24 de fevereiro de 2016

DESVENDADO A OBRA: MORAL E DOGMA DE ALBERT PIKE – Parte II



INTRODUÇÃO: 

O livro “Moral e Dogma”, de Albert Pike, é, sem dúvida alguma, o livro maçônico mais conhecido dos maçons… e dos antimaçons! Abrangendo a compreensão pessoal do autor (e não oficial da Maçonaria) sobre os ensinamentos morais e espirituais dos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, observa-se nessa obra o vasto conhecimento que Albert Pike detinha sobre história, teologia e línguas. Porém, Moral e Dogma também serviu de terreno fértil para as acusações de fanáticos religiosos. Citações inventadas, citações de outras obras, citações modificadas e outras mal interpretadas são creditadas a Moral e Dogma, e se multiplicam e se perpetuam em livros, cartilhas e websites que atacam a Ordem Maçônica, acusando-a de satanismo, politeísmo e outras coisas mais. O presente estudo analisará as passagens do livro Moral e Dogma que constam as palavras “Lúcifer”, “Satanás”, “demônio” ou “diabo”, realizando a devida interpretação de tais passagens no contexto em que estão inseridas.


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CAPÍTULO XIX

“O Apocalipse é, para aqueles que recebem o Grau XIX, a Apoteose daquela Sublime Fé que aspira a Deus somente, e despreza todas as pompas e obras de Lúcifer. Lúcifer, o portador da Luz! Nome estranho e misterioso a dar ao Espírito das Trevas! Lúcifer, Filho da Manhã! É ele quem traz a luz, e com seus esplendores intoleráveis engana almas fracas, sensuais ou egoístas? Não duvide! Tradições estão cheias de Revelações Divinas e Inspirações: e Inspiração não é de uma idade nem de um credo. Platão e Philo, também, foram inspirados.” 

“É por Sua Palavra pronunciada que Deus se revela a nós, não só na criação visível e invisível, mas intelectual, mas também em nossas convicções, consciência e instintos. Por isso, é que certas crenças são universais. A convicção de todos os homens que Deus é bom levou a uma crença em um diabo, o Lúcifer caído ou portador de Luz, Shaitan, o adversário, Ahriman e Tuphon, como uma tentativa de explicar a existência do Mal, e torná-lo compatível com o Infinito poder, Sabedoria, e benevolência de Deus.”


Esse trecho é um dos preferidos dos fanáticos de plantão, que aproveitam da forma romanceada e formal com que Albert Pike escrevia e, retirando totalmente o trecho do seu contexto histórico e literário, tratam de realizar interpretação torta e equivocada, explorando ainda o pouco conhecimento que os leigos têm da Bíblia. Albert Pike, cristão como era, afirma que sim, Lúcifer existe, não sendo apenas uma tradição antiga e religiosa. Para tanto, defende que tradições estão cheias de revelações divinas e inspirações, independente de época e credo, dando como exemplos Platão e Philo. 


Não há no texto qualquer exaltação a Lúcifer. Pelo contrário: todos os termos usados são bíblicos. Lúcifer significa “Portador da Luz” (Lucem Ferre), enquanto que a própria Bíblia se refere a Lúcifer como “Estrela da Manhã” e “Filho da Manhã” (Isaías 14:12). Já o termo “esplendor intolerável” é comumente usado para se referir aos arcanjos: Miguel, Gabriel, Rafael e Lúcifer (tradição judaico-cristã), além de Azrael (tradição islâmica).



CAPÍTULO XXIII



“Com suas tendências naturais, o sacerdócio, classe seleta e exclusiva no Egito, Índia, Fenícia, Judéia e Grécia, bem como na Grã-Bretanha e em Roma, e onde mais os Mistérios eram conhecidos, fez uso desses para construir mais largo e mais alto a estrutura de seu próprio poder. A pureza de nenhuma religião continua por muito tempo. A classe e suas dignidades tiveram êxito com a simplicidade primitiva. Sem escrúpulos, homens vãos, insolentes, corruptos e mercenários colocam o uniforme de Deus para servir ao Diabo; e luxo, vício, intolerância e orgulho destituem frugalidade, força, gentileza e humildade, e mudam o altar onde deveriam estar servos, para um trono onde eles reinam.”


