixo e do mais fraco para
dentro dos ternos braços do próprio Senhor do Amor. O que diz o Cristianismo?
Ele diz AUTO-SACRIFÍCIO, e tem na Cruz seu mais caro símbolo, a lembrar que
onde quer que um Espírito humano crucifique a natureza inferior e se erga ao
Supremo, ali refulge a Cruz.
E o que diz o Islã, a mais jovem das grandes Fés
mundiais? Ele diz SUBMISSÃO - auto-entrega à Vontade única que rege os mundos;
e vê aquela Vontade em toda a parte, de modo que não pode entender as pequenas
vontades humanas que vivem senão quando elas se fundem n'Ela.
Não podemos permitir que se perca uma só destas palavras
que resumem as características de cada grande Fé; assim, mesmo reconhecendo as
diferenças entre as religiões, as reconheçamos também para podermos aprender,
antes de criticá-las. Que o Cristão nos ensine o que tem a ensinar, mas que não
se recuse a aprender de seu irmão Islamita, ou de seu irmão de qualquer outro
credo, pois cada um tem algo a aprender, e também algo a ensinar. E, em
verdade, melhor prega sua religião aquele que a torna seu poder motivador, em
amor a Deus e serviço ao homem.
Analisemos em detalhe o porquê de não devermos disputar, à parte destes
princípios gerais. Isso pode ser resumido em uma única frase: Porque todas
as grandes verdades das religiões são uma propriedade coletiva, e não pertencem
com exclusividade a nenhuma Fé. Por isso não se ganha nada de vital ao
trocarmos de religião. Não precisamos percorrer todo o campo das religiões do
mundo a fim de encontrarmos as águas da verdade. Cavemos no campo de nossa
própria religião, mais e mais fundo, até encontrarmos jorrando, pura e copiosa,
a fonte da água da vida.
Será mesmo verdadeira a frase acima, sobre a universalidade das verdades
religiosas, ou se trata apenas de palavreado? Podemos seguir quatro linhas de
estudo a fim de provarmos que é um fato: os Símbolos comuns a todas; as
Doutrinas comuns; as Lendas comuns, e a Moralidade comum a todas. Cada uma
destas linhas poderia ser uma seção de todo um livro intitulado A
Fraternidade das Religiões, mas em uma palestra, ou num artigo, elas só podem
ser abordadas superficialmente, com a esperança de que o ouvinte ou o leitor
consulte uma biblioteca depois de o esboço ter-lhe sido apresentado, e faça ele
mesmo o estudo que só foi delineado esquematicamente.
Símbolos Sagrados:
Em toda a parte, nos templos, tumbas e outros edifícios das religiões
vivas e mortas, encontram-se os mesmos símbolos.
Tomemos a Cruz. Que a Cruz foi usada em todo o mundo como
símbolo religioso muito antes do tempo de Jesus, chamado de o Cristo, já não é
matéria de debate, mas de constatação comum. A pesquisa arqueológica já
estabeleceu isso quanto ao passado, e a observação durante viagens o estabelece
quanto ao presente.
O povo etrusco já era antigo antes da Roma infante nascer.
As tumbas etruscas pertencem a um tempo tão remoto que, quando algumas delas
foram abertas em nossos dias, somente a primeira pessoa que as penetrou pôde
vislumbrar o perfil de um corpo, antes que este se desintegrasse em pó
impalpável por causa do afluxo de ar. Mas embora o corpo da pessoa virasse pó,
seus artefatos sobreviveram, e vasos junto aos pés, jarros e salvas e outros
objetos falam de sua Fé: nestes antigos exemplares de cerâmica foi traçada a
cruz, dizendo que aquele homem, cujo corpo se desvaneceu em poeira invisível,
havia morrido na certeza da vida imortal, triunfante sobre a morte.
Do Egito -
onde ela está gravada em obeliscos, pintada em câmaras mortuárias onde múmias
jazem em seus sarcófagos, afrescada em paredes de templos - ela viajou para
leste através da Assíria, Caldéia e Índia, até a China. Tabuletas assírias,
cerâmica caldéia, templos indianos e chineses, empregam a cruz como um precioso
símbolo da vida. Viajou também através do Pacífico até a América; existe no
México, onde os antigos templos maias e quíchuas estão sendo desenterrados por
exploradores incansáveis, e ali se vê mais uma vez reproduzida a cruz em sua
forma egípcia.
Atravessando novamente o Atlântico, chegou à Escandinávia, e nas
antigas sagas se ouve falar do Martelo de Thor, mais uma vez a cruz. Deixemos
os edifícios puramente religiosos e passemos ao Templo Maçônico, o tesouro do
simbolismo antigo, e ali, trazida do antigo Egito, está a Cruz sobre a Rosa - a
Cruz, símbolo da vida; a Rosa, símbolo da matéria e igualmente símbolo do
mistério. E mais, o próprio símbolo do R.W.M., gravado ou usado como jóia, não
passa da Cruz Svástika dobrada sobre si mesma até adquirir aquela forma.
