Aparentemente,
a reencarnação é, na atualidade, um dos mais controversos tópicos da
espiritualidade. Centenas de livros sobre o tema são publicados, como se o
mundo ocidental tivesse apenas recentemente descoberto esta antiga doutrina.A
reencarnação é uma das mais valiosas lições de várias religiões. A ciência de
que esta vida é apenas uma entre muitas, de que não deixamos de existir quando
o corpo físico morre, mas sim renascemos em outro corpo, responde a um grande
número de perguntas, mas gera outras tantas.
Por
quê? Por que reencarnamos?A reencarnação é o instrumento pelo qual nossas
almas são aperfeiçoadas. Uma vida não basta para atingir tal objetivo;
portanto, a consciência (alma) renasce inúmeras vezes, cada vida englobando um
grupo diferente de lições, até que a perfeição seja atingida.
É
impossível determinar quantas vidas são necessárias para tanto. Somos humanos e
é fácil aderir a comportamentos não evolucionários.
Cobiça, Ira, Ciúmes, Obsessão e todas as nossas emoções negativas inibem nosso
crescimento.
Devemos fortalecer nossos corpos, mentes e almas. Certamente, vivemos vidas
terrenas “plenas e produtivas”, não devemos viver para prejudicar ninguém.
A
alma não tem idade, sexo ou físico, possuindo a centelha divina da Deusa e do
Deus. Cada manifestação da alma (por exemplo, cada corpo que habita a Terra) é
diferente. Não existem dois corpos ou vidas exatamente iguais. Se não fosse
assim, a alma estagnaria. Sexo, raça, local de nascimento, classe econômica e
todas as outras individualidades da alma são determinadas por suas ações em
vidas passadas e pelas lições necessárias à vida presente.
Isto
é de suma importância : nós decidimos o desenrolar de nossas vidas. Não há
deus, maldição, força misteriosa ou destino sobre o qual possamos atirar a responsabilidade
pelos fatos de nossas vidas. Nós decidimos o que precisamos aprender para
evoluir e, então, espera-se, durante essa reencarnação, trabalharmos em busca
desse progresso. Caso contrário, regressamos às trevas.
Existe
um fenômeno que atua como auxiliar no aprendizado das lições de cada
existência, o qual é chamado de carma. O carma é geralmente mal-compreendido.
Não é um sistema de recompensas e punições, mas sim um fenômeno que orienta a
alma em direção a ações evolutivas. Destarte, se uma pessoa pratica ações
negativas, receberá ações negativas em troca. O bem atrai o bem. Com isto em
mente, sobram poucos motivos para praticar atos negativos.
Carma
significa ação, e é desta forma que atua. Como uma ferramenta, não uma punição.
Não há como “apagar” o carma, assim como nem todos os eventos aparentemente
terríveis de nossas vidas são um subproduto do carma.
Só
aprendemos com o carma quando temos ciência dele. Muitos buscam em suas vidas
passadas a descoberta de seus erros, para solucionar os problemas que estão
inibindo seu progresso nesta vida. Técnicas de transe e meditação podem ser
úteis, mas o verdadeiro autoconhecimento é o melhor meio para atingir este fim.
A
regressão a vidas passadas pode ser perigosa, pois envolve uma grande carga de
autodesilusão. É impossível contabilizar quantas Cleópatras, Reis Artur,
Merlins, Marias, Nefertitis e outras pessoas famosas do passado já encontramos
por aí usando tênis e jeans. Nossas mentes conscientes, que buscam encarnações
passadas, agarram-se facilmente a esses ideais românticos. Se isto é um
problema; se não deseja conhecer suas vidas passadas,ou não tem como fazê-lo,
observe esta existência. Pode descobrir qualquer dado relevante sobre suas
vidas passadas ao observar esta vida. Se solveu seus problemas em vidas
passadas, estes não mais lhe dizem respeito. Caso contrário, os mesmos
problemas ressurgirão; portanto, concentre-se nesta vida.
A
noite, analise seus atos do dia, atentando tanto para ações e pensamentos
positivos, bem como para os negativos. Analise a seguir a semana que se passou,
o ano, a década. Consulte agendas, diários ou antigas cartas em seu poder para
refrescar sua memória.Você continuamente comete os mesmos erros?
Em caso
positivo, jure nunca mais repeti-los, num ritual concebido por você mesmo. Em
seu altar, você pode escrever tais erros num pedaço de papel. Podem ser
inclusas emoções negativas, medos, prazeres desmedidos, permissão que outros
controlem sua vida, intermináveis obsessões amorosas para com homens/mulheres
indiferentes a seus sentimentos. Enquanto escreve, visualize-se agindo dessa
forma no passado, não no presente. A seguir, acenda uma vela . Segure o papel
sobre a chama e atire-o num caldeirão ou em outro recipiente a prova de fogo.
Grite , ou simplesmente afirme para si mesmo – que tais ações do passado não
fazem mais parte de você. Visualize sua vida futura livre de tais
comportamentos nocivos, limitadores, inibidores.
Repita
o ritual enquanto for necessário, talvez em noites de lua minguante, para levar
a cabo a destruição desses aspectos de sua vida. Se ritualizar sua determinação
em progredir nesta vida, seu juramento liberará sua força. Quando sentir-se
tentado a reincidir em seus velhos modos de agir ou pensar, lembre-se do ritual
e sobreponha essa necessidade com seu poder. O que acontece após a morte?
