A perseguição da maçonaria pelo nazismo
A Maçonaria foi perseguida, banida e suprimida em muitos lugares ao longo da história. Na Alemanha, com os nazistas querendo o controle total sobre tudo e todos, a Maçonaria não teve espaço. Adolf Hitler tentou de quase tudo para tentar eliminá-la, não só do solo alemão, mas de todos países que foram amordaçados pelo seu totalitarismo.
Hitler secretamente admirava a Maçonaria como uma organização e queria formar seu regime de forma semelhante à instituição da Maçonaria.
“Todas as abominações supostas, os esqueletos e caveiras, os caixões e os mistérios, são coisas simples para as crianças. Mas há um elemento perigoso e que é o elemento que copiei a partir deles (os maçons). Eles formam uma espécie de nobreza sacerdotal. Eles desenvolveram uma doutrina esotérica não apenas formulada, mas transmitida através dos símbolos e mistérios em graus de iniciação. A organização hierárquica e da iniciação através de ritos simbólicos, isto é, sem incomodar o cérebro, mas através do trabalho sobre a imaginação através da magia e dos símbolos de um culto, tudo isso tem um elemento perigoso. Vocês não vêem que o nosso partido tem de ser uma Ordem? Uma Ordem. a Ordem hierárquica de um sacerdócio secular … nós mesmos ou os maçons ou a Igreja – há espaço para um dos três e não mais … Nós somos o mais forte dos três e devemos nos livrar dos outros dois”, (Discurso de Adolf Hitler)
O começo
Assim que Adolf Hitler chegou ao poder e começou a elaborar o “Estado ideal”, ele deu início a uma forte campanha anti-maçônica. Hitler escreveu que a Maçonaria pertencia essencialmente aos judeus, e enquanto o ódio aos judeus estava sendo cultivado na Alemanha, essas afirmações justificavam a perseguição de Hitler aos maçons.
“…A hostilidade natural dos camponeses contra os judeus, e sua hostilidade contra o maçom como um servo do judeu, devem ser trabalhados até um frenesi…” (Guia e Carta de Instrução do Partido Nazista – 1931)
Enquanto alguns maçons eram verdadeiramente judeus, o verdadeiro motivo de Hitler era destruir todas reservas conservadoras da sociedade, tal qual, o medo que tal sociedade discreta, que já havia de fato, conspirado em prol da liberdade em outros países, pudesse agir pelas suas costas. Por essa razão a Maçonaria deveria ser destruída, para que seu regime pudesse ter o controle total. À partir daí, começa uma serie de boicotes e perseguições aos maçons alemães, muitos membros das Lojas que ocupavam cargos públicos foram assediados a cederem à aposentadoria ou demissão “voluntária”, os que estavam na iniciativa privada, foram forçados a escolher entre o ofício e suas carreiras.
The Enabling Act (Ermächtigungsgesetz)
Em 1933, Hitler ascendeu ao poder através do que ficou chamado “Lei de Plenos Poderes”, um ato legal que foi assinado pelo Presidente Paul von Hindenburg e lhe deu legalmente plenos poderes perante ao Estado, tornando sua ditadura “legal”. Ali começava um longo período de opressão aos Maçons alemães.
1934
– Um decreto do chefe do Tribunal do Partido Nazista decidiu que maçons que não haviam se desligado das suas Lojas antes de 30 de janeiro de 1933 não poderiam filiar-se ao Partido Nazista. No mesmo mês, o Ministro do Interior da Prússia, Hermann Goering, emitiu um decreto para que as Lojas se dissolvessem “voluntariamente”, mas de fato, tal ação só se dava perante uma aprovação e o acompanhamento do Estado, que sindicava os maçons guardando informações para utilização posterior.
– Maio de 1934 – O Ministro da Defesa proibiu a adesão em Lojas a todos soldados ou funcionários públicos civís.
– “Na calada da noite”, diversas Lojas começaram a serem atacadas e saqueadas por unidades da SS e da SA, embora oficialmente, nenhum impedimento houvesse contra elas.
– 28 de Outubro – O Ministro do Interior do Reich, Wilhelm Frick, emitiu um decreto oficializando todas Lojas como “hostis ao Estado” e, portanto, sujeitas a terem seus bens confiscados.
– Verão de 1934 – Heinrich Himmler e Reinhard Heydrich tomam politicamente a Gestapo, polícia especial dos nazistas, que continuam a saquear as bibliotecas e coleções de objetos maçônicos dos membros das Lojas, objetos estes, que em 1937 apareceram em uma exposição anti-maçônica em Munique, inaugurada pelo Ministro da Propaganda, Herr Dr. Joseph Goebbels.
A exposição incluía templos completamente mobiliados, com propagandas intimidatórias aos que futuramente pensassem se aproximar da Maçonaria.
1935-1942
Em 17 de agosto de 1935, Frick ordena que todas Grandes Lojas e Lojas restantes fossem dissolvidas e seus bens confiscados.
A propaganda nazista continuou a ligar Maçons e judeus, utilizando-se do forte sentimento anti-judeu que existia na época para combater também os Maçons. A publicação viral de Julius Streicher, o “Der Stürmer” (A tropa de assalto) imprimiu exaustivamente caricaturas que retratavam uma conspiração “judeu-maçônica” contra a Alemanha e o mundo.