Por que a Cruz é assim tão universal? Porque é o sinal do Espírito
triunfando sobre a matéria, modelando-a, conformando-a, forçando-a a receber
sua marca. É o símbolo do poder criativo, do Deus Supremo sacrificando a Si
mesmo dentro das limitações da matéria, assim como em dias mais recentes e
desespiritualizados se tornou o símbolo do poder criativo no pólo inferior do
ser, em vez de no pólo superior. Pois a cruz como símbolo fálico, como tanto se
tornou nestes últimos tempos, é apenas a cruz arrastada do céu para a terra;
assim como, em verdade, o poder criativo nos homens, animais e plantas, é o
reflexo, na matéria densa, da Vida Universal de onde todos nós nascemos.
O mais
santo dos poderes, em verdade, embora degradado aos seus usos mais vis. E a
cruz significou também, através de uma fácil transição, o seguro renascimento
da vida além da tumba ou da pira, a certeza da imortalidade. Quem, então, pode
dizer, em qualquer sentido exclusivo, "a Cruz é minha"? Minha sim,
quando incluir a tudo. Minha, quando não excluir nada.
E o duplo Triângulo, um voltado para cima e outro para baixo? Ele é tão
universal quanto a Cruz, simbolizando o entrelaçamento do Espírito e da
Matéria, do fogo e da água do mundo antigo. E a Estrela de cinco pontas, que é
a Jóia no Lótus, o Eu no homem? E a Estrela de sete pontas, e a de nove? E o
Círculo com um ponto no centro, ou com uma Cruz inscrita, ou com uma Cruz acima
ou abaixo dele? E o Olho, sozinho ou dentro de um Triângulo? E o Lótus, ou o
Lírio, de Vishnu e da Virgem Maria? E o Disco giratório, ou relâmpago, da
China, Japão, Índia, Tibete, Grécia, Roma e Escandinávia?
E a Serpente - do Bem
e do Mal - e o Dragão, e a Fruta, e a Árvore? Mas o tempo é escasso para
mencionar sequer um décimo de todos os símbolos gerais, comuns à mais remota
antigüidade da qual permanecem traços e à mais recente igreja construída pelo
mais moderno arquiteto. E isso que não falei nada do simbolismo dos ritos e
cerimônias, da tonsura, da sobrepeliz, da estola e da capa; da mão erguida com
dois dedos e o polegar se tocando, gesto usado pelo Papa e pelo sacerdote pagão;
do cerimonial dos gestos, das aspersões simbólicas - e de uma hoste infindável
de detalhes.
Não existe senão Um Deus, uma só Natureza, e uma só Religião. E o
simbolismo é a linguagem geral com que todas as religiões falam de sua origem a
partir da religião única, a RELIGIÃO-SABEDORIA, a RELIGIÃO-MUNDIAL, antiga mas
sempre nova, e com que também contam as verdades perenes sobre Deus e a
Natureza, motivo pelo qual foram instituídas pelos Irmãos Mais Velhos da
Humanidade. O simbolismo é a linguagem comum, e nenhuma religião que o emprega
- e todas o empregam - pode reivindicar ser especial.
As Doutrinas Comuns a Todas:
Passemos à análise das doutrinas que são comuns a todas
as grandes religiões, e descobriremos que as verdades fundamentais sobre onde
cada religião é erguida formam uma mesma estrutura básica.
Quais são estas doutrinas principais? A Unidade de Deus; a Trindade da
manifestação divina; as Hierarquias suprafísicas e seus mundos; a Natureza do
Homem; sua Evolução; as grandes Leis. Há outras, mas neste breve sumário devo
me limitar às mais importantes.
1 - A Unidade de Deus. Qual religião pode
reivindicar um monopólio desta doutrina? Pergunte ao Hinduísta e ele
responderá: "Só existe Um, não há outro". Pergunte a um Parsi, e ele
falará de Zarvan Akarana, o Ilimitado. Pergunte ao Judeu, e ele dirá:
"Ouve, oh Israel! O Senhor nosso Deus é Um". Pergunte ao Budista, e
ele falará do Um, incriado, universal, de onde vêm a criação e os particulares.
Pergunte ao Cristão e ele responderá "Só há um Deus". Pergunte a um
filho do Islã, e ele bradará "Só Deus é Deus, e não há nenhum outro".
