11 de agosto de 2016

Restauração de Templos Vivos na Maçonaria:




O maçom é sucessivamente exortado a edificar e restaurar templos. Reconstruir templos danificados tem na Maçonaria significado simbólico de grande profundidade filosófica. Isto porque na reconstrução concorrem valores humanos significativos, bem mais intensos que na sua construção. Para uma edificação ser reconstruída, esta deve possuir valor inestimável, e são poucos os abnegados que se habilitam na empreitada de reconstruir algo danificado e com alta probabilidade de ser destruído de novo. 



Na reconstrução de templos concorrem valores como firmeza de decisão e perseverança no objetivo para concluir a reconstrução, bem como, heroísmo no enfrentamento de terríveis e insidiosos inimigos durante as atividades. A ordem maçônica usa de ilustrações de reconstruções para provocar o raciocínio de restaurações constantes de um tipo especial de templo: o homem integral.



Quando em Maçonaria se faz referência a um templo, este designa o local de reunião dos maçons, e por extensão simbólica, significa o "grande" Universo e o "pequeno" Universo, aonde este último constitui a essência do próprio homem, sua força vital, o seu corpo completo; o homem como um templo vivo. Entende-se por corpo completo a sua constituição física e a força ativa que o mantém vivo. Este conjunto complexo pode ser comparado a um Universo em miniatura composto de: corpo, mente, emoção e espiritualidade. Na soma total destes elementos, o espírito é considerado encarnado, parte do corpo físico.



A reconstrução deste tipo de templo ocorre a cada iniciação, a cada nova modificação interior, em resultado da auto-educação estimulada pela ordem maçônica. Cada pedreiro trabalha com as ferramentas de que dispõe, em si mesmo e como resultado de seu desenvolvimento físico, intelectual, emotivo e metafísico. O sábio percebe a finalidade do desafio de modificar a si mesmo para o bem. O sublime e principal propósito é levar o homem a conhecer-se intimamente, de modificar-se, de reconstruir-se ou reorganizar-se internamente ao templo vivo que cada um é.



No diálogo, "O Banquete", Platão (428 a. C. - 347 a. C.) afirma que enquanto na juventude prevalece a admiração pela beleza, no adulto amadurecido descobre-se a verdadeira beleza na espiritualidade. É na maturidade que o homem desperta e se considera parte de um templo maior que consiste em toda a vida do "grande" Universo. Conscientiza-se que concorre para a realização de todo o esplendor do milagre da vida estabelecido em leis naturais espantosas, só compreendidas no amadurecimento espiritual adulto. Entretanto, existem "adultos" que, ao não se modificarem internamente, continuam menores de idade, dependentes da orientação de terceiros e ainda não alcançaram idade madura.



Neste caso não se trata do período da vida compreendido entre a juventude e a velhice, ou a meia-idade, mas o termo último de desenvolvimento humano, a fase de auto-realização. É a liberdade observada quando o homem não é culpado de sua própria menoridade, de sua heteronomia, de deixar-se conduzir por um terceiro. Heteronomia refere-se à deficiência onde a dependência não acontece for falta de entendimento ou limitação fisiológica, mas da falta de coragem ou preguiça de trabalhar em seu templo, presa de paixões desenfreadas ou vícios degradantes. Para Platão, o adulto que venceu sua minoridade reconhece que a beleza emana de sua característica espiritual, essencialmente quando desenvolvida por si mesmo e em si mesmo.


E isto constitui a liberdade absoluta do homem, pois quando não padece de heteronomia, é em seu "pequeno" Universo interior, qual templo, que o homem adulto é soberano e senhor absoluto.


Um templo maçônico é a representação simbólica do Universo maior, composta de toda matéria animada e inanimada. É tão incrível a matéria deste "grande" Universo que, se observada de perto, de bem perto, ao nível atômico e subatômico, é como se toda a existência material fosse feita com absolutamente nada de massa, de quase nada, quase que exclusivamente de espaço vazio. As partículas são tão insignificantes e afastadas umas das outras em espaços relativos tão grandes que, em essência, resulta apenas espaço vazio.



E é tão somente pela velocidade com que os elétrons giram ao redor do núcleo que se manifesta a solidez da matéria. Em essência, a matéria do Universo é feita de nada, de espaço vazio. Ser parte deste todo e ao mesmo tempo deste nada, deste maravilhoso espetáculo da matéria inanimada e animada pelo sopro da vida, é o que dá um importante significado para a vida do homem. É uma distinção impar ser uma individualidade diante do volume de matéria inanimada que existe. O homem é feito da matéria inanimada do Universo, a qual recebeu vida de uma forma ainda incompreensível para o seu conhecimento científico. É natural que, respeitadas as devidas proporções, se considere o homem como um "pequeno" Universo de matéria e energias aglutinadas e animadas por uma energia vital e sobre o qual o intelecto sem heteronomia exerce poder e comando.





Se as estrelas e planetas exercem influências gravitacionais de uns sobre os outros, então as partículas que formam o templo do homem, o seu "pequeno" Universo interior, estão sob influência energética dos outros corpúsculos semelhantes espalhados pelo "grande" Universo. É este pertencer que dá grande significado para a vida do homem. Seu templo faz parte indissolúvel do Universo e isto promove um maravilhoso significado para exercer a liberdade com responsabilidade. É uma honra e distinção impossível de esquecer o fato de ser premiado para viver com liberdade dando conta de si mesmo no Universo.


Se destruído o corpo, ou parte dele, ao nível da matéria e com a atual tecnologia disponível ainda é impossível ao homem reconstruir um templo assim. Resta remendar o corpo físico e mantê-lo funcionando mesmo que precariamente e em decadência progressiva. Para viver com qualidade, o sábio cuida bem de sua saúde física e emocional enquanto os anos lhe vão desgastando a maravilhosa estrutura biológica, até o instante em que a regeneração química de suas moléculas se torna impossível e o sopro da vida o abandona. Alguns parceiros do homem que compartilham a biosfera terrestre têm em si a capacidade de desenvolverem novos membros que lhes foram arrancados por acidentes ou predadores, mas ao homem esta faculdade ainda não se disponibilizou.

Já o templo interior do homem é passível de reconstrução, basta que para isto se parta para a ação com vontade e perseverança. A capacidade de reconstruir o templo interior, uma vez destruído, é uma capacidade que cada homem possui em potencial. É só deixar que esta inclinação espiritual se manifeste e se obedeça ao bom senso de seguir sempre em frente.

Simbolicamente, a ação nobre da espada inibe a aproximação e defende do inimigo externo e subjuga e mata o inimigo interno, enquanto a trolha, na mão do trabalhador da pedra, participa na edificação e