Que porrada, hein? Para um livro de 1871, a mensagem se encaixa perfeitamente nos dias atuais, quando é comum escândalos envolvendo o abuso, a luxúria e diferentes tipos de delitos de sacerdotes das mais diversas igrejas.



CAPÍTULO XXV



“Os assírios, os imperadores de Constantinopla, os partos, citas, saxões, chineses e dinamarqueses traziam a serpente como um padrão, e entre os despojos tomados por Aureliano de Zenóbia eram essas normas, Persici Dracones. Os persas representaram Ormuzd e Ahriman por duas serpentes lutando pelo ovo mundano. Mitra é representado com uma cabeça de leão e corpo humano, cercado por uma serpente. Na Sadder está este preceito: “Quando você matar serpentes, você vai repetir o Zend-Avesta, e daí você obterá grande mérito, pois é o mesmo que se você tivesse matado tantos demônios.””
Essa passagem faz parte do Capítulo que trata do grau de “Cavaleiro da Serpente de Bronze”. Pike então comenta sobre os diferentes povos que tiveram a serpente como um importante símbolo, e da ligação simbólica que a serpente tem com o dragão em muitos desses. O “Sadder”, citado por Pike, é um dos livros sagrados dos antigos persas.



CAPÍTULO XXVI



“Para cada Maçom, a Justiça Infinita e benevolência de Deus dá ampla garantia de que o Mal acabará por ser destronado, e o Bem, o Verdadeiro, reinará triunfante e eterno. Isso ensina que o Mal, a dor e a tristeza existe como parte de um plano sábio e benevolente, e que todas as partes trabalham em conjunto sob o olhar de Deus em busca de um resultado que deve ser a perfeição. Se a existência do mal é justamente explicada neste credo ou em que, por Typhon, a Grande Serpente, por Ahriman e seus exércitos de espíritos maus, pelos Gigantes e Titãs que lutaram contra o Céu, pelos dois co-existentes Princípios de Bem e Mal, pela tentação de Satanás e da queda do homem, por Lok e a serpente Fenris, está além do domínio da Maçonaria decidir. Também não é da sua competência determinar como o triunfo final da Luz e da Verdade e do Bem, sobre as trevas, o erro e o mal, será alcançado, nem se o Redentor, almejado por todas as nações, realmente apareceu na Judéia, ou ainda está por vir.”



Um belo parágrafo sobre a universalidade da Maçonaria, principalmente nas questões dogmáticas. Pike afirma que a Maçonaria crê na prevalência do Bem sobre o Mal, mas que não entra no mérito de quando, como e por quem se dará isso, algo fora de sua competência.


“Com os Priscilianistas havia dois princípios, um a divindade, outro a matéria primitiva, a escuridão; ambos eternos. Satanás é o filho e senhor da matéria, e os demônios secundários, as crianças da matéria. Satanás criou e governa o mundo visível. Mas a alma do homem emana de Deus, e é da mesma substância que Deus. Seduzido pelos espíritos malignos, ele passa por vários corpos, até que, purificado e reformado, eleva-se a Deus e é reforçado pela sua luz. Estes poderes do mal mantém a humanidade em penhor, e para resgatar desse compromisso, o Salvador, o Cristo Redentor, veio e morreu na cruz da expiação, encerrando a obrigação escrita. Ele, assim como todas as almas, era da mesma substância que Deus, uma manifestação da divindade, não formando uma segunda pessoa; nascituro, como a Divindade, e nada mais do que a Divindade sob outra forma.”