Os grandes doutores do Islã e os grandes pândits Vedânta do Hinduísmo discorrem
exatamente nas mesmas linhas sobre a Existência universal única, e estes
arrazoados formam uma das pontes entre o Hinduísmo e o Islamismo por onde,
esperamos, muitos pés poderão passar em dias vindouros. As religiões, em face
destas declarações categóricas de cada uma, não podem disputar sobre a questão
da unidade. Tudo o que podem fazer é vestir a grande verdade única em roupagens
diferentes, e rotulá-la como nomes diferentes. Mas um homem permanece o mesmo
homem quando muda seu casaco, e uma verdade permanece a mesma verdade, embora
expressa em línguas diversas. Cada religião tem sua própria língua, e as
variedades de língua mascaram a identidade de crença.
2 - A Trindade da Manifestação Divina. A que religião
pertence com exclusividade o ensinamento sobre a Trindade? Neste ponto as
religiões mortas do passado reforçam as religiões vivas do presente - como de
fato o fazem todas as verdades básicas. O filósofo Hindu diz: Sat, Chit,
Ânanda; a voz popular proclama: Brahmâ, Vishnu, Mahâdeva. O Budista fala de
Amitâbha, a Luz Ilimitada, Avalokiteshvara e Manjusri; O Parsi, de Ahura-Mazda,
Spento e Angro-Mainyush, e Armaiti; o Hebreu, de Kether, Binah e Chockmah; O
Cristão, do Pai, Filho e Espírito Santo.
O Muçulmano, por razões históricas
óbvias, não se junta ao coro; ele diz "Ele não engendra, nem é
engendrado", aludindo ao ensinamento Cristão; mesmo assim no Corão rebrilham
os atributos de o Poderoso, o Misericordioso, o Sábio, tão característicos da
triplicidade do Ser. Esta triplicidade é melhor acompanhada mantendo-se claras
na mente as marcas características de cada aspecto - do primeiro, a Fonte da
Eterna Beatitude, a Auto-existência, o Poder; do segundo, a Fonte da
Consciência, de onde procedem as encarnações; do terceiro, a Mente Criativa
ativa que dá existência ao universo.
3 - As Hierarquias Suprafísicas e seus Mundos. Aqui a
diferença de língua, de expressão, mencionada antes, tem dado origem a muitas
concepções equívocas. No Ocidente, Deus e seus equivalentes sempre significam o
Um, sendo, além disso, declarado pelo Cristianismo que cada uma das Três
Pessoas da trindade é Deus, formando em sua totalidade um só Deus, e não três;
há uma unidade de natureza com uma diversidade de características. Mas esta
palavra Deus jamais é aplicada no Ocidente às vastas Hierarquias suprafísicas
que povoam os degraus superiores da escada do Ser.
Eles são os Arcanjos, Anjos,
Querubins, Serafins, Potestades, venerados, invocados, muitas vezes cultuados,
mas sempre reconhecidos como ministros, como agentes do Supremo. Estes seres
são conhecidos pelo Parsi como os Ameshaspentas e suas hostes; pelos Hebreus e
Maometanos como Anjos; pelos Hindus e Budistas como Devas - literalmente Seres
Brilhantes, um epíteto descritivo de fato adequadíssimo. Infelizmente os
Ocidentais têm traduzido a palavra Deva como Deus, e por isso temos os trinta e
três milhões de Deuses, sobre os quais os ignorantes fazem troça.
A palavra
Brahman é o verdadeiro sinônimo da palavra Deus, e Deva o é de Anjo. Todo
leitor de literatura inglesa sabe que John Bunyan, em seu Pilgrim's
Progress, usa este mesmo termo, os Seres Brilhantes, para designar os Anjos; e
esta é a palavra natural para qualquer vidente usar, tendo-os visto fulgurar
através do empíreo em suas missões de administração, de socorro e de
libertação. O Deva, para o Hinduísta e o Budista, é exatamente o mesmo que o
Arcanjo e o Anjo do Cristão e do Muçulmano, e sua existência não tira nada da
unidade de Deus em um caso mais do que no outro. Se fôssemos seguir esta linha
de argumento poderíamos da mesma forma supor que os Vice-reis, os Juízes, os
Magistrados, os Comissários, os Generais e os Almirantes do Império diminuem a
autoridade suprema do Rei-Imperador, como os Devas diminuiriam a supremacia de
Deus.
Eles apenas administram as leis da natureza, auxiliam os homens, mulheres
e crianças, salvam-nos de muitos perigos e os encorajam em muitas aflições; não
é que eles sejam Deus - a não ser que neste sentido também sejamos Deus - mas
que Deus está neles assim como em nós, e só podem entender o politeísmo dos
Hinduístas e Budistas aqueles que percebem que "é por causa do Eu que o
Deva é amado". Quão miserável, quão solitário seria o mundo se só houvesse
as inteligências do homem e de Deus! Quão vazio seria, não fosse por estes
Seres Brilhantes que ocupam cada degrau da escada acima de nós! Há uma vasta
escada de consciência desde o mineral até o Senhor do Universo, e estamos em
determinado nível nesta escada, não diferindo em essência daqueles acima ou
abaixo de nós. Os Devas não perturbam, mais que os homens, a unidade de Deus.
