CÂMARA DE REFLEXÕES
Chega o dia da iniciação, um profano em pouco tempo estará apto a usar como seu, o título de membro da Ordem Maçônica, uma instituição universal originada em épocas remotas que se utiliza de vários simbolismos dotados dos mais variados significados, com o objetivo de perpetuar vários ensinamentos entre seus irmãos.
O profano que busca ser iniciado deve ser submetido a uma série de provas, sendo que a primeira delas é a da Terra, simbolizada pela Câmara de Reflexões, uma sala rústica, escura, sem contato com o meio externo e que contém diversos objetos, cada um possuindo diferentes significados.
O candidato que se encontrava vendado, é instruído a descobrir os seus olhos e olhar ao redor, podendo então visualizar um pequeno cômodo iluminados por luz de velas, de paredes negras contendo vários dizeres escritos; papel; caneta; mesas e cadeiras simples; sendo que em uma destas mesas, encontram-se vários objetos, tais como: um jarro com água, sal, enxofre, um esqueleto (ou ao menos uma caveira humana), uma ampulheta, um galo (que pode estar disposto sobre a mesa ou mesmo pintado na parede), as palavras vigilância e perseverança colocadas acima e abaixo do galo respectivamente, pão, as iniciais V.I.T.R.I.O.L., além de uma imagem da morte com uma foice e do espelho (em alguns ritos).
A maioria dos irmãos iniciados nas Américas Central e do Sul, Europa, Oriente Médio e a África estão familiarizados com a Câmara de Reflexões.
Ela é utilizada no Primeiro Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, Rito Francês, Rito Brasileiro, além de outros ritos derivados destes que foram mencionados, nela, o profano fica confinado tempo suficiente para visualizar o local e responder ao questionário que lhe é entregue, além de preencher o seu testamento; no Rito Brasileiro, ainda é apresentado ao candidato, os artigos I e II da Constituição da Jurisdição, que explica os princípios da instituição além de uma declaração a ser assinada pelo profano de que nada revelará sobre o que já foi visto, mesmo que não venha a ser admitido na Ordem posteriormente.
O simbolismo da câmara pode ser interpretado de várias maneiras, ela pode ser visualizada como uma tumba semelhante às descritas na bíblia em épocas passadas, logo, simbolizaria a morte e o enterro, poder-se-ia dizer que a partir daí a vida profana do futuro iniciado chega ao fim, e que agora os princípios que regem a sua vida devem ser os mais compatíveis possíveis com os princípios maçônicos; entretanto, a câmara não simboliza apenas a morte, mas pode ser encarada também como o útero materno, capaz de gerar a vida, portanto, seria um local de renascimento, aquele que lá esteve acaba de renascer ao olhar maçônico e aceita as responsabilidades pela sua escolha.
A câmara também pode ser vista como uma prova de coragem, pois seu recinto foge dos padrões convencionais e pode ser temida por aqueles que a olham de maneira profana, sem buscar o significado por detrás dos objetos, assim, o profano que solicita ingresso na Maçonaria, deve mostrar coragem, como uma forma de demonstrar aos demais membros da ordem, que não pessoas fracas e despreparadas psicologicamente, e que todos os segredos que lhe forem confiados estarão seguros.
É na câmara ainda, que no meu ver o neófito demonstra uma virtude extremamente importante, a confiança naqueles que serão seus futuros irmãos, pois se fizermos uma analogia um tanto filosófica sobre o acontecimento, ao se retirar da câmara, o futuro iniciado deve novamente ser vendado, e é prontamente transferido deste local sombrio para outro recinto normalmente mais iluminado, ou seja, ele desde já, começa a andar em direção à luz, mas como ainda não completou as outras provas da iniciação maçônica, não possui o preparo necessário para que possa visualizá-la, logo, o candidato confia incondicionalmente no irmão que o conduz, deixando que este mostre qual o melhor caminho a trilhar.
Retornando à câmara, algumas explicações se fazem necessárias no que diz respeito aos materiais ali colocados:
O Sal é um elemento neutro e é utilizado como uma representação da vida, da pureza e da sabedoria; preceitos que devem nortear os passos do candidato em sua nova jornada dentro da ordem maçônica;
A Água é encarada como a fonte da vida, indispensável para o ser humano, enquanto que o pão nos lembra do trabalho, uma vez que ele é o produto final da transformação do trigo e de outras substâncias; juntos, pão e água nos remetem à lembrança da simplicidade, a qual deve ser encarada pelo candidato como uma forma de conduzir a sua vida;
O Enxofre é a representação da consciência através dos antigos ensinamentos da alquimia;
O Galo juntamente com as palavras “vigilância” e “perseverança” simbolizam o futuro que está por vir logo que o candidato se libertar da escuridão causada pelo medo e pela ignorância, assim como o galo canta para anunciar o novo dia que está por vir, ele anuncia ao candidato que ele está prestes a receber a luz, entretanto, apenas aqueles que carregam consigo os ideais de vigilância e perseverança, estarão aptos a buscarem a luz e a verdade de nosso “mestre interior”;
A Ampulheta, de uma maneira geral, simboliza a passagem do tempo, estando a sua estagnação ligada à inconsciência humana através de sua alma, de modo que quando isto ocorresse poderia o mesmo experimentar sua natureza plena, contemplando presente, passado e futuro, assim como o criador, desta maneira, ao receber a luz, o candidato “acorda” para a sua própria natureza;
A Figura da Morte e o Esqueleto representam a fragilidade humana, necessária para que o profano deixe esta condição e renasça como um membro da ordem simboliza, ainda, a justiça divina, qual teremos que enfrentar para que possamos descansar em paz;
As iniciais V.I.T.R.I.O.L. foram gravadas em uma pedra presente no antigo Templo de Salomão, suscitando que a verdade está dentro de nós, através do escrito em latim “visita interiora terrae rectifando invenies occultum lapidem”, ou seja, “visitem o interior da terra, purificando-se, e encontrarão a pedra perdida”;
O Espelho é utilizado apenas em alguns ritos (por exemplo, no Rito Escocês Retificado, derivado do Rito Francês, como forma de demonstrar que nem sempre o inimigo a ser combatido está em outra pessoa, podendo este encontrar-se em nosso interior, e deve ser eliminado através de ações benevolentes e pensamentos puros);
Por fim, há ainda na câmara, os vários dizeres estampados na parede levando a uma reflexão mais profunda por parte do candidato, se realmente é de seu desejo entrar para a maçonaria, sendo possível ainda desistir caso seja conduzido a este local por mera curiosidade, ou por outros motivos fúteis, que de nada iriam contribuir para a ordem.
Antes de sair da câmara, o candidato deve ainda escrever um testamento aonde ele deixa claro seus desejos sem nenhuma ressalva, durante o momento de transição que se segue.
A partir do momento que o candidato deixa de ver a câmara com os olhos de um profano, e passa a enxergá-la com os olhos de um maçom, destituído do medo ou apreensão, interpretando aquele local como o ponto de partida para sua longa caminhada buscando constantemente evoluir, não apenas na ordem mas, principalmente na sociedade, então ele não pode ser mais chamado de profano, porque acabou de dar o primeiro passo para se tornar um verdadeiro irmão.
Referências Bibliográficas
Jr., Helio I. The Chamber of Reflection, Presented at the Vancouver Grand Masonic Day, october 16, 1999. Stavish, Mark. The Chamber of Reflection, M.A, FRC, SI, 2002
Ilustrações: Ir Daniel Martina Toupitzen - CIM: 285520 GOSP/GOB
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