Apenas o corpo fenece. A alma sobrevive.
Diz-se
que a alma revê a última vida, talvez de um modo misterioso ,com as deidades.
Isto não é um julgamento, uma pesagem da alma de um dada pessoa, mas sim uma
revisão encarnatória. Lança-se luz sobre as lições aprendidas ou ignoradas.
Após um período apropriado, quando as condições estiverem favoráveis, a alma
reencarna e reinicia-se a vida.
A
pergunta final:o que ocorre após a última encarnação? Alguns ensinamentos
dizem que após subir a espiral da vida, morte e renascimento, as almas que
atingiram a perfeição liberam-se para sempre desse ciclo e coabitam com a Deusa
e com o Deus. Nada é desperdiçado. A energia residente em nossas almas retorna
à fonte divina da qual se originou. A morte é vista como a porta para o
nascimento. Portanto, nossas próprias vidas estão simbolicamente ligadas aos
infindáveis ciclos das estações que moldam nosso planeta. Não tente forçar-se a
acreditar na reencarnação. Conhecer é muito superior a acreditar, pois o
acreditar é próprio dos mal-informados.
Não
é muito sábio aceitar uma doutrina importante como a reencarnação sem estudá-la
para saber se ela realmente lhe atrai. Além disso, apesar de poderem existir
fortes conexões com os que amamos, acautele-se quanto à noção de almas
companheiras, como, por exemplo, pessoas que tenha amado em outras vidas e que
você esteja destinado a amar novamente. Por mais sinceros que seus sentimentos
e crenças possam ser, eles nem sempre se baseiam em fatos.
Um dia você saberá,
e não só acreditará, que a reencarnação é tão real quanto uma planta que dá
botões, floresce, espalha sua semente, seca e gera outra planta à sua imagem. A
reencarnação foi provavelmente intuída pelos povos antigos quando estes
observavam a natureza. Até que tenha chegado a uma conclusão própria, você pode
desejar refletir sobre e considerar a doutrina da reencarnação.
Por: Ir Paulo
Coutinho / Ilustração: Ir Daniel
Martina
O mundo pós-vida onde seremos impingidos de dor e sofrimento, gritando e implorando por uma misericórdia que nunca virá, por séculos e mais séculos, a mando de um Deus justo, bondoso e que nos ama infinitamente. Os religiosos podem sapatear, espernear, arrancar os cabelos e esbravejarem o quanto quiserem; mas não há nenhuma menção de “Inferno” – como sendo um lugar de tormento eterno – na Bíblia, conforme as religiões cristãs pregam. A bem da verdade, o que temos são traduções canhestras de quatro palavras diferentes: Sheol, Hades, Geena e Tártaro.
Será que tais expressões representam a mesma idéia, ou seja, a de um inferno ardente, onde as pessoas são torturadas por toda a eternidade? Bem, nas páginas a seguir examinaremos atentamente cada uma dessas expressões, analisaremos as vertentes cristãs que pregam o tormento eterno, o tormento temporário e o aniquilacionismo, bem como as prováveis origens desse mito. Senhoras e senhores, peguem as suas roupas de amianto e me acompanhem, pois este será um artigo quente.
SHEOL ( שאול ):
É uma palavra hebraica que tem como significado “mundo dos mortos”. Poderia ser traduzido também como “sepultura”; o que tem tudo a ver, já que mortos não se hospedam em hotéis 5 estrelas. Algumas vezes, atribui-se a ele o conceito de inferno, mas isso soa um pouco estranho.
Todos nós morreremos um dia! Mas, isso significaria (em termos teológicos) que todos nós acabaríamos no mesmo lugar? Nem mesmo o Omni Tripla Ação seria tão injusto, não é mesmo? Levando em conta outras passagens da Bíblia, isso é um tanto questionável. Bom, deixemos isso de lado e sigamos em frente. A estranheza dessa expressão, portanto, advém do conceito que todas as pessoas do mundo irão parar numa sepultura (melhor ou pior, não importa) e, portanto, esse pessoal todo iria para lá, não configurando um tormento eterno, pois nem todos (em tese) merecem isso...
Dando uma repassada nas diversas traduções pelas quais a Bíblia passou, encontraremos diferentes abordagens desta palavra. Por exemplo, podemos citar inicialmente Deuteronômio 32:22 , cujo texto em hebraico é visto abaixo:
Creio que deu pra perceber que “inferno” não é a principal tradução, segundo o site. É apenas uma referência secundária, por causa dos significados que relacionam que o verbete principal. E é agora que a porca torce o rabo!
A versão João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada traz o seguinte:
Deuteronômio 32:22 – Porque um fogo se acendeu no meu furor e arderá até ao mais profundo do inferno, consumirá a terra e suas messes e abrasará os fundamentos dos montes.
Mesmo porque, a versão King James traz:
Deuteronomy 32:22 – For a fire is kindled in mine anger, and shall burn unto the lowest hell, and shall consume the earth with her increase, and set on fire the foundations of the mountains.
Mas, como nada nas religiões é perfeito, na versão Nova Tradução na Linguagem de Hoje vem escrito:
Deuteronômio 32:22 – A minha ira se acenderá como fogo e acabará com tudo o que há na terra; ela queimará até o mundo dos mortos e incendiará as bases das montanhas.