É fato que os Hinduístas e os Budistas, assim como os Católicos Gregos e
Romanos, tiram partido do ministério dos Anjos, e invocam estes Ministros
divinos. Por que não? O Anjo, o Deva, encarna um fragmento do Eu Universal, e a
luz de Brahman brilha através dele. Será errado que os frágeis rebentos de
piedade, amor e culto no mais ignorante, mais tolo e mais subdesenvolvido dos
filhos do Pai Universal, cresçam debaixo da forma radiosa de alguma
Inteligência benévola, mais prontamente compreensível, mais facilmente adorável
do que o Eu Onipresente? Idolatria? Ah, não! Não no mau sentido; a idolatria
errada é adorar o eu separado; a idolatria certa é adorar o Eu Universal sob
qualquer forma que estimule a inteligência, que avive o coração.
Os mundos das Hierarquias são os mundos mais sutis que o físico,
imperceptíveis pelos sentidos físicos. Os livros Hindus e Zoroastrianos falam
extensamente destes mundos e deles dão muitas descrições. O Buda nos fala que
viu estes mundos, "o mundo abaixo, com todos os seus espíritos, e os
mundos acima". Os Cristãos e Muçulmanos acreditam em um céu e um inferno,
e suas escrituras falam disso. Não vale a pena nos estendermos em fatos tão bem
conhecidos.
4 - A Natureza do Homem. O homem é divino, em sua essência mais
íntima é um Espírito, usando vestes de matéria. O Hindu proclama "Eu sou
Ele". O Budista Chinês fala do "homem verdadeiro sem posição", o
Espírito-jóia no lótus do corpo. O Fravarshi do Zoroastriano é o Âtmâ do Hindu.
O Hebreu declara "Vós sois Deuses", e o Cristão proclama exultando
que o corpo é o templo de Deus. O Muçulmano não fala tão claramente, mesmo
assim temos a imortalidade claramente atribuída ao homem, e então quando lemos
que "tudo perecerá salvo a Face de Deus" (Al-Corão, XXVIII) somos
forçados a concluir que eles também reconhecem a identidade na natureza de Deus
e do Homem.
E esta unidade transparece claramente no ensinamento Sufi: Jãmi declara:
Tu és o Ser absoluto; tudo o mais não passa de um
fantasma,
pois em Teu universo todos os Seres são um.
Tua Beleza, que cativa o mundo, a fim de expressar suas
perfeições
aparece em milhares de espelhos, mas é uma só.
No Gulshan-i-Raz lemos:
Tu és o olho da reflexão
enquanto Ele é a luz do olho...
quando olhas bem dentro da raiz da matéria,
Ele é o Vidente, e o
Olho, e a Visão.
"Às vezes se pergunta: O homem tem um Espírito?" Não, não tem.
Ele é um Espírito e possui um corpo. O corpo não possui o Espírito, mas o
Espírito possui o corpo. Ele não é dono do Espírito, mas o Espírito é o senhor
do corpo. O corpo é transitório, o Espírito é eterno; o corpo nasce e morre no
mundo; o Espírito é não-nascido, é imortal. Se alguma vez observamos um
moribundo, que conheceu sua própria natureza, e viu como o Espírito se rejubila
na vida mais vasta e potente que se abre diante de si quando é descartado o
peso da carne, devemos ter compreendido a verdade da frase que diz que não
existe tal coisa chamada morte, em qualquer sentido real do termo.
A morte é a
passagem de uma sala para outra dentro da mansão do universo; a morte é a
retirada de um pesado capote e a passagem para uma vida em traje mais ligeiro.
Na morte o homem não perde nada de seus poderes espirituais, intelectuais e
emocionais; ele não perde nada senão a carne. Nós somos Espíritos, Centelhas do
Fogo Único, Raios de um Único Sol; estamos na imagem da eternidade de Deus;
somos tão eternos quanto Ele.
5 - Sua Evolução. Aqui pode brotar uma pergunta dos lábios de
alguém: "Não se pode dizer que as religiões ensinem o mesmo a este
respeito. Como se pode reconciliar a reencarnação do Hinduísta com a criação
especial de cada Espírito do Cristão?" Obviamente não se pode; a doutrina
de uma criação especial para cada Espírito é moderna, antifilosófica e blasfema,
e completamente indefensável. Mas posso alegar que até 533 dC o Cristianismo
não negava a pré-existência do Espírito, e cabe aos Cristãos explicar por que
negaram a antiga doutrina e impuseram uma heresia ao mundo Cristão. A doutrina
da reencarnação - o desdobramento dos divinos poderes do Espírito através de
uma série de veículos cada vez mais evoluídos e melhores - é uma doutrina comum
a todas as antigas Fés.
