OS
INIMIGOS DA LUZ
Dizem
que o poeta alemão J. W. von Goethe, no leito de morte, reuniu o que lhe
restavam de forças para pronunciar suas últimas palavras, que ficariam para a
posteridade: “Luz, quero luz!” Perdoem-me a imprecisão histórica quando escrevo
“dizem” mas de imprecisões a História está repleta, malgrado o esforço de
homens sérios e comprometidos com a honestidade dos fatos.
Também
em Maçonaria as imprecisões históricas avultam e não é tarefa fácil separar o
joio do trigo. Entretanto, cabe ao Maçom à compreensão e o entendimento da
Ordem a qual pertence, tornando-se um eterno buscador da Verdade. A Verdade é,
filosoficamente, contestável, mas nem por isso desprovida de existência real.
Buscar
a Verdade é um impulso instintivo do Homem e mesmo que não a busque conscientemente,
será guiado por forças da sua mente inconsciente – que Jung chamou de
“tendências instintivas” – que se manifestará nos sonhos como fantasias
reveladas através de imagens simbólicas. É imperioso sair do mundo das sombras
- tão bem simbolizado por Platão no “Mito da caverna” – e ir ao encontro da
Luz.
Assim
nos encontrávamos na Cam.˙. de Ref.˙. . Imersos na escuridão, batíamos
profanamente à porta do Templo consagrado ao G.˙.A.˙.D.˙.U.˙., na esperança de
sermos admitidos nos AAug.˙. MMist.˙. . Buscávamos a Luz.
O
primeiro ato da Criação Divina, o “Fiat Lux”, mostra-nos que a Luz precede a
existência do mundo das formas; é a origem comum a todas as coisas. Não podemos
deixar de fazer a relação entre o texto do Gênesis: 1, 1-3 com a revolucionária
Teoria Geral da Relatividade, enunciada pelo gênio Albert Einstein, em 1905:
E=M.C² (energia é igual a massa vezes velocidade da luz ao quadrado). Grosso
modo, seria o mesmo que dizer que matéria é energia coagulada. Afinal, tanto a
Religião quanto a Ciência chegaram à conclusão de que tudo é Luz.
Simbolicamente,
a Luz representa o conhecimento; a revelação dos mistérios das Leis Divinas; a
sabedoria imanente; a libertação das amarras da ignorância pela compreensão de
quem somos, de onde viemos e para onde vamos.
Na
cerimônia de Iniciação, pede-se a Luz para o neófito e a Luz lhe é dada. A
partir de então, o neófito passa à condição de Iniciado e cabe-lhe envidar
todos os esforços para se melhorar. A jornada começa com o desbaste das arestas
morais, num esforço para vencer suas paixões inferiores, lapidando-se paciente
e diuturnamente com o concurso da vontade firme e da inteligência,
representados pelo cinzel e pelo maço.
Nesse
esforço, cumpre-lhe trabalhar sem descanso para livrar-se das suas imperfeições.
É uma tarefa individual, porém, não prescinde da colaboração dos IIr.˙. que o
ajudam com lições, conselhos e orientações lastreados em suas experiências e
vivências maçônicas. Essa ajuda faz parte do processo de aprendizagem,
concretizando um dos nossos mais sublimes preceitos: a Fraternidade.
Tudo
que devemos aprender, e fazer, encontram-se no Ritual de Aprendiz, dizem-nos os
Mestres mais experientes. É verdade. Está tudo no Ritual e basta uma reflexão
profunda com o sincero interesse em adquirir instrução. Tomemos um exemplo:
O
Ven.˙. M.˙. pergunta ao Ir.˙. 1° Vig.˙. , na abertura ritualística:
“—
Para que nos reunimos aqui, Ir.˙. 1° Vig.˙.?
—
Para combater o despotismo, a ignorância, os preconceitos e os erros. Para
glorificar a Verdade e a Justiça; para promover o bem-estar da Pátria e da
Humanidade, levantando templos à Virtude e cavando masmorras ao vício”.