A questão é que “Sheol” nunca teve (segundo a etimologia em hebraico) a idéia de lugar de suplício para os mortos. Hebraico não é uma língua simples; ainda mais num texto tido como sendo da Idade do Bronze (mas que provavelmente fora escrito no início da Era do Ferro). No link supracitado é apresentado igualmente a American Standard Version, que diz:
For a fire is kindled in mine anger, And burneth unto the lowestSheol, And devoureth the earth with its increase, And setteth on fire the foundations of the mountains.
O mesmo acontece com a versão Young’s Literal Translation (Tradução Literal de Young), traduzida diretamente por Robert Young em 1862. Young era um especialista em idiomas antigos, cujas principais obras são (além da referida versão bíblica): Analytical Concordance to the Bible (para a versão King James) e Concise Commentary on the Holy Bible.
Young preferiu manter a palavra “Sheol” em seu original em hebraico, por não ter encontrado nenhum paralelo no idioma de Shakespeare; e o mesmo acontece no idioma de Machado de Assis. O que fizeram, portanto, foi adequar ao sentido mais aproximado a um contexto idealizado pelos tradutores, mas isso traz alguns problemas.
Examinando Gênesis 42:38 (versão Almeida Corrigida e Fiel), encontramos:
Ele porém disse: Não descerá meu filho convosco; porquanto o seu irmão é morto, e só ele ficou. Se lhe suceder algum desastre no caminho por onde fordes, fareis descer minhas cãs com tristeza à sepultura.
Se um só exemplo é pouco, examinemos Jonas 2:1-2 (mesma versão):
E disse: Na minha angústia clamei ao SENHOR, e ele me respondeu; do ventre do inferno gritei, e tu ouviste a minha voz.
Ou, para mostrar como este livro é uma zona infernal, vejamos a versão Ave Maria:
Em minha aflição, invoquei o Senhor, e ele ouviu-me. Do meio damorada dos mortos, clamei a vós, e ouvistes minha voz.
Mas a versão Almeida Atualizada traz ainda:
e disse: Na minha angústia clamei ao senhor, e ele me respondeu; do ventre do Seol gritei, e tu ouviste a minha voz.
Nesta versão, as ocorrências de “Seol” (sem H) nunca aparecem traduzidas. Que tal isso?
Muitos pensadores judeus tradicionais teceram considerações sobre o modo como os indivíduos seriam recompensados ou punidos após suas mortes. Há poucas e raras descrições da vida após a morte. Os tradicionalistas deram o nome de “Guehenôm” para o local onde as almas são punidas. Muitos pensadores judeus notaram que uma vez que D’us é, essencialmente, pleno de misericórdia e amor, não se deve considerar que a punição será eterna²; longe disso – muitas vezes considera-se que esse período, para a maioria das pessoas, dura menos de um ano.
Ao mesmo tempo, há muitos conceitos diferentes de Paraíso: um deles defende que o Paraíso é o local onde nós finalmente entenderemos o verdadeiro sentido de D’us. Ademais, melhor do que pensar em céu e inferno separados é imaginar que há somente uma distância maior ou menor de D’us após da morte. Além disso, a punição poderá ser auto-determinada, ou seja, o indivíduo receberá um sofrimento equivalente àquele que proporcionou enquanto estava vivo.
Portanto, o judaísmo não tem uma noção de céu e inferno, com diferentes lugares no inferno para diferentes punições. Em vez disso, prevalece a idéia de que D’us usa a vida após a morte para conceder a justiça definitiva e como uma última oportunidade para que as pessoas predominantemente más busquem algum tipo de redenção final.
O judaísmo não acredita que as pessoas não-judias irão automaticamente para o inferno ou que os judeus irão automaticamente para o céu somente por pertencerem a uma ou outra religião. Em vez disso, o que realmente conta é a conduta ética individual. Muitos judeus tradicionais acreditam que o judaísmo fornece o melhor guia para conduzir essa vida ética.
Como vocês podem ver, os judeus sequer usam a palavra Sheol como inferno, tormento eterno ou qualquer bobagem nesse sentido. Sendo assim, é totalmente em vão achar que o Velho Testamento faz menção a isso.
Dessa forma, todo o conceito de Sheol – como sendo o Inferno Eterno – é totalmente detonado. Há muitas e diferentes traduções, muitos contextos mudados. Não se pode dizer com certeza qual é o mais certo, devido à precariedade das traduções. Logo, basta analisar as tradições do Judaísmo (não só a sua religião, mas os preceitos morais), em fontes especializadas, para constatar que aí não passa de um erro grosseiro e despropositado.
HADES (do grego Αιδη, que significa “invisível”)
Segundo a mitologia grega, é o deus do mundo dos mortos e das riquezas dos mortos, isto é, se você era um defunto, quando fosse para o reino de Hades, não só você mas suas posses passariam a pertencer a ele. Parece algo com uma certa conotação sexual, mas vocês sabem como eram os gregos. Hades era descrito como austero e impiedoso, insensível a preces ou sacrifícios, intimidativo e distante. Era geralmente representado com o elmo mágico que lhe dava essa habilidade, que ele ganhou dos ciclopes quando participou da guerra Titanomaquia contra os titãs. Para fins de esclarecimento, Titanomaquia é o relato da guerra entre os titãs liderados por Cronos e os deuses do Olimpo liderados por Zeus, que definiria o domínio do universo.