Pike se dedica a abordar o tema da luz sobre as trevas nas diferentes religiões, vertentes e épocas. Nesse trecho em particular, Pike disserta sobre a visão dos Priscilianistas sobre os princípios de luz e trevas. Os Priscilianistas eram os seguidores da doutrina cristã primitiva pregada por Prisciliano, a qual foi condenada em vários concílios dos primeiros séculos da era cristã. Seus seguidores foram perseguidos e a doutrina desapareceu.




CAPÍTULO XXVIII



“Os hebreus, pelo menos após o seu regresso do cativeiro persa, tiveram a sua Divindade boa e o Diabo, um Espírito mau e mal-intencionado, sempre contra Deus, e Chefe dos Anjos das Trevas, como Deus era daqueles de luz. A palavra “Satã” significa, em hebraico, simplesmente, “O Adversário”. Os caldeus, diz Plutarco, tiveram suas estrelas do bem e do mal. Os gregos tiveram seu Júpiter e Plutão, e seus Gigantes e Titãs, a quem foram atribuídos os atributos da serpente com que Plutão ou Serápis foi cercado, e a forma que foi assumida por Typhon, Ahriman, e Satanás dos hebreus. Cada povo tinha algo equivalente a este.”


“Assim, a Balança, o Escorpião, a Serpente de Ophiucus, e o dragão das Hespérides tornaram-se sinais malévolos e os gênios do mal, e toda a natureza foi dividida entre os dois princípios, e entre os agentes ou causas parciais subordinadas a eles. Como Michael e seus Arcanjos, e Satanás e seus compadres caídos. Daí as guerras de Júpiter e os gigantes, em que os Deuses do Olimpo lutaram ao lado da Luz, Deus, contra a progênie escura da terra e do Caos: uma guerra que Proclo considerou como um símbolo da resistência oposta pela matéria escura, caótica, e a força ativa e beneficente que lhe confere organização, uma ideia que, em parte, aparece na velha teoria de dois princípios, um inato na substância ativa e luminosa do céu, e o outro na substância inerte e escura de matéria que resiste à ordem.”


Aprofundando no tema de luz e trevas, Pike explora a ideia da dualidade das forças, sua polarização e diferentes personagens que ilustraram seus extremos.



CAPÍTULO XXX



“Comentários e estudos têm sido multiplicados sobre a Divina Comédia, a obra de Dante, e ainda ninguém, tanto quanto sabemos, apontou seu caráter especial. O trabalho do grande Ghibellin é uma declaração de guerra contra o Papado, por revelações ousadas dos Mistérios. O épico de Dante é Joanita e gnóstico, um pedido audacioso, como o do Apocalipse, das figuras e números da Kabalah para os dogmas cristãos, e uma negação do segredo de cada coisa absoluta nesses dogmas. Sua viagem através dos mundos sobrenaturais é realizado como a iniciação nos mistérios de Elêusis e Tebas. Ele foge do abismo do inferno sobre a porta de que a frase de desespero foi escrita, invertendo as posições da cabeça e pés, ou seja, ao aceitar o oposto do dogma católico, e então ele retorna à luz, usando o próprio Diabo como uma escada monstruosa. Fausto sobe para o céu, pisando a cabeça de Mephistopheles vencido. O inferno é intransponível para aqueles que só não sabem como voltar dele. Nós nos libertamos da escravidão pela audácia.”


O 30o grau, tratado no Capítulo XXX, tem como pano de fundo a história dos cavaleiros templários. Não é por acaso que Pike menciona a Divina Comédia, reforçando a conhecida relação entre Dante, sua obra, e os templários. E assim como o grau realiza uma crítica à corrupta Igreja Católica da Idade Média, A Divina Comédia faz o mesmo.



CAPÍTULO XXXII



“A possibilidade de equilíbrio nos prova que os nossos apetites e sentidos também são forças dadas a nós por Deus, para fins de bondade, e não frutos da malignidade de um Diabo, a serem detestados, mortificados, e, se possível, tornados inertes e mortos. Eles nos são dados a ser o meio pelo qual deve ser reforçados e incitados os grandes e bons feitos, e devem ser usados com sabedoria, e sem abuso, para serem controlados e mantidos dentro de limites devidos pela Razão e do Senso Moral, para serem instrumentos úteis e servos, e não é permitido que se tornem os gestores e mestres, usando o nosso intelecto e razão como instrumento de base para a sua gratificação.”


