No seio excelso do Criador Incriado, nos cimos da
evolução, pontificam os Cristos Divinos, os Devas Arcangélicos, cuja sublime
glória e soberano poder superam tudo quanto de magnificente e formidável possa
imaginar, por enquanto, a mente humana. São eles que, sob a inspiração do
Grande Arquiteto do Universo, presidem, no infinito, à construção, ao
desenvolvimento e à desintegração dos orbes, fixando-lhes as rotas, as leis
fisioquímicas e biomatemáticas e gerindo seus destinos e os de seus habitantes.
Os Cristos, Espíritos Puríssimos, não encarnam. Não têm mais nenhuma afinidade essencial com qualquer tipo de matéria, que é o mais baixo estágio da energia universal. Para eles, matéria é lama fecunda, que não desprezam, sobre a qual indiretamente trabalham por meio dos seus prepostos, na sublime mordomia da Vida, mas coisa com que não podem associar-se contextualmente, muito menos em íntimas ligações genéticas.
Eles podem ir a qualquer parte dos Universos e atuar onde lhes ordene a Vontade Todo-Poderosa de Deus Pai; podem mesmo mostrar-se visualmente, por imenso sacrifício de amor, a seres inferiores e materializados, indo até ao extremo de submeter-se ao quase aniquilamento de tangibilizar -se à vista e ao tato de habitantes de mundos inferiores, como a Terra; mas não podem encarnar, ligar-se biologicamente a um ovo de organismo animal, em processo absolutamente incompatível com a sua natureza e tecnicamente irrealizável.
A possibilidade de violentação das leis naturais é relativa e não chega até o ponto de permitir que um organismo celular de matéria densa resista, sem desintegrar-se instantaneamente, à mais abrandada vibração bioeletromagnética de um Espírito Crístico. Se é impraticável a um Espírito humano, inteligente e dotado de consciência, encarnar em corpo de irracional, por completa impossibilidade biológica de assimilação mútua entre a matriz perispirítica e o óvulo animal de outra espécie, para não falarmos também das impossibilidades psíquicas de semelhante absurdo de retrogradação evolutiva, muito menos poderia um Cristo encarnar em corpo humano terrícola.
A distância evolucionária que separa um orangotango de um homem terrestre é bem menor que aquela que medeia entre um ser humano terrestre e um Cristo Divino.
Para apresentar-se visível e tangível na superfície da crosta terráquea, teve o Cristo Planetário de aceitar voluntariamente intraduzível tortura cósmica, indizível e imensa, ainda que quase de todo inabordável ao entendimento humano. Primeiro, obrigou-se à necessidade de abdicar, por espaço de tempo que para nós seria longuíssimo, da sua normal ilimitação de Espírito cósmico e ao seu trono no Sol, sede do Sistema, transferindo-se do centro estelar para a fotosfera, onde lhe foi possível o primeiro e doloroso mergulho na matéria, por meio do revestimento consciente do seu mento-espírito com um tecido energético de fótons.
Depois, teve de imergir no próprio bojo do planeta Terra, em cuja ionosfera utilizou vastos potenciais eletromagnéticos para transformar seu manto fotônico em léptons e em quarks formadores de mésons e de bárions, estruturando átomos ionizados.
Finalmente, concluindo a dolorosíssima operação de tangibilidade, revestiu esse corpo iônico com delicadíssima túnica molecular, estruturada à base de ectoplasma, combinado com células vegetais, recolhidas principalmente (como já captou a intuição humana) de vinhedos e trigais.
Embora nossas toscas palavras e rudes considerações não possam, de nenhum modo, dar a mais pálida ideia do imensurável sacrifício do Cristo Divino para materializar-se entre os homens, convém aqui refletirmos um pouco sobre o que sabe a experiência humana, no campo dos tormentos a que está exposta no mundo a sensibilidade apurada.
O que avulta de pronto à nossa assustada percepção é o
superlativo massacre de sensibilidade que se evidencia no fato de um Ser, não
apenas de super-requintada, mas de divina delicadeza sensorial, expor-se ao
inferno de baixas, odientas e agressivas vibrações terrestres, para respirar e
agir, por inexcedível amor, no clima superlativamente asfixiante de nossas
humanas iniquidades.