No fim da luta contra os titãs – e terem vencido os adversários – Zeus, Poseidon e Hades partilharam entre si o universo; Zeus ficou com o céu, e a terra, Poseidon ficou com os mares e Hades tornou-se o deus do inferno e das riquezas.
Sugiro a leitura do livro “As melhores histórias da mitologia nórdica”, de A.S.Franchini e Carmen Seganfredo. Ele pode ser baixado AQUI.
Hades, el malvadón, é o senhor das várias instâncias do Mundo dos Mortos (de acordo com a mitologia grega). Seriam essas instâncias: Érebus, Rios Sinistros, Tártaro e os Campos Elísios, e essas instâncias juntas formam o reino de Hades, a morada dos mortos, destino último ou qualquer bobagem neste sentido. E se você se lembrou da passagem “muitas são as moradas de meu pai”, também não verá coincidência apenas. A menos que Jesus seja filho de Hades. Mas, isso será abordado mais pra frente.
Mateus 11:23, em três versões bíblicas diferentes:
João Ferreira de Almeida Corrigida e Fiel: E tu, Cafarnaum, que te ergues até aos céus, serás abatida até aos infernos; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje.
Nova Tradução da Linguagem de Hoje: E você, cidade de Cafarnaum, acha que vai subir até o céu? Pois será jogada nomundo dos mortos! Porque, se os milagres que foram feitos aí tivessem sido feitos na cidade de Sodoma, ela existiria até hoje.
João Ferreira de Almeida Atualizada: E tu, Cafarnaum, porventura serás elevada até o céu? Até o hades descerás; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje.
Em grego: και συ καπερναουμ η εως του ουρανου υψωθεισα εωςαδου καταβιβασθηση οτι ει εν σοδομοις εγενοντο αι δυναμεις αι γενομεναι εν σοι εμειναν αν μεχρι της σημερον
GEENA (גֵיא בֶן-הִנֹּם)
As coisas começam a ficar um pouco confusas agora. Geena é a transliteração comum para o português do termo de origem grega “géenna”. Por sua vez, géenna origina-se do termo hebraico Geh Hinnóm que significa literalmente “Vale de Hinom”, e que veio a tornar-se um depósito fora de Jerusalém onde o lixo era incinerado.
Exatamente! Geena (do grego γεεννη) não passava de um imenso crematório de lixo e não um lugar ardente onde as almas iriam parar; pelo menos, não a princípio. Como os muçulmanos adoram copiar tudo, eles pegaram o nome “Geena” emprestado e transformaram em “Jahannam”.
Geena é mencionado nas seguintes passagens:
Mateus capítulo 5
22. Mas eu vos digo: todo aquele que se irar contra seu irmão será castigado pelos juízes. Aquele que disser a seu irmão: Raca, será castigado pelo Grande Conselho. Aquele que lhe disser: Louco, será condenado ao fogo da geena.[...]
29. Se teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e lança-o longe de ti, porque te é preferível perder-se um só dos teus membros, a que o teu corpo todo seja lançado na geena.
30. E se tua mão direita é para ti causa de queda, corta-a e lança-a longe de ti, porque te é preferível perder-se um só dos teus membros, a que o teu corpo inteiro seja atirado na geena.
Prestando bem atenção, Mateus infere que o fogo da geena é o lugar para aqueles que estão impuros. E não é exclusivo do Judaísmo a crença que a purificação vem pelo fogo. Culturas muito mais antigas, como assírios e babilônios também possuíam tal crença.
Mas, a citação acima está na versão católica da Bíblia. Vejamos o que está escrito na versão João Ferreira de Almeida do mesmo livro, capítulo e versículos:
22. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno.
29. Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.
30. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.
Mais uma vez, temos o problema anterior.
Mateus era um judeu. Não existe o conceito de inferno como lago de fogo no judaísmo, como as religiões cristãs pregam, conforme dito antes. Então, de onde veio essa tradução ? Tanto em Mateus 5:29 como em Mateus 10:28 , Jesus dá a entender que não só a alma, mas o corpo também vai parar no Geena. Bom, a única explicação para isso é que, quando o sujeito bate as botas, seu corpo é atirado lá no tal crematório. E fim de papo.
Entretanto, isso seria até o corpo se consumir. Mas, e depois? Depois… nada! Volto a lembrar o que foi dito no site Conversão Judaica: não existe tormento eterno! E se você não entendeu isso até agora, leia quantas vezes precisar até entender.
Mateus era judeu. Ponto! Não havia tal crença entre judeus. Ponto! Segundo a Bíblia, Jay Cee nada mencionou a respeito. Ponto final! Mateus teria que seguir as tradições judaicas, pois o próprio Jóquei de Jegue teria dito (supostamente) que não viera abolir as leis. Ora, se não veio abolir as leis, ele mudaria as “regras” de punição depois da morte? Só tendo um bom motivo. Mas, isso não é o momento para discutirmos isso.
O medo e a ameaça tem uma origem remota. O Vale de Hinom possuía uma elevação denominada Tofete, onde supostamente os Amonitas queimavam seus próprios filhos em honra ao deus Moloch (ou Molekh).
Este deus é citado em Levítico 20-2:
Todo israelita ou estrangeiro que habita em Israel e que sacrificar um de seus filhos a Moloc, será punido de morte. O povo da terra o apedrejará.
Os mais ortodoxos alegam que, posteriormente, judeus apostatados continuaram com esta prática, conforme é dito no Segundo Livro de Crônicas 28:3.
