24 de fevereiro de 2016

DESVENDADO A OBRA: MORAL E DOGMA DE ALBERT PIKE – Parte II



INTRODUÇÃO: 

O livro “Moral e Dogma”, de Albert Pike, é, sem dúvida alguma, o livro maçônico mais conhecido dos maçons… e dos antimaçons! Abrangendo a compreensão pessoal do autor (e não oficial da Maçonaria) sobre os ensinamentos morais e espirituais dos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, observa-se nessa obra o vasto conhecimento que Albert Pike detinha sobre história, teologia e línguas. Porém, Moral e Dogma também serviu de terreno fértil para as acusações de fanáticos religiosos. Citações inventadas, citações de outras obras, citações modificadas e outras mal interpretadas são creditadas a Moral e Dogma, e se multiplicam e se perpetuam em livros, cartilhas e websites que atacam a Ordem Maçônica, acusando-a de satanismo, politeísmo e outras coisas mais. O presente estudo analisará as passagens do livro Moral e Dogma que constam as palavras “Lúcifer”, “Satanás”, “demônio” ou “diabo”, realizando a devida interpretação de tais passagens no contexto em que estão inseridas.


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CAPÍTULO XIX

“O Apocalipse é, para aqueles que recebem o Grau XIX, a Apoteose daquela Sublime Fé que aspira a Deus somente, e despreza todas as pompas e obras de Lúcifer. Lúcifer, o portador da Luz! Nome estranho e misterioso a dar ao Espírito das Trevas! Lúcifer, Filho da Manhã! É ele quem traz a luz, e com seus esplendores intoleráveis engana almas fracas, sensuais ou egoístas? Não duvide! Tradições estão cheias de Revelações Divinas e Inspirações: e Inspiração não é de uma idade nem de um credo. Platão e Philo, também, foram inspirados.” 

“É por Sua Palavra pronunciada que Deus se revela a nós, não só na criação visível e invisível, mas intelectual, mas também em nossas convicções, consciência e instintos. Por isso, é que certas crenças são universais. A convicção de todos os homens que Deus é bom levou a uma crença em um diabo, o Lúcifer caído ou portador de Luz, Shaitan, o adversário, Ahriman e Tuphon, como uma tentativa de explicar a existência do Mal, e torná-lo compatível com o Infinito poder, Sabedoria, e benevolência de Deus.”


Esse trecho é um dos preferidos dos fanáticos de plantão, que aproveitam da forma romanceada e formal com que Albert Pike escrevia e, retirando totalmente o trecho do seu contexto histórico e literário, tratam de realizar interpretação torta e equivocada, explorando ainda o pouco conhecimento que os leigos têm da Bíblia. Albert Pike, cristão como era, afirma que sim, Lúcifer existe, não sendo apenas uma tradição antiga e religiosa. Para tanto, defende que tradições estão cheias de revelações divinas e inspirações, independente de época e credo, dando como exemplos Platão e Philo. 


Não há no texto qualquer exaltação a Lúcifer. Pelo contrário: todos os termos usados são bíblicos. Lúcifer significa “Portador da Luz” (Lucem Ferre), enquanto que a própria Bíblia se refere a Lúcifer como “Estrela da Manhã” e “Filho da Manhã” (Isaías 14:12). Já o termo “esplendor intolerável” é comumente usado para se referir aos arcanjos: Miguel, Gabriel, Rafael e Lúcifer (tradição judaico-cristã), além de Azrael (tradição islâmica).



CAPÍTULO XXIII



“Com suas tendências naturais, o sacerdócio, classe seleta e exclusiva no Egito, Índia, Fenícia, Judéia e Grécia, bem como na Grã-Bretanha e em Roma, e onde mais os Mistérios eram conhecidos, fez uso desses para construir mais largo e mais alto a estrutura de seu próprio poder. A pureza de nenhuma religião continua por muito tempo. A classe e suas dignidades tiveram êxito com a simplicidade primitiva. Sem escrúpulos, homens vãos, insolentes, corruptos e mercenários colocam o uniforme de Deus para servir ao Diabo; e luxo, vício, intolerância e orgulho destituem frugalidade, força, gentileza e humildade, e mudam o altar onde deveriam estar servos, para um trono onde eles reinam.”


Que porrada, hein? Para um livro de 1871, a mensagem se encaixa perfeitamente nos dias atuais, quando é comum escândalos envolvendo o abuso, a luxúria e diferentes tipos de delitos de sacerdotes das mais diversas igrejas.