Nessa passagem, Pike defende que os apetites e sentidos não são coisas malignas, como querem alguns, mas presentes de Deus e, como tal, devem ser usados em boas ações, com moderação, de forma racional e moral. Essa “gestão dos apetites” é questão sempre discutida na teologia, visto os apetites facilitarem uma inversão de prioridades e permitirem que os desejos prevaleçam sobre a moral e a razão.



CONCLUSÕES



Moral e Dogma é uma obra com profundo conteúdo teológico, inclinada ao dualismo próprio do Zoroastrismo e das religiões tidas como abraâmicas, influenciadas por esse. Na verdade, o dualismo está presente em praticamente todas as religiões e culturas. E a Maçonaria também compartilha dessa visão das forças antagônicas. Mas é nas entrelinhas que se pode enxergar nitidamente traços importantes da personalidade de Albert Pike: sua crença cristã e sua descrença quanto aos políticos. 140 anos após a primeira publicação, Moral e Dogma mantém-se atual, para não dizer ainda à frente de nosso tempo.


As passagens da obra que citam as personificações do polo negativo, ou seja, Lúcifer, Satanás, o Diabo, ao contrário do que muitos fanáticos tentam passar, apenas evidenciam a crença cristã de Albert Pike, e sua tendência em escrever na linguagem teológica predominante na sociedade norte-americana, de valorização da guerra espiritual contra o diabo, citando-o constantemente, como muitas igrejas ainda fazem. Não há uma única passagem na obra em que o autor realiza algum comentário ambíguo ou tendencioso a favor de algo maléfico.


Pelo contrário, a obra incita os maçons à observação de rígidos preceitos morais e espirituais. Enfim, as acusações de satanismo são totalmente falsas e infames, apenas tentativas hostis de atacar e prejudicar a Maçonaria. Mas já estamos acostumados.




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DESVENDADO A OBRA: MORAL E DOGMA DE ALBERT PIKE – Parte I




INTRODUÇÃO: 

O livro “Moral e Dogma”, de Albert Pike, é, sem dúvida alguma, o livro maçônico mais conhecido dos maçons… e dos antimaçons! Abrangendo a compreensão pessoal do autor (e não oficial da Maçonaria) sobre os ensinamentos morais e espirituais dos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, observa-se nessa obra o vasto conhecimento que Albert Pike detinha sobre história, teologia e línguas. Porém, Moral e Dogma também serviu de terreno fértil para as acusações de fanáticos religiosos. Citações inventadas, citações de outras obras, citações modificadas e outras mal interpretadas são creditadas a Moral e Dogma, e se multiplicam e se perpetuam em livros, cartilhas e websites que atacam a Ordem Maçônica, acusando-a de satanismo, politeísmo e outras coisas mais. O presente estudo analisará as passagens do livro Moral e Dogma que constam as palavras “Lúcifer”, “Satanás”, “demônio” ou “diabo”, realizando a devida interpretação de tais passagens no contexto em que estão inseridas.


CAPÍTULO I



“O pavimento, alternadamente preto e branco, simboliza, se assim pretendido ou não, os princípios do Bem e do Mal do credo egípcio e persa. É a guerra entre Miguel e Satanás, dos Deuses e Titãs, de Balder e Lok, entre luz e sombra, dia e noite; Liberdade e Despotismo; Liberdade Religiosa e os dogmas arbitrários de uma Igreja que pensa por seus devotos, e cuja Pontífice afirma ser infalível, e os decretos de seus Conselhos se constituem um evangelho.”