Também queimou incenso no Vale de Hinom, e queimou a seus próprios filhos no fogo, segundo as abominações dos gentios que o Senhor lançara fora de diante dos filhos de Israel.
Infelizmente, como sempre, não há referências históricas claras sobre isso ter acontecido. É bem semelhante à antipropaganda que Roma promoveu contra os cartagineses, para tentar justificar o massacre que aconteceu em Cartago, durante as Guerras Púnicas.
Delenda est Cartago (Cartago precisa ser destruída) tornou-se uma frase terrível, dita pelo senador Catão, que selou o destino de uma civilização, cujo único pecado foi ter-se posto no caminho de uma Roma em ascensão.
Como a Bíblia Rabínica diz:
E Josias conspurcou aquele lugar, reduzindo-o a um lugar impuro, para nele se lançarem carcaças e toda impureza, a fim de que nunca mais subisse ao coração do homem fazer seu filho ou sua filha passar pelo fogo para Moloque.
Alguma evidência arqueológica? Não. Josias existiu? Sim. E é a ele que se atribui o “achado” da Torah, a quem ele disse que fora escrita por Moisés. Os israelitas eram meio tolos e caíram na conversa dele.
Em suma: não se sabe se realmente haviam sacrifícios humanos no Vale de Hinom. Só se sabe o que está escrito na Bíblia, com suas imensas incorreções científicas e históricas, fazendo-a o livro mais impreciso e tosco do ponto de vista histórico.
Pelo sim, pelo não, o conceito de inferno – como sendo sofrimento eterno – ainda não foi sustentado, mesmo sabendo mais sobre Geena. Geena não é ainda um lugar definitivo para a punição dos ímpios. Pelo contrário. Segundo o que vimos até agora, quem jogasse seus filhos lá no Tofete (Geena) é que seria um ímpio. E seria exatamente o ímpio, e não a pessoa que foi sacrificada, aquele que será (supostamente) punido no pós-vida.
Tendo encerrado a questão de Geena, vamos para a próxima página e a última palavra a que se relaciona (supostamente) com o lar do capetão.
TÁRTARO (em grego: Τάρταρος , local profundo ou “mundo inferior”)
A palavra grega “tártaro” representa a mais inferior das instâncias do reino de Hades (veja a página sobre Hades). O Tártaro é o abismo mais profundo e inespugnável. Foi lá que os Titãs foram aprisionados, para nunca mais saírem de lá (prestem bastante atenção a este detalhe).
É de Hesíodo a obra que descreve bem este reino de Hades. Esta obra chama-se “Teogonia”, que descreve o conjunto de divindades e sua origem na mitologia grega. Tal obra descreve a genealogia dos deuses olímpicos e de muitos heróis e semi-deuses. E nove noites e dias uma bigorna de bronze cai da terra e só no décimo atinge o Tártaro.
Cerca-o um muro de bronze. Nix em torno verte-se três vezes ao redor do gargalo. Por cima as raízes da terra plantam-se e do mar infecundo. Aí os deuses Titãs, sob a treva nevoenta estão ocultos pela vontade de Zeus reúne-nuvens, região bolorenta nos confins da Terra prodigiosa.
Não têm saída. Impôs-lhes Posseidon portas de bronze e lado a lado percorre a muralha. Aí Giges, Cotos e Briareus magnânimo habitam, guardas fiéis de Zeus porta-égide. Aí, de Gaia trevosa e de Tártaro nevoento e de Pontos infecundo e de Urano constelado, de todos, estão contíguos as fontes e confins, torturantes e bolorentos, odeiam-nos os Deuses.
Vasto abismo, nem ao fim de um ano atingiria o solo quem por suas portas entrasse, mas de cá para lá o levaria tufão após tufão torturante, terrível até para os Deuses imortais este prodígio.
A casa terrível de Nix negra eleva-se aí oculta por escuras nuvens.
De frente, o filho de Jápeto sustém o Céu amplo de pé, com a cabeça e infatigáveis braços inabaláveis, onde Nix (A Noite) e Hemera (O Dia) se aproximam e cumprimentam-se cruzando o grande muro de bronze. Uma desce dentro, a outra vai fora, nunca o palácio fecha ambas, mas sempre uma delas está fora do palácio e percorre a Terra, a outra está dentro e espera vir a sua hora de caminhar.
Hemera dá aos homens vivos a luz multividente, Nix funesta leva nos braços Hipnos (O Sono), irmão de Tanatos (A Morte), oculta por nuvens cor de névoa.
Aí os filhos de Nix sombria têm morada, Hipnos e Tanatos, terríveis Deuses, nunca Hélios (O Sol) fulgente olha-os com seus raios ao subir ao céu nem a descer o céu.
Um deles, tranqüilo e doce aos homens, percorre a Terra e o largo dorso do mar, o outro, de coração de ferro e alma de bronze, não piedoso no peito, retém quem dos homens agarra, odiado até pelos Deuses imortais.
Diante, o palácio ecoante do deus subterrâneo, o forte Hades e da temível Perséfone eleva-se. Terrível cão guarda-lhe a frente não piedoso, tem maligna arte: aos que entram faz festa com o rabo e ambas orelhas, sair de novo não deixa: à espreita devora quem surpreende a sair das portas.
Aí habita a deusa detestada dos imortais, terrível Estige, filha de Oceano refluente a mais velha. Longe dos deuses em ilustre palácio coberto de altas pedras, todo ao redor com colunas de prata se apóia no céu.