CAPÍTULO XXV



“Os assírios, os imperadores de Constantinopla, os partos, citas, saxões, chineses e dinamarqueses traziam a serpente como um padrão, e entre os despojos tomados por Aureliano de Zenóbia eram essas normas, Persici Dracones. Os persas representaram Ormuzd e Ahriman por duas serpentes lutando pelo ovo mundano. Mitra é representado com uma cabeça de leão e corpo humano, cercado por uma serpente. Na Sadder está este preceito: “Quando você matar serpentes, você vai repetir o Zend-Avesta, e daí você obterá grande mérito, pois é o mesmo que se você tivesse matado tantos demônios.””
Essa passagem faz parte do Capítulo que trata do grau de “Cavaleiro da Serpente de Bronze”. Pike então comenta sobre os diferentes povos que tiveram a serpente como um importante símbolo, e da ligação simbólica que a serpente tem com o dragão em muitos desses. O “Sadder”, citado por Pike, é um dos livros sagrados dos antigos persas.



CAPÍTULO XXVI



“Para cada Maçom, a Justiça Infinita e benevolência de Deus dá ampla garantia de que o Mal acabará por ser destronado, e o Bem, o Verdadeiro, reinará triunfante e eterno. Isso ensina que o Mal, a dor e a tristeza existe como parte de um plano sábio e benevolente, e que todas as partes trabalham em conjunto sob o olhar de Deus em busca de um resultado que deve ser a perfeição. Se a existência do mal é justamente explicada neste credo ou em que, por Typhon, a Grande Serpente, por Ahriman e seus exércitos de espíritos maus, pelos Gigantes e Titãs que lutaram contra o Céu, pelos dois co-existentes Princípios de Bem e Mal, pela tentação de Satanás e da queda do homem, por Lok e a serpente Fenris, está além do domínio da Maçonaria decidir. Também não é da sua competência determinar como o triunfo final da Luz e da Verdade e do Bem, sobre as trevas, o erro e o mal, será alcançado, nem se o Redentor, almejado por todas as nações, realmente apareceu na Judéia, ou ainda está por vir.”



Um belo parágrafo sobre a universalidade da Maçonaria, principalmente nas questões dogmáticas. Pike afirma que a Maçonaria crê na prevalência do Bem sobre o Mal, mas que não entra no mérito de quando, como e por quem se dará isso, algo fora de sua competência.


“Com os Priscilianistas havia dois princípios, um a divindade, outro a matéria primitiva, a escuridão; ambos eternos. Satanás é o filho e senhor da matéria, e os demônios secundários, as crianças da matéria. Satanás criou e governa o mundo visível. Mas a alma do homem emana de Deus, e é da mesma substância que Deus. Seduzido pelos espíritos malignos, ele passa por vários corpos, até que, purificado e reformado, eleva-se a Deus e é reforçado pela sua luz. Estes poderes do mal mantém a humanidade em penhor, e para resgatar desse compromisso, o Salvador, o Cristo Redentor, veio e morreu na cruz da expiação, encerrando a obrigação escrita. Ele, assim como todas as almas, era da mesma substância que Deus, uma manifestação da divindade, não formando uma segunda pessoa; nascituro, como a Divindade, e nada mais do que a Divindade sob outra forma.”



Pike se dedica a abordar o tema da luz sobre as trevas nas diferentes religiões, vertentes e épocas. Nesse trecho em particular, Pike disserta sobre a visão dos Priscilianistas sobre os princípios de luz e trevas. Os Priscilianistas eram os seguidores da doutrina cristã primitiva pregada por Prisciliano, a qual foi condenada em vários concílios dos primeiros séculos da era cristã. Seus seguidores foram perseguidos e a doutrina desapareceu.




CAPÍTULO XXVIII



“Os hebreus, pelo menos após o seu regresso do cativeiro persa, tiveram a sua Divindade boa e o Diabo, um Espírito mau e mal-intencionado, sempre contra Deus, e Chefe dos Anjos das Trevas, como Deus era daqueles de luz. A palavra “Satã” significa, em hebraico, simplesmente, “O Adversário”. Os caldeus, diz Plutarco, tiveram suas estrelas do bem e do mal. Os gregos tiveram seu Júpiter e Plutão, e seus Gigantes e Titãs, a quem foram atribuídos os atributos da serpente com que Plutão ou Serápis foi cercado, e a forma que foi assumida por Typhon, Ahriman, e Satanás dos hebreus. Cada povo tinha algo equivalente a este.”