Vamos
refletir sobre cada frase.
Combater
o despotismo – Pela definição do Dicionário Houaiss, despotismo é “o poder
isolado, arbitrário e absoluto de um déspota.” O déspota, ainda na definição do
Houaiss significa “que ou quem age tiranicamente, embora não detenha o poder
absoluto”. O despotismo deve ser combatido onde quer que este se encontre:
dentro ou fora do Templo.
A
ignorância – é a causa de vários males que afligem a Humanidade.
Ignorância é viver imerso em sombras, desconhecendo as Leis Morais que governam
a todos, favorecendo a harmonia geral.
O
estudo sério e metódico é uma das formas mais eficazes de combatê-la. Erra
demasiadamente o Maçom que não é dado ao estudo, à pesquisa e à inquirição da
Verdade.
A
Maçonaria não revela seus segredos àqueles que cultivam, com zelo, a preguiça
mental e abdicam do sagrado direito de pensar por si próprios.
Os
preconceitos e os erros – Imaginemos os preconceitos e os erros como
filhos diletos da Ignorância, donde retiram o seu alimento e o sustento para
crescerem fortes. Desde que se combata a Ignorância, exterminando-a,
condenam-se os preconceitos e os erros a morrerem de inanição.
Glorificar
a Verdade e a Justiça – Ao compreender a Verdade e a Justiça como
atributos Divinos, torna-se dever do Maçom glorificá-las, nunca esquecendo de
aplicá-las no convívio com os seus semelhantes. Quem combate a ignorância com
as luzes da Sabedoria conhece a Verdade; quem conhece a Verdade é Justo. Tal é
a perfeição do ensinamento.
Promover
o bem-estar da Pátria e da Humanidade – Todo conhecimento adquirido só tem
sentido, se compartilhado. Age maçonicamente quem é consciente de seu papel como
cidadão brasileiro e como cidadão do mundo, fazendo todo esforço para melhorar
a existência, contribuindo para a Obra da Luz.
Levantando
templos à Virtude – É trabalho de construção. Nós, Maçons, somos
construtores sociais e a nossa obra maior consiste na edificação das virtudes
em nós mesmos.
Cavando
masmorras ao vício – Ao mesmo tempo que erigimos nosso Templo Interior,
para a glória do G.˙.A.˙.D.˙.U.˙., suplantamos os vícios de que somos
portadores, dominando-os e torturando-os até a extinção.
Eis
o porque de nos reunirmos em Loja aberta.
Quem
agir com despotismo querendo impor a sua vontade, cerceando a liberdade e as
iniciativas benfazejas dos IIrm.˙.
Quem
desejar manter-se e manter os IIrm.˙. na ignorância, descuidando ou
desmerecendo as iniciativas que promovam o estudo e a prática da Sagrada
Maçonaria...
Quem,
por misoneísmo, rechaçar as ações inovadoras e as ideias progressistas apenas
para manter uma tradição obsoleta ou o status quo...
Quem
esquecer que a Verdade e a Justiça são atributos do G.˙.A.˙.D.˙.U.˙. e delas
fizer pouco caso, disseminando a mentira e promovendo injustiças...
Quem
não se comprometer com o bem-estar de seus IIrm.˙., da sua família, da sua
cidade, do seu país e do mundo...
Quem
persistir nos vícios e desregramentos morais e tornar-se um estorvo no caminho
dos IIrm.˙. que buscam melhorar-se, envolvendo-o em intrigas, calúnias e
difamações, atacando-os em suas ausências e maquinando para vê-los cair...
Quem
assim proceder, a despeito de ser Iniciado, não é Maçom. É um simulacro de
homem; é um espectro danado que nos espreita.
É
mais um inimigo da Luz.
TFA
Ir.·. Paulo Moura
Ilustração e Adaptação: Ir Daniel Martina - CIM: 552820 GOB/GOSP
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