Pike, deixando claro ter ciência de que possivelmente não seja o simbolismo original, propõe a interpretação da dualidade do pavimento mosaico, polarizando entre bem e mal, e utilizando de exemplo “Miguel e Satanás”, ambos arcanjos que lutaram um a favor e o outro contra o Reino de Deus.


CAPÍTULO II


“Um homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé… Os demônios creem – e tremem… Como um corpo sem coração está morto, assim é a fé sem obras.”

Nessa pequena passagem, Pike evidencia que não basta ter fé, se não vivenciá-la, agindo de acordo. As boas obras, a caridade, são a prática da fé, uma verdadeira demonstração de amor ao próximo.


CAPÍTULO III


“A hipocrisia é a homenagem que o vício e o errado pagam à virtude e à justiça. É Satanás tentando vestir-se em um manto angelical de luz. É igualmente detestável em moral, política e religião, no homem e na nação. É fazer injustiça sob o pretexto de equidade e justiça; reprovar o vício em público e cometê-lo em privado; fingir opinião de caridade e na realidade condenar; professar os princípios da beneficência maçônica, e fechar os olhos para o lamento de angústia e o grito de sofrimento; elogiar a inteligência do povo, e conspirar para enganá-los e trai-los por meio de sua ignorância e simplicidade; tagarelar sobre pureza, e cometer peculato; se dizer de honra, e vilmente abandonar uma causa em dificuldade; dizer-se desinteressado, e vender o seu voto por espaço e poder, são as hipocrisias mais comuns, infames e vergonhosas. Roubar o uniforme do tribunal de Deus para servir o Diabo; além disto, fingir que acredita em um Deus de misericórdia e um Redentor do amor, e perseguir aqueles de uma fé diferente; devorar as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; pregar castidade e chafurdar na luxúria; inculcar humildade e ter um orgulho superior ao de Lúcifer; pagar o dízimo e omitir os assuntos mais importantes da lei, juízo, misericórdia e fé; reclamar como um mosquito e comer como um camelo; aparentar limpo seu copo e prato, mas mantê-los cheios de intemperança e excesso; parecer exteriormente justo aos homens, mas sendo cheio de hipocrisia e de iniquidade, é de fato ser semelhante aos sepulcros caiados, que aparecem belos exteriormente, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundície.”
Pike utiliza de Satanás e Diabo para condenar a hipocrisia como o ato de mostrar o bem enquanto se pratica o mal, ato esse que pode ser praticado na vida social, política, religiosa e profissional.

“O verdadeiro nome de Satanás, os cabalistas dizem, é o de Yahveh invertido, pois Satanás não é uma versão sombria de deus, mas a negação de Deus. O Diabo é a personificação do Ateísmo ou da Idolatria. Para os iniciados, isso não é uma Pessoa, mas uma Força, criada para o bem, mas que pode servir para o mal. É o instrumento da Liberdade ou Livre Arbítrio. Eles representam esta Força, que preside a geração física, sob a forma mitológica e chifruda do deus Pã, daí veio o bode do Sabá, irmão da Antiga Serpente e o portador da Luz ou Fósforo, dos quais o poetas fizeram o falso Lúcifer da lenda.”


Nesse trecho, Pike conceitua Satanás, o diabo, não como o oposto de Deus, mas como Sua negação, alternativa proporcionada pelo livre arbítrio.



CAPÍTULO XVII

“O primeiro Hermes foi a Inteligência ou a Palavra de Deus. Movido pela compaixão para com uma raça que vive sem lei, e desejando ensinar-lhes que eles saltaram de seu seio, e apontar-lhes o caminho que eles devem seguir (os livros que o primeiro Hermes, o mesmo com Enoque, tinha escrito sobre os mistérios da ciência divina, nos caracteres sagrados, sendo desconhecido por aqueles que viveram depois do dilúvio], Deus enviou ao homem Osíris e Ísis, acompanhados por Thoth, a encarnação ou repetição terrestre do primeiro Hermes; quem ensinou aos homens as artes, ciência, e as cerimônias da religião, e depois subiu para o céu ou a lua. Osíris era o Princípio do Bem. TYPHON, como Ahriman, era o princípio e a fonte de tudo o que é mau na ordem moral e física. Como o Satanás do gnosticismo, ele foi confundido com a Matéria.”