O Hinduísmo e o Budismo a ensinam, ou mais
precisamente, fundamentam seus ensinamentos neste fato natural bem
estabelecido. Os Egípcios baseavam nela suas concepções da vida pós-morte;
Platão, Pitágoras e os mundos grego e romano a reiteravam. Os Judeus a
ensinavam, como pode ser lido em Josephus, na Kabbala, e em outros
lugares. Era a doutrina corrente no tempo de Jesus, e foi aludida por Ele em
mais de uma ocasião; diversos Padres da Igreja a ensinaram; a doutrina
permaneceu na Igreja Cristã entre algumas seitas como os Albigenses; reapareceu
com força na Igreja da Inglaterra, nos séculos XVII e XVIII, e foi ensinada por
clérigos desta Igreja assim como por leigos eruditos. Um pouco mais tarde
Wordsworth cantou:
Nosso nascer é apenas dormir, é tão-somente olvidar..
E esta alma que vive em nós, de nossa vida a estrela,
já habitou noutro lugar
e bem de longe
procede ela.
Mais uma vez, em nossos dias, esta doutrina está sendo pregada na
Cristandade por clérigos da Igreja Fundamentalista. Há uma frase, acreditada
pelos Cristãos ter sido dita por seu Mestre, que é de longe um argumento mais
persuasivo do que o que emerge do significado de textos disputados: "Sêde,
pois, perfeitos", ordenou Ele aos Seus discípulos, "assim como vosso
Pai que está no céu é perfeito". Perfeitos assim como Deus é perfeito.
Pretende-se que qualquer um de nós, frívolos, tolos, limitados, podemos - antes
que o túmulo nos receba ou o fogo nos consuma - nos tornar tão perfeitos como
Deus é perfeito, onisciente, todo-poderoso, todo-santo?
Que palavras humanas
podem abranger a descrição das perfeições do Supremo? Mesmo assim Jesus não
hesitou em dizer "Sêde perfeitos assim como vosso Pai no céu é
perfeito". Como este mandamento pode ser obedecido senão através de
muitas, muitas vidas, ao longo das quais subimos lentamente na longa escada da
perfeição?
Que nenhum Cristão, pois, deixe de reivindicar sua esplêndida herança
como filho de Deus: que ele reclame seu direito de nascença de reproduzir a
semelhança divina em si mesmo.
A posição do Muçulmano quanto à reencarnação é duvidosa: alguns
sustentam que ela pode ser inferida do Corão, mas certamente ela não faz
parte da educação religiosa Muçulmana comum. Mas no século XIII dC temos o
dervixe Jelâl, cujos ensinamentos são preservados no Mesnavi, e ele diz:
Eu morri como mineral, e me tornei uma planta.
Eu morri como planta, e reapareci em um animal.
Eu morri como animal, e me tornei um homem.
Por que então devo temer? Quando é que me tornei menor ao
morrer?
Da próxima vez eu morrerei como homem,
para que possa ganhar asas de anjo.
E mesmo do anjo devo esperar avanço; todas as coisas
perecerão, salvo Sua Face.
Mais uma vez devo alçar meu caminho acima dos anjos;
E me tornar o que não cabe na imaginação,
e por fim me tornarei nada, nada; pois as cordas da harpa
cantaram para mim:
"Em verdade
havemos de voltar para Ele".
A posição do Zoroastriano também é dúbia neste ponto - alguns Parsis a
afirmam, outros a negam; e somente podemos apontar para o fato de que o
Zoroastrianismo é "uma religião em fragmentos", e dizer que esta
doutrina é ensinada nos escritos gregos e neoplatônicos, que parecem reproduzir
os ensinamentos Persas, depois da destruição da biblioteca de Persépolis por
Alexandre.
6 - As Grandes Leis. Por "Grandes Leis" quero significar a Lei do Karma, ou de causa e efeito; e a Lei do sacrifício, ou de propagação e manutenção da vida.
A Lei do Karma é apresentada pela ciência nas seqüências
invariáveis que ela chama de leis da natureza; o teólogo a chama de justiça
divina. É a rocha sobre onde tudo é construído, o verdadeiro sustentáculo de
todo o pensamento e de toda atividade. Ela prevalece em todos os mundos, densos
e sutis; é uma lei universal. É bem clara no versículo Cristão: "Não vos
enganeis, de Deus não se zomba; o que quer que um homem plante, aquilo é o que
colherá" (Gálatas, VI, 7). Diz Buda: "Se um homem fala ou age com
pensamento maligno, a dor o segue, assim como a roda segue as pegadas do boi
que puxa o carro... Se um homem fala ou age com um pensamento puro, a
felicidade o segue como a sombra que jamais o abandona". O Hinduísmo abunda
em tais passagens, e elas podem ser colhidas em todas as escrituras.