Outra edição do Der Stürmer:
Assim como na mídia, a Maçonaria também se tornou uma obsessão particular de Reinhard Heydrich, chefe do Serviço de Segurança (ou SD – Sicherheitsdienst), que catalogou todos maçons, juntamente com judeus e o clero político. Tratou eles como “os inimigos mais implacáveis da raça alemã”. Em 1935 Heydrich argumentou publicamente que “…é necessário erradicar de todos alemães a “influência indireta do espírito judaico”, um resíduo infeccioso judeu, liberal e maçônico, que permanece no inconsciente de muitos, acima de tudo no mundo intelectual e acadêmico..”
Heydrich criou uma sessão especial na SD para lidar com Maçonaria, a “Sessão II / 111”, seu interesse especial era por crer que a Maçonaria exercia poder político real, moldando a opinião pública através da imprensa, que causava subversão e revolução.
Propaganda intitulada “Judeus, Maçonaria e Bolchevismo”, com uma serpente venenosa com presas expostas. Isso era o capítulo 1º de uma serie de palestras conferidas pelo “Der Reichsfuehrer SS, der Chef des Rasse-und Siedlungshauptamtes” (Líder das SS, Chefe do Escritório Principal da Raça e Liquidação), ca. 1936.
Quando os nazistas começaram a preparar-se para a guerra em 1937, o regime aliviou a pressão sobre as Lojas ainda existentes (muito secretamente, claro) e os maçons. Hitler anistia os maçons que haviam deixado suas Lojas em 1938 e com os esforços de guerra, começa a alocá-los novamente no serviço público de acordo com o caso. Conforme a guerra avança, abrem-se mais e mais as portas para os maçons que outrora foram excluídos, principalmente, no setor público, onde começam a integrar novamente as forças armadas (Wehrmacht) e até a SS.
Mesmo assim, quando conquistaram a Europa, dissolveram forçosamente todas organizações maçônicas que encontraram, e aos moldes da Alemanha, confiscaram seus bens e documentos. Os itens apreendidos foram enviados para as agências alemãs especializadas, principalmente dentro da SD e mais tarde o RSHA, a sessão (Seção VII B 1) criada em 1939 no Reich Security Main Office ( Reichssicherheitshauptamt ; Daí RSHA), que incorporou as sessões da SD e da SS que eram dedicadas a Maçonaria.
Como também fizeram na Alemanha, montaram por toda Europa exposições anti-maçônicas, exibindo artefatos e rituais roubados dos Templos, ridicularizando a Maçonaria, diziam que a culpa da Segunda Guerra Mundial era dos judeus e dos Maçons e expunham a maior culpa sobre o Presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, que fora identificado como um Maçom.
Alguns aliados alemães do eixo, também decretaram medidas policiais e discriminatórias contra os maçons. Em agosto de 1940, o regime de Vichy France emitiu um decreto declarando que os maçons eram inimigos do estado e autorizavam a vigilância policial sobre eles. As autoridades francesas de guerra ainda criaram um cartão de identificava todos membros do Grande Oriente da França, uma das principais potências maçônicas da França e do mundo. O arquivo dos cartões sobreviveram à guerra e depois foram microfilmados para as explorações dos arquivos do Museu Memorial do Holocausto, nos Estados Unidos.
Em 1942 uma última ofensiva foi autorizada por Hitler. Alfred Rosenberg inicia uma “guerra intelectual” contra os judeus e os maçons. Para este fim, Hitler permite que Rosenberg tenha acesso aos arquivos maçônicos roubados, estude-os, para melhor equipará-lo em informações aos maçons. Os membros da ERR (Departamento do Líder do Reich Rosenberg – Não tenho certeza sobre a tradução – Einsatzstab Reichsleiter Rosenberg – ERR) recebem apoio do Alto Comando das Forças Armadas Alemãs (Oberkommando der Wehrmacht ; OKW) para o cumprimento dessa missão.
Em 1943 a França estava ocupada pelos nazistas, Hitler não perdeu tempo, utilizou da força e da influência do cinema francês da época para lançar um filme contra a “conspiração judeu-maçônica”, o filme “Forces Occultes” mostrou diversas simulações de rituais maçônicos.
A narrativa do filme envolve-se em um jovem deputado que se juntou ao Grande Oriente da França afim de tornar sua carreira mais influente. Ele então, confrontado com a corrupção e os escândalos políticos do momento, assume o papel de “maçom” (sic), conspirando com judeus e com americanos para colocar a França em guerra contra a Alemanha.
Pós guerra
Após o final da Segunda Guerra Mundial, as vastas coleções de arquivos maçônicos e bibliotecas que foram apreendidas pelas autoridades alemãs foram capturadas, por sua vez, pelas forças aliadas e soviéticas. Por exemplo, um importante arquivo maçônico foi encontrado na Silésia, no leste da Alemanha, por tropas soviéticas nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial. As autoridades soviéticas enviaram os registros para Moscou, onde foram mantidos em arquivos secretos. Outros materiais relacionados com Maçônaria da Alemanha foram recuperados na Polônia; Alguns desses materiais foram microfilmados e armazenados no arquivo do Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos. Desde o fim da Guerra Fria, muitas coleções relacionadas com maçonaria foram devolvidas aos países de origem, enquanto outras continuam a ser mantidas em repositórios estrangeiros.
Ainda lembramos de todas atrocidades cometidas pelo regime nazista no mundo, na Maçonaria alemã existe um resquício de medo nos membros em identificarem-se como tal. Um símbolo chamado de “Forget Me Not” foi criado para ajudar os pedreiros a identificarem-se entre si, proclamando secretamente sua afiliação. É usado como um sinal de lembrança daqueles que foram perseguidos, torturados e mortos na Alemanha nazista.
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