“A imagem de Ahriman era o Dragão, confundido pelos judeus com Satanás e a Serpente Tentadora. Após um reinado de 3000 anos, Ormuzd criou o Mundo Material, em seis períodos, chamando sucessivamente para a existência da Luz, Água, Terra, plantas, animais e homem. Mas Ahriman concordou em criar a Terra e água, pois a escuridão já era um elemento, e Ormuzd não poderia excluir o seu Mestre. Assim também os dois concordaram em produzir Man. Ormuzd produziu, por sua vontade e palavra, um Ser que era o tipo e a fonte de vida universal para tudo o que existe debaixo do céu. Ele colocou no homem um princípio puro, ou Vida, que procede do Ser Supremo. Mas Ahriman destruiu esse princípio puro, na forma com que ela estava vestida e, quando Ormuzd tinha feito, de sua essência recuperada e purificada, o primeiro homem e a primeira mulher, Ahriman seduziu-os e tentou-os com vinho e frutas, tendo a mulher cedido primeiro.”

“A crença no dualismo de alguma forma, era universal. Aqueles que declararam que tudo emana de Deus, aspira a Deus, e retorna a Deus, acredita que, entre essas emanações há dois princípios adversos, de Luz e Trevas, Bem e do Mal. Isso prevaleceu na Ásia Central e na Síria, enquanto no Egito assumiu a forma de especulação grega. No primeiro, um segundo princípio Intelectual foi admitido, ativo em seu Império das Trevas, audacioso contra o Império da Luz. Assim, os persas e sabeus entenderam. No Egito, este segundo princípio era a matéria, como a palavra foi utilizada pela Escola de Platão, com seus atributos tristes, a deficiência, trevas e da morte. Em sua teoria, a matéria poderia ser animada apenas pela comunicação de um princípio de vida divina. Ela resistiu às influências de espiritualização. Esse “poder resistir” é Satanás, a matéria rebelde, matéria que não participa de Deus. Para muitos havia dois princípios, o pai desconhecido, ou Supremo e Eterno Deus, vivendo no centro da Luz, feliz na perfeita pureza do seu ser; o outro, matéria eterna, inerte, massa informe e tenebrosa, que considerada como a fonte de todos os males, a mãe e morada de Satanás.”

“O Cristo do Apocalipse, o primogênito da criação e da ressurreição é investido com as características do Ormuzd e Sosiosch do Zend-Avesta, o Ainsoph da Cabala e os Carpistes dos gnósticos. A ideia de que os Iniciados verdadeiros e fiéis se tornam reis e sacerdotes, é ao mesmo tempo persa, judaica, cristã e gnóstica. E a definição do Ser Supremo, que Ele é ao mesmo tempo o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim – Ele que foi, e é, e há de vir, ou seja, Tempo ilimitado, é a definição de Zoroastro de Zerouane-Ak-herene. As profundezas de Satanás, que nenhum homem pode medir; seu triunfo por um tempo pela fraude e pela violência, seu ser acorrentado por um anjo, sua reprovação e sua precipitação em um mar de metal; seus nomes da Serpente e Dragão; todo o conflito dos bons Espíritos ou exércitos celestiais contra o mal; são tantas ideias e denominações encontradas tanto no Zend-Avesta, Cabala, e na Gnose.”


Pike demonstra como alguns elementos são comuns e similares em diferentes religiões e filosofias, podendo as mais antigas (como o Zoroastrismo) terem influenciado as mais novas, permitindo assim a compreensão de uma manutenção do conteúdo filosófico acerca da criação do mundo e da vida, e das forças que a regem.