A Lei do Sacrifício é a declaração do fato de que tudo o
que vive, vive pelo sacrifício, forçoso ou voluntário, de outras vidas; que a
Vida emanada do Supremo é o esteio do mundo. Nos reinos inferiores o sacrifício
é compulsório - os minerais se desintegram para que a planta possa viver; as
plantas, para que animais e homens vivam. No reino humano, com o grande
crescimento da inteligência, se torna possível a associação voluntária da
vontade individual com a Vontade universal. À medida que isso se torna mais
completo se desdobra a vida espiritual, e por fim se realiza plenamente. O
símbolo da Cruz encarna, para o Cristão, a vida ideal de sacrifício; e todo
aspirante a Brahman, a Buda, ou a Cristo, trilha o Caminho da Cruz.
O estudante pode expandir este breve resumo em um livro, e quanto mais
ele estudar, mais claramente transparecerá a Fraternidade de todas as
Religiões, expressa através de suas Doutrinas Comuns. Temos ainda de considerar as Lendas Comuns e a Ética Comum a todas elas.
As Lendas Comuns:
Há certas histórias, que se contam sobre os Fundadores
das Religiões, cujo perfil é semelhante em todas elas; esta identidade de
linhas gerais se deve ao fato de que cada Fundador é visto como uma encarnação
do Logos, e que o símbolo do Logos, em todos os credos, é o Sol.
De fato o Sol - a fonte da vida e da luz para os mundos
deste sistema - é considerado nas antigas religiões como sendo o corpo do
Logos, Sua forma manifesta no plano da matéria física, ao passo que nas
religiões modernas o Sol é usado como símbolo do Senhor onipresente, imagem
perfeita para Aquele que sustenta todos os mundos. A sempre repetida lenda do
Sol, a história anual de nossa Terra, é a verdade fundamental, é o mito
estruturador da manifestação física de todo Fundador de uma grande religião, e
Suas vidas humanas sempre repetem o drama do Sol sobre o palco do mundo.
Esta declaração não
vale quanto à religião do Islã, e a razão é evidente. O grande Profeta da
Arábia é considerado pelos seus seguidores como sendo puramente humano, e não
como uma encarnação do Logos, e eles pensam corretamente; mas em todas as
religiões onde o Fundador é visto como uma encarnação divina reaparece o perfil
do grande mito. Este fato tem sido usado como argumento para provar que os
Fundadores não possuem existência histórica, mas isso é um equívoco. A vida
histórica contém os elementos que reencarnam o mito, e da figura histórica
fulgem os raios do Sol divino; não é que seja o Sol o Fundador, mas que ambos,
Sol e Ele, são representantes físicos da vida central de um sistema mundial, e
aquilo que o Sol é para seu sistema o Fundador é para Sua religião.
O Mitra da Pérsia tinha como ícone o Touro, assim como Osíris no Egito,
porque o Touro era o signo zodiacal do equinócio vernal - a Ressurreição -
quando a religião se estabeleceu; Oannes na Caldéia tinha o Peixe como símbolo,
pela mesma razão; Júpiter era Júpiter Ammon; e Jesus era o Cordeiro, pela mesma
razão.
O Fundador Divino nasce em um lugar secreto, assim como o fez Shri Krishna
em uma prisão, e o Senhor Mitra em uma caverna, e o Senhor Jesus em uma gruta -
mudada para estábulo nos relatos canônicos. Os mistérios de Adônis
antes eram celebrados, diz-se, também numa gruta. O nascimento é no solstício
de inverno, e é sempre acompanhado por eventos maravilhosos, que variam
conforme a nação. Os Devas fazem chover flores sobre Devâki, a mãe, e sobre seu
Filho Divino; os Anjos enchem o ar com suas canções quando Maria, a Mãe Virgem,
dá à luz o Divino Infante; vozes divinas cantam que o Senhor nasceu quando Neith,
a Virgem Imaculada, dá nascimento a Osíris, o Salvador; quando nasce Zoroastro,
a luz de seu corpo enche o aposento com sua radiância; os Devas cantam
jubilosos quando Buda nasce, e nos escritos chineses, embora não nos indianos,
diz-se que ele nasce de uma Mãe Virgem, Mâyâ, encoberta por Shing-Shin, o
Espírito.