Em face do muito de sublime já escrito na vasta
literatura espírita-cristã, sobre a dor moral, em suas variadíssimas
expressões, não examinaremos aqui esse primordial e nobilíssimo aspecto do sacrifício
messiânico, mas insistiremos em chamar a atenção para a terrível realidade
psicofísica do maior de todos os dramas de dor, que foi a materialização
crística neste mundo de trevas e maldade; dor real inimaginável, jamais
sofrida, na Terra, por qualquer Ser vivente, nem antes nem depois do Filho de
Maria.
Há, porém, agêneres e agêneres. Tais seres são, por
definição, criaturas fisiologicamente não geradas como o normal dos encarnados.
Noutras palavras, seres que se mostram materializados aos olhos humanos, às
vezes por longos períodos, que são sempre interrompidos, necessariamente, por
variáveis interregnos de tempo. Em casos especiais, a frequência com que
aparecem dá uma poderosa impressão de continuidade.
Existem, contudo, outros seres, muito peculiares, que não
são propriamente agêneres, mas que pertencem muito mais ao plano extrafísico do
que ao plano que chamamos físico. Trata-se de criaturas sem dúvida humanas, mas
cuja ligação biopsicofisiológica com a matéria densa a que chamamos carne é a
mínima possível. São Espíritos sublimes, de imensa superioridade evolutiva, que
só encarnam na Terra em raras e altíssimas missões, de singularíssima
importância para a evolução da humanidade.
O maior desses Espíritos foi a Mãe Maria de Nazaré, a Virgem Excelsa, Rainha dos Anjos, cuja presença material, na Crosta Terráquea, foi indispensável para a materialização do Messias Divino entre os homens. Coube a ela fornecer ao Mestre a base ectoplasmática necessária à sua tangibilização, servindo ainda de ponto de referência e de equilíbrio de todos os processos espirituais, eletromagnéticos e quimiofísicos que possibilitaram, neste orbe, a Presença Crística.
Tudo o que o Senhor Jesus sentiu, na sua jornada messiânica, repercutiu diretamente nela, na Santa das Santas, na Augusta Senhora do Mundo. Estrela Divina do Universo das Grandes Almas, também ela teve de peregrinar do paraíso excelso de sua felicidade para o nosso vale de lágrimas, a fim de ajudar e servir a uma humanidade paupérrima de espiritualidade, da qual se fez, para sempre, a Grande Mãe, a Grande Advogada e a Grande Protetora.
O Cristo-Jesus, Senhor da Verdade e da Inteireza, foi o
único Espírito absolutamente completo, com todas as suas faculdades plenamente
desenvolvidas e em perfeito funcionamento, que se materializou totalmente na
Terra, assumindo por inteiro a biologia e a morfologia de um homem, com tudo o
que compõe um organismo humano, sem faltar absolutamente nada, personificando o
modelo físico e espiritual, perfeito por excelência, do Homo sapiens, na futura
e mais elevada conformação biomento-física que atingirá quando chegar ao seu
mais alto grau de evolução terrestre. Foi por essa razão que Jesus se
intitulou, com a mais plena verdade e a mais inteira justiça, o Filho do Homem.
Não o fez por mera força de expressão; disse uma soleníssima verdade, da mais
extraordinária significação, pois como Homem Ideal, perfeito e íntegro, ninguém
teve, como ele, neste mundo, todos os sentidos funcionando em grau máximo. Sua
percepção, mesmo se quiséssemos vê-la do exclusivo ponto de vista da
organização psicossomática humana, atingiu o mais alto nível, que outro ser
humano, ou de aparência humana, jamais conseguiu.
Teve, portanto, sobradas razões para exclamar, como
registrou o evangelista Marcos (9:19): "ó geração incrédula e perversa,
até quando me fareis sofrer?" O sofrimento experimentado por Jesus, na
preparação e no decurso de seu messianato, não teve, não tem e não terá
similar, de qualquer ângulo que seja analisado, inclusive no que concerne à dor
física, tal como a entendemos, em vista da sua inigualável sensibilidade
orgânica.
Completamente irreal e terrivelmente injusto é, pois, o argumento de embuste, largamente usado pelos que não compreendem a absoluta impossibilidade da encarnação comum de um Ser Crístico e só conseguem ver uma grosseira pantomima na capacidade de sofrer de um agênere. A verdade, como vemos, é bem outra, incomparavelmente bela, justa, santa, lógica e real; a realidade do sublime amor daquele que é, de fato, o Caminho, a Verdade e a Vida.
Blaise Pascal, espírito.
Psicografia por Hernani Trindade Sant'anna. FEB, 1979.