CAPÍTULO XVIII


“Toda antiguidade resolveu o enigma da existência do Mal, por supor a existência de um princípio do mal, dos demônios, anjos caídos, um Ahriman, um Typhon, uma Siva, uma Lok, ou Satanás, que, em primeiro lugar caindo, e mergulhado na miséria e na escuridão, tentou o homem à sua queda, e trouxe o pecado ao mundo. Todos acreditavam em uma vida futura, a ser atingido pela purificação e ensaios; em um estado ou sucessivos estados de recompensa e castigo, e em um Mediador ou Redentor, pela qual o princípio do mal era para ser superado, e a Divindade Suprema reconciliada com sua criaturas. A crença era geral, que Ele havia de nascer de uma Virgem, e sofrer uma morte dolorosa. Os indianos o chamavam Chrishna, os chineses, Kioun-tse, os persas, Sosiosch; os caldeus, Dhouvanai; os egípcios, HarOeri; Platão, o amor, e os escandinavos, Balder.” “Deste Ser Supremo, Osíris era a imagem de origem, de todo o bem no mundo moral e físico, e inimigo constante de Typhon, o Gênio do Mal, Satanás do Gnosticismo, a matéria bruta, considerada sempre em rixa com o espírito que fluiu a partir da Divindade, e sobre o qual Har-Geri, o Redentor, Filho de Ísis e Osíris, está finalmente a prevalecer.”
Albert Pike corajosamente escreveu uma informação conhecida por qualquer historiador ou teólogo sério, porém evitada pela Igreja Católica e tantas outras igrejas cristãs: nas mais diferentes culturas, havia a crença de que o representante de Deus nasceria de uma virgem, e as tradições de cada uma dessas culturas registram que vários assim nasceram, alguns antes mesmo de Jesus, como: Hórus, Mitra, Átis, Dionísio, Krishna, etc.

“Deums ainda são cantadas na véspera de São Bartolomeu e Vésperas sicilianas. A engenhosidade do homem está em ruína, e todos os seus poderes inventivos têm a tarefa de fabricar a maquinaria infernal de destruição, pelo qual os corpos humanos podem ser mais rápida e eficazmente esmagado, quebrado, rasgado, e mutilado, e ainda a Humanidade hipócrita, bêbada com o sangue e encharcada de sangue, grita para o céu em um único assassinato, perpetrado para satisfazer uma vingança não mais anticristã, ou para satisfazer uma cupidez não mais ignóbil, do que aqueles que são os sussurros do Diabo nas almas das Nações.”


Utilizando-se da base histórico-religiosa, Albert Pike, como tantas vezes realizou nessa sua obra, faz severas críticas à sociedade de sua época e, principalmente, aos governos instituídos.


“Para explicar a si próprios a existência do mal e do sofrimento, os persas antigos imaginavam que existiam dois princípios ou deuses do Universo, o bom e o outro mal, constantemente em conflito uns com o outro em luta pelo domínio, e alternadamente superar e vencer. Sobre ambos, para os sábios, a Luz no final prevalece sobre as trevas, o bem sobre o mal, e mesmo Ahriman e seus demônios a participarão com suas naturezas más e cruéis e compartilharão a salvação universal . Não lhes ocorre que a existência do princípio do mal, com o consentimento do Supremo Onipotente, apresentou a mesma dificuldade, e deixou a existência do Mal inexplicável como antes. A mente humana é sempre contida, se ela pode remover uma dificuldade um passo mais longe. Não se pode acreditar que o mundo repousa sobre nada, mas é limitado quando se ensina que o mundo é carregado no dorso de um elefante imenso, ou que ele está sobre o casco de uma tartaruga. Dada a tartaruga, a fé é sempre satisfeita, e tem sido uma grande fonte de felicidade às multidões que eles poderiam acreditar num diabo que poderia aliviar a Deus do ódio de ser o autor do pecado.”

Pike não perde a oportunidade de jogar na cara do leitor a reflexão da pequenez que é culpar o diabo pelos seus erros em vez de assumir a total responsabilidade pelos seus atos.



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Pesquisa e Autoria: Ir Kennyo Ismail


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