O nascimento de diversos destes Seres foi anunciado pelo aparecimento
de uma estrela. Krishna e Jesus foram ambos ameaçados de morte na infância, um
por Kamsa, o outro por Herodes. Nârada proclama a natureza de Krishna infante,
Asita fala das futuras glórias do pequeno Buda, Simeão saúda o Jesus bebê como
a salvação do mundo. Buda é tentado por Mâra, e Jesus por Satã. Todos estes
Grandes Seres curaram doentes, endireitaram deformados, ressuscitaram mortos.
Assim se assemelhando em suas vidas, os Fundadores das Fés mundiais se
assemelharam também em suas mortes. Sua morte é violenta, de qualquer forma que
ocorreu; e sempre emergiu da idéia de sacrifício, o sacrifício do Logos por
quem os mundos foram criados, como consta no Purusha Sukta do Rig-Veda. Desta
morte Eles se erguem triunfantes, ascendendo ao céu. Osíris é assassinado, Seu
corpo é desmembrado, como o do Purusha do Veda; mas Ele se ergue e reina.
Thammuz é lamentado morto, e festejado ressurrecto. A história de Adônis é uma
réplica do Thammuz sírio. Krishna é alvejado por uma flecha de um caçador, e
sobe para Seu próprio mundo. Mitra é morto, e ascende da morte, para a salvação
de Seu povo. Jesus é morto, mas se ergue e ascende aos céus. E todas as mortes
e ressurreições recaem no equinócio vernal.
Estas inumeráveis semelhanças não podem surgir do acaso, são sinais de
uma trajetória comum, reaparecendo continuamente. As semelhanças superficiais
saltam aos olhos à medida que folheamos as páginas das escrituras mundiais, e
quanto mais estudamos, mais as lendas comuns se revelam os sempre repetidos
contos de fadas da Lenda Mundial.
A Ética Comum:
Que uma moralidade sublime seja uma posse comum a todas
as Religiões Mundiais é um fato estabelecido bem demais para necessitar
discussão. Tudo o que é preciso aqui é fazer algumas poucas citações, o
bastante para indicar os ricos veios de metal de onde estas inestimáveis pepitas
são retiradas.
Devolver Bem pelo
Mal. O Manu diz: "Com o perdão do mal o sábio é purificado";
"Não vos enfureçais com o homem furioso; se vos falam asperamente,
respondei com suavidade". No Sâma-Veda: "Faz a trocas difíceis
de fazer: paz pela ira; verdade pela falsidade". O Buda ensina: "A um
homem que tolamente me prejudica, lhe devolvo a doçura de meu amor
incondicional; quanto mais ele me der mal, mais bem lhe devolverei";
"Que um homem vença a raiva com o amor; que vença o mal com o bem; que
vença a cobiça com a liberalidade, a mentira com a verdade"; "O ódio
não cessa jamais com ódio; o ódio cessa com o amor". Lao-Tsé diz: "Ao
bom dou bondade; ao não-bom também dou bondade. Ao fiel dou fidelidade; ao
não-fiel também dou fidelidade; a Virtude é fiel. Recompensa o mal com
gentileza". Confúcio respondeu a um questionador:
"O que não queres
para ti não o faças a outrem; quando estiveres trabalhando para outros, que
seja com o mesmo zelo como se fora para ti mesmo".
Jesus disse: "Amai
vossos inimigos, abençoai os que vos amaldiçoam, fazei o bem aos que vos
odeiam, e rogai por aqueles que vos desprezando abusam de vós e vos
perseguem".
Humildade e Ternura. Lao-Tsé diz: "Com vigilância constante
sobre a natureza passional, e com ternura, é possível se tornar uma criancinha.
Afastando a impureza do olho oculto do coração é possível se tornar imaculado.
Há uma pureza e quietude com as quais podemos reger todo o mundo. Por preservar
a ternura eu me torno forte".
"O sábio... coloca a si mesmo por último,
mesmo assim ele é o primeiro; ele abandona a si mesmo, mas mesmo assim é
preservado. Não vem isso de ser altruísta? Por isso ele preserva intacto o
auto-interesse. Ele não se exibe, e portanto brilha. Ele não se autopromove, e
por isso é distinguido. Ele não louva a si mesmo, e por isso tem mérito. Ele
não louva a si mesmo, e assim permanece no alto".
Jesus ensina: "A
não ser que vos torneis como crianças pequenas não podereis entrar no reino dos
céus"; "Aquele que exaltar a si mesmo será rebaixado, e aquele que se
humilhar será exaltado".
A Retidão é mais Importante que as Formalidades. O Manu declara a
lei da ação "mental, verbal e corpórea": "desta ação tríplice,
saiba o mundo que é o coração o seu instigador";
"A um homem
contaminado pela sensualidade, nem os Vedas, nem a liberalidade, nem os
sacrifícios, nem as observâncias, nem as austeridades, lhe trarão
felicidade".