“Assim, a Balança, o Escorpião, a Serpente de Ophiucus, e o dragão das Hespérides tornaram-se sinais malévolos e os gênios do mal, e toda a natureza foi dividida entre os dois princípios, e entre os agentes ou causas parciais subordinadas a eles. Como Michael e seus Arcanjos, e Satanás e seus compadres caídos. Daí as guerras de Júpiter e os gigantes, em que os Deuses do Olimpo lutaram ao lado da Luz, Deus, contra a progênie escura da terra e do Caos: uma guerra que Proclo considerou como um símbolo da resistência oposta pela matéria escura, caótica, e a força ativa e beneficente que lhe confere organização, uma ideia que, em parte, aparece na velha teoria de dois princípios, um inato na substância ativa e luminosa do céu, e o outro na substância inerte e escura de matéria que resiste à ordem.”


Aprofundando no tema de luz e trevas, Pike explora a ideia da dualidade das forças, sua polarização e diferentes personagens que ilustraram seus extremos.



CAPÍTULO XXX



“Comentários e estudos têm sido multiplicados sobre a Divina Comédia, a obra de Dante, e ainda ninguém, tanto quanto sabemos, apontou seu caráter especial. O trabalho do grande Ghibellin é uma declaração de guerra contra o Papado, por revelações ousadas dos Mistérios. O épico de Dante é Joanita e gnóstico, um pedido audacioso, como o do Apocalipse, das figuras e números da Kabalah para os dogmas cristãos, e uma negação do segredo de cada coisa absoluta nesses dogmas. Sua viagem através dos mundos sobrenaturais é realizado como a iniciação nos mistérios de Elêusis e Tebas. Ele foge do abismo do inferno sobre a porta de que a frase de desespero foi escrita, invertendo as posições da cabeça e pés, ou seja, ao aceitar o oposto do dogma católico, e então ele retorna à luz, usando o próprio Diabo como uma escada monstruosa. Fausto sobe para o céu, pisando a cabeça de Mephistopheles vencido. O inferno é intransponível para aqueles que só não sabem como voltar dele. Nós nos libertamos da escravidão pela audácia.”


O 30o grau, tratado no Capítulo XXX, tem como pano de fundo a história dos cavaleiros templários. Não é por acaso que Pike menciona a Divina Comédia, reforçando a conhecida relação entre Dante, sua obra, e os templários. E assim como o grau realiza uma crítica à corrupta Igreja Católica da Idade Média, A Divina Comédia faz o mesmo.



CAPÍTULO XXXII



“A possibilidade de equilíbrio nos prova que os nossos apetites e sentidos também são forças dadas a nós por Deus, para fins de bondade, e não frutos da malignidade de um Diabo, a serem detestados, mortificados, e, se possível, tornados inertes e mortos. Eles nos são dados a ser o meio pelo qual deve ser reforçados e incitados os grandes e bons feitos, e devem ser usados com sabedoria, e sem abuso, para serem controlados e mantidos dentro de limites devidos pela Razão e do Senso Moral, para serem instrumentos úteis e servos, e não é permitido que se tornem os gestores e mestres, usando o nosso intelecto e razão como instrumento de base para a sua gratificação.”


Nessa passagem, Pike defende que os apetites e sentidos não são coisas malignas, como querem alguns, mas presentes de Deus e, como tal, devem ser usados em boas ações, com moderação, de forma racional e moral. Essa “gestão dos apetites” é questão sempre discutida na teologia, visto os apetites facilitarem uma inversão de prioridades e permitirem que os desejos prevaleçam sobre a moral e a razão.



CONCLUSÕES



Moral e Dogma é uma obra com profundo conteúdo teológico, inclinada ao dualismo próprio do Zoroastrismo e das religiões tidas como abraâmicas, influenciadas por esse. Na verdade, o dualismo está presente em praticamente todas as religiões e culturas. E a Maçonaria também compartilha dessa visão das forças antagônicas. Mas é nas entrelinhas que se pode enxergar nitidamente traços importantes da personalidade de Albert Pike: sua crença cristã e sua descrença quanto aos políticos. 140 anos após a primeira publicação, Moral e Dogma mantém-se atual, para não dizer ainda à frente de nosso tempo.


As passagens da obra que citam as personificações do polo negativo, ou seja, Lúcifer, Satanás, o Diabo, ao contrário do que muitos fanáticos tentam passar, apenas evidenciam a crença cristã de Albert Pike, e sua tendência em escrever na linguagem teológica predominante na sociedade norte-americana, de valorização da guerra espiritual contra o diabo, citando-o constantemente, como muitas igrejas ainda fazem. Não há uma única passagem na obra em que o autor realiza algum comentário ambíguo ou tendencioso a favor de algo maléfico.


Pelo contrário, a obra incita os maçons à observação de rígidos preceitos morais e espirituais. Enfim, as acusações de satanismo são totalmente falsas e infames, apenas tentativas hostis de atacar e prejudicar a Maçonaria. Mas já estamos acostumados.




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