Pouco a filha de Taumas, Íris de ágeis pés aí vem como mensageira, sobre o largo dorso do mar: Quando Éris e Neikos surgem entre os imortais e se um dos que moram no palácio Olímpio mente, Zeus faz Íris trazer o grande juramento dos Deuses num jarro de ouro, a longe água de muitos nomes fria. Ela precipita-se da íngreme pedra alta. E abundante sob a Terra de amplas vias, do rio sagrado (Oceano) flui pela noite negra, braço do Oceano, décima parte ela representa: nove envolvem a Terra e o largo dorso do Mar [Mediterrâneo] com rodopios de prata e depois caem no sal, ela só proflui da pedra, grande castigo aos Deuses.
Tal juramento os Deuses fizeram de Estige imperecível água ogígia que brota de abrupta região. Aí, de Gaia trevosa e de Tártaro nevoento e de Pontos infecundo e de Urano constelado, de todos estão contíguos as fontes e confins, torturastes e bolorentos, odeiam-nos os Deuses Olímpicos.
Aí resplandecentes portas e muro de bronze inabalável, embutidos em raízes contínuas nascido de si mesmo. Diante, longe dos Olímpicos, os Titãs habitam além do Caos sombrio.
Os ínclitos aliados de Zeus estrondante habitam um palácio no alicerce do Oceano, Cotos e Giges, a Briareu por sua bravura o gravitroante Poseidon fez seu genro, deu-lhe por esposa sua filha Cimopoléia.
Hesíodo – Teogonia
Interessante, não é mesmo? E, é claro, você deve estar me perguntando o que isso tudo tem a ver com a Bíblia. A resposta é simples e complicada ao mesmo tempo: Não tem nada a ver e tem tudo. Antes que você pense que eu sou o Mestre dos Magos, por estar falando por enigmas, preste atenção e verá que não tem enigma nenhum, pois está bem às claras.
A única menção de Tártaro na Bíblia situa-se no Novo Testamento (que, não por acaso, como veremos, escrito em grego). A passagem está na segunda epístola de Pedro, capítulo 2, versículo 4.
Ora, se Deus não poupou a anjos quando pecaram, antes precipitando-os no inferno os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo.
Como vocês podem notar, Pedro fala da suposta guerra dos anjos e esta é a única menção no cânon bíblico. Lembrem-se que o Livro de Enoch é apócrifo.
Nele ele faz a menção de um lugar profundo, tais como as descrições dos mitos grego e nórdico, onde deuses enfrentam deuses, gigantes enfrentam deuses, titãs lutam contra heróis, em verdadeiras batalhas épicas, assim como deus e os anjos lutam contra os demônios e o resultado final é sempre o mesmo: os deuses vencem e mandam os revoltosos (titãs, gigantes, demônios etc.) para o abismo mais profundo, sem a menor possibilidade de salvação.
O problema é que – como eu falei antes, e torno a repetir – reside na questão judaica a respeito dos tormentos eternos. Pedro, ou melhor, Simeão, ou melhor, Simão, ou melhor Kephás era um judeu e eu já deixei claro (sustentado por fontes adequadas) o que o judaísmo pensa sobre tormentos eternos.
De qualquer forma, o que isso significa? Nada! A epístola de Pedo diz que os cramunhões foram parar lá nas profundas do Inferno, mas não que você vai acabar lá também.
Deus (supostamente) não poupou aos anjos que pecaram, mas os rebaixou e os entregou às cadeias de trevas. Não existe nenhuma idéia de fogo ou tormento nesta palavra, ela simplesmente declara que estes anjos estão reservados para um julgamento futuro. Assim, esta menção não quer dizer que se refere a pessoas que pecam e nem a nenhum tormento em especial.
De acordo com o que o Dr. Eric Eve, especialista no texto neotestamentário e professor de teologia do Harris Manchester College refere-se que as duas Epístola de Pedro – alegadamente são incongruentes! , e nos diz:
A despeito de I Pedro, é muito improvável que o autor tenha sido o apóstolo Pedro. O grego culto da epístola é, talvez, a composição mais literária dentro o NT. O apóstolo Pedro provavelmente soube algum grego, mas I Pedro não se parece o produto de um pescador galileu analfabeto (Atos 4:13). Emprega um vocabulário e seu autor parece ter algum domínio das técnicas de retórica helenística. Ele também se familiariza intimamente com o VT em torno do ano 70, considerando que nós deveríamos esperar que o Pedro galileu tivesse estado mais familiarizado com o aramaico targum ou o hebraico”. (The Oxford Bible Commentary, p. 1263)
Já W. G. Kümmel, considerado um dos maiores especialistas do Novo Testamento depois de Rudolf Bultmann, afirmou:
I Pedro pressupõe a teologia paulina. Isto não só é verdade no senso geral, que o leitor judaico-cristão – o “povo de Deus” (2:10) – já não se preocupa com o cumprimento da Lei, mas também no senso especial que, como em Paulo, a morte de Jesus reconciliou para os pecados de cristãos e realizou justificação (1:18 f; 2:24). Os cristãos são os que sofrem com Cristo (4:13; 5:1), obediência para com as autoridades civis é exigida (2:14 f), e a fórmula paulina en xristw é encontrado (3:16; 5:10, 14). A proposta freqüentemente alegada que I Pedro é literariamente dependente em Romanos (e Efésios) é improvável, porque os contatos lingüísticos podem ser explicados em base de uma tradição de catequese comum. (Introduction to the New Testament, p. 424)
Muito bem, se você está lendo este parágrafo, você usou o seu livre-arbítrio para ficar aqui e aprender alguma coisa. Ótimo! Assim, eu lhe pergunto: Você seria capaz de me dizer de onde diabos veio este mito chamado “Inferno”?