O Buda diz: "É o coração da fé acompanhando as boas
ações o que como que espalha uma sombra benéfica do mundo dos homens ao mundo
dos anjos". Jesus lamentou: "Vós pagais dízimo da hortelã, do endro,
do anis e do cominho, e omitistes os preceitos mais importantes da lei -
justiça, misericórdia e verdade".
As
Sefirats são explicadas do seguinte modo, de acordo com Eliphas Levi:
(Evolução do Homem)
1
- Kether - A Coroa, o poder equilibrante ;
2
- Hocmah - A Sabedoria, equilibrada na sua ordem imutável pela
iniciativa da Inteligência ;
3
- Binah - A Inteligência ativa, equilibrada pela Sabedoria ;
4
- Chesed - A Misericórdia, segunda concepção da
Sabedoria, sempre benévola porque é forte ;
5
- Geburah - O Rigor necessitado pela própria Sabedoria e pela
Bondade. Sofrer o mal é impedir o bem.
6
- Tiphereth - A Beleza, concepção luminosa dos equilíbrio nas formas,
o intermediário entre a coroa e o reino, o princípio mediador entre o criador e
a criação ;
7
- Netsah - A Vitória, triunfo eterno da Inteligência e da Justiça ;
8
- Hod - A Eternidade das vitórias do espírito sobre a matéria, do
ativo sobre o passivo, da vida sobre a morte ;
9
- Iesod - O Fundamento, isto é, a base de toda crença e de toda a
verdade, o Absoluto ;
10 - Malkuth -
O Reino, o Universo, a Criação, o espelho de Deus, a Razão Suprema.
************
Eu poderia prosseguir assim citando texto após texto
sobre cada virtude, e da árvore de cada religião se poderia retirar folhas
semelhantes. Pois todas ensinam as mesmas verdades; todas são canais da vida
única; todas as escrituras repetem a mensagem única, porque só existe uma única
grande Fraternidade de Mestres, e cada um que dela procede fala a mesma língua.
Daí que as religiões não são rivais, e não devem odiar-se mutuamente.
Elas são filhas de um mesmo pai, proclamando para o benefício da humanidade as
verdades que aprenderam na casa ancestral. Existe uma Fraternidade de Religiões
real, e todos os que estudam as religiões do mundo devem reconhecer a
identidade de seus ensinamentos. Para quem estuda Mitologia Comparada, todas as
religiões são igualmente falsas, e são frutos da ignorância. Para um Teosofista
todas as religiões são verdadeiras, e são o fruto da SABEDORIA. Toda religião
tem o mesmo direito a todas as verdades, e nenhuma pode reivindicar nada como
seu exclusivamente, "meu, não teu nem dele". Antes a frase verdadeira
é "meu, porque é teu e é também dele".
Há uma só Religião - o conhecimento de Deus, e todas as religiões são
ramos desta mesma árvore, a Árvore da Vida, cujas raízes estão no céu enquanto
seus ramos se esparramam no mundo dos homens. A raiz celeste é a SABEDORIA -
não a fé, não a crença, não a esperança, mas o conhecimento do Deus que é a
Vida Eterna. De qualquer um de seus ramos uma pessoa pode colher uma folha para
a cura das nações. Que ninguém negue o que para outra pessoa é verdade, pois
ela pode ver uma verdade que outros não conseguem ver; mas que ninguém tente
impor sua própria visão sobre outros, pois pode cegá-los ao forçá-los a ver o
que não está dentro de seu campo de visão.
Só existe um Sol, e cada energia em
nossa Terra não passa de alguma forma de força solar; e assim como um só Sol
alimenta toda a Terra, um só Eu brilha em todos os corações. Só existe uma
blasfêmia - a negação de Deus no homem. Só existe uma heresia - a heresia da
separatividade, que diz: "Sou outro além de ti, nós não somos um só".
Para a redenção do mundo nós precisamos mais do que altruísmo, por mais nobre
que ele seja. Precisamos aprender a anulação do eu individual, o sacrifício, a
auto-entrega, mas não estaremos firmes no Um antes de podermos dizer "Não
há outros; é o Eu em tudo". Quando todos os homens disserem isso o mundo
conhecerá sua Era Dourada: quando um homem diz isso através de sua vida, sua
presença é uma bênção onde quer que ele vá. Somos irmãos, mas mais que irmãos.
Os irmãos têm apenas um mesmo pai; nós temos um Eu comum. Em tudo à nossa volta
vejamos a Glória do Eu, e lembremos que negar o Eu no mais baixo é negá-lo em
nós mesmos e em Deus.
Fontes:
Nenhum comentário:
Postar um comentário