Voltemos a Hades e seu reino. Idiotas podem achar que ele estaria mais próximo, numa teologia comparada, a Lúcifer. Mas, não é bem assim. Pelo contrário! Se você prestar muita atenção, Hades se assemelha mais ao próprio Javé, cognominado Senhor dos Anéis Bíblico (ou Omni Tripla Ação). Analisa comigo:
É Hades quem decide o destino das almas dos mortos.
Hades quem recompensa os bons e justos e abomina os injustos, sendo as Erínias (deusas encarregadas de castigar os crimes, especialmente os delitos de sangue) recrutadas para ajudar a Hades nesta missão.
Hades seria um princípio de castigo implacável após a morte, na melhor semelhança “Deus castiga”.
Com isso, fica clara a semelhança entre Hades e Javé. Com relação a ser deus criador ou não, nem mesmo Javé começou como um deus criador na mitologia judaica. Tanto é que muitas vezes ele é chamado de Senhor dos Exércitos (I Samuel 1:3 , I Reis 18:15 e I Crônicas 17:7 , só de exemplo).
Os primeiros cristãos, que logo de início se apossaram da Bíblia hebraica (com aquela preocupação de controlar as massa) e cozinharam com um monte de mitos egípcios (mais uma vez), gregos, romanos etc. Mas, ainda não tinham uma coisa: algo que fosse empregado para controlar a população, isto é, alguma coisa pra punir pessoas.
Pelo sim, pelo não, é fácil observar que uma religião em ascensão precisa amarrar lacunas teológicas que sobram à beça, num texto que é uma evidente “colcha de retalhos”. Assim, o que os religiosos fazem? Pulam e sapateiam através do uso de hermenêutica (ou seria embromenêutica?), contextos apologéticos absurdos e terminam numa teologia doida, buscando uma “explicação” satisfatória para o pós-vida, unicamente como ferramenta de controle de massas, para que os interesses da igreja se mantivessem firmemente estipulados e controlando a população com ameaças macabras e promessas lindinhas. Para qualquer questionamento, vinha a ameaça de arder nas profundas chamas do inferno.
Essa era apenas a cultura de uma época que aceitaria com muita naturalidade que tanto sacerdotes como os governantes criassem histórias divinas favoráveis as leis que redigiam, pois era anterior ao conceito de divisão entre estado e religião. O governo era o representante divino de acordo com a época e o que alegassem seria provindo da divindade, de modo que ficasse incontestável a autoridade do governante.
Isso nos faz lembrar o que Napoleão disse: “Religião é o que impede o pobre matar o rico”. Foi assim com os egípcios, gregos, sumérios, babilônicos, romanos, hebreus e todos os povos que viviam por ali na época. Todos apresentando leis que afirmavam ter recebido de alguma divindade. Uma Verdade inquestionável.
De qualquer forma, existem fontes diversas sobre os egípcios de textos gregos e traduções de hieróglifos mencionando a idéia de cidades egípcias que possuíam “lagos sagrados” onde seria a área de enterros e funerais. Como Geena e o lixão que vimos nesta matéria!
Se tomarmos muito da mitologia egípcia, sempre é mencionado um “lago sagrado” como no caso de Acherusia, o lago próximo à cidade de Memphis. Lá seu corpo seria conduzido a um julgamento de 42 juizes e se não houvesse acusações ele receberia a benção do sacerdote, e viveria feliz pra sempre no reino dos mortos.
Nisso, Hórus conduziria o corpo do defunto num barco para a terra dos mortos. Anúbis, o deus-cabeça-de-cachorro (um chacal) então iria pesar o coração da pessoa numa balança e se fosse mais leve que uma pena ele receberia as “bênçãos” de uma vida eterna num paraíso entre os deuses.Seus outros dois destinos seriam uma forma de purgatório em que a alma iria reencarnar em outros animais até voltar a reencarnar na forma humana durante um período de 3mil anos ou para os pecadores a destruição de ser pelo fogo eterno.
Tudo isso você pode lerAQUI, para aprofunda suas pesquisas.
Hórus serviu de base para Caronte, o barqueiro, da mitologia grega, indo direto para o reino de Hades. Acima, mostramos a foto de um papiro de Bakenmut, da 21ª dinastia (cerca de 1069 – 945 A.E.C.). Podemos perceber os corpos dos condenados sendo cozidos no Lago de Fogo.
Outras representações do Lago de Fogo dos egípcios podem ser vistosAQUI.
Como surgiu o Inferno Católico:
Não se sabe com clareza. Sabemos que Dante o apresentou na Divina Comédia (título original é Commedia). Na obra, Dante viaja por todas as instâncias do pós-vida (segundo a doutrina católica), desde o Inferno até o Paraíso. Você pode lê-la AQUI.
Obviamente, a obra de Dante é recheada com os mitos gregos e romanos. Seu guia durante a viagem é ninguém menos que Virgílio, o autor de Eneida (a obra pode ser encontrada tanto em português, como no original em latim, AQUI) e isso é bem esclarecedor.
Em resumo, a Igreja Católica pegou o que aparecia de mais aterrador e vestiu com uma fantasia cristã e pronto! Controle das massas no capricho, saindo do forno.
Uma punição exemplar é útil em qualquer sistema político ditatorial. E nisso incluem-se as religiões. Um conceito como o do Inferno Eterno é muito útil e o catolicismo se atirou nisso como raposas atacariam um galinheiro. As pessoas não prestam muita atenção nas bem-aventuranças que podem conseguir sendo boazinhas, mas erguem logo as orelhas por causa de uma boa ameaça. E é isso o que o Inferno é: AMEAÇA!
Eu nunca vi um religioso te chamando pra igreja pra você ser um cara legal. Mas, toda hora aparece um nos ameaçando com essa de lago de fogo, sofrimento eterno e que meu time será rebaixado até a terceira divisão do campeonato.
DOUTRINAS INFERNAIS:
Vamos encerrar mostrando que a “Bíblia” pode ser usado por qualquer doutrina, pregando qualquer idéia que você tenha. Basicamente a Bíblia apóia os três tipos de interpretação existentes sobre o que acontece no pós-vida:
A Aniquilação
Tormento Eterno
Tormento, não Eterno.
A aniquilação prega que ao morrer, aqueles que não se dedicaram ao Deus Eterno serão simplesmente aniquilados, apagados, limados da existência. Quem foi um cara legal, irá para o seio do Deus por Intermédio de Jesus Cristo.
Os adventistas e testemunhas de Jeová pregam isso. Essa doutrina, junto com os seus proponentes, é vista com desdém até mesmo por outras vertentes cristãs. Isto é, quando querem lavar a mão, enxergam os TJ como pia batismal e lavam a mão neles. Obviamente, para esse pessoal, não existe inferno. e nem poderia, já que o castigo, para eles, é deixar de existir.
A principal citação bíblica que os TJs usam para tentar justificar o aniquilação é Eclesiastes 9:5
Um versículo isolado tem qual valor? Até mesmo um ateu pode usá-lo pra provar que não tem mais nada depois da morte. E aí? Mas, se levarmos em conta o que Paulo disse, que o salário do pecado é a morte (Romanos 6:23), então podemos intuir que sim, que o aniquilacionismo seria a punição-mor, certo? Errado. Tome todo o capítulo de Romanos 6 e veja que o texto não é literal.
Tormentos eternos, largamente defendida por todos os protestantes, são muito eficazes na imposição de dogmas por força do medo, como falamos antes.
Um dos melhores exemplos bíblicos para justificar isso está em Mateus cap. 25:
24. Veio, por fim, o que recebeu só um talento: – Senhor, disse-lhe, sabia que és um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste.
25. Por isso, tive medo e fui esconder teu talento na terra. Eis aqui, toma o que te pertence.
26. Respondeu-lhe seu senhor: – Servo mau e preguiçoso! Sabias que colho onde não semeei e que recolho onde não espalhei.
27. Devias, pois, levar meu dinheiro ao banco e, à minha volta, eu receberia com os juros o que é meu.
28. Tirai-lhe este talento e dai-o ao que tem dez.
29. Dar-se-á ao que tem e terá em abundância. Mas ao que não tem, tirar-se-á mesmo aquilo que julga ter.
30. E a esse servo inútil, jogai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.
Um perfeito exemplo de amor cristão, não é mesmo? Não, meu caro. Não tão rápido.
Mateus cap. 25 fala através de parábolas. Fica difícil, e mesmo desonesto, separar toda a narrativa no que é real e o que é apenas uma expressão literária. Eu não vejo mal nenhum em um servo guardar o dinheiro do seu patrão, por medo de perdê-lo. E por que seria este medo? Por causa de um único talento? A resposta lógica é que tal patrão é mau e violento e puniria severamente o servo. Como de fato foi observado.
A questão é simples. Ou se considera tudo como verdade, ou aceita-se que é uma linguagem poética e que não pode ser tomada como sentido literal. E se é linguagem poética, podemos esquecer esta mitologia de trevas exteriores. O mesmo vale pro purgatório, o tormento temporário da liturgia católica.
O purgatório seria, segundo a doutrina da ICAR, um estado de limpeza em que os fiéis seriam purificados depois da morte, antes de entrar no Paraíso. Infelizmente, para os fervorosos, não há também NENHUMA menção de purgatório na Bíblia. Esse dogma vigora desde o século XIII e é muito conveniente.
Afinal, você é um cara que não é tão ruim assim. Morre e vai pro Inferno? Sacanagem, né? Mesmo porque, no Inferno não há perdão, ou seja, caiu lá não tem volta!
Aí, o cara vai parar no Purgatório e fica tostando lá. Mas, por uma módica quantia, o Papa em pessoa pode interceder junto ao Omni Tripla Ação e tirar o cara de lá. Que tal isso?
Isso posto, só temos que reconhecer que o conceito de Inferno é absurdo, e de uma perversidade sem limites. Só uma mente doentia teria uma idéia tão estapafúrdia de misturar isso com um mito de um deus bondoso que lhe ama, mas que o atirará nas profundas se você não obedecê-lo e nem ao seu representante aqui na Terra. Assim, a última coisa a ser a ser dita é um trecho da música do John Lennon que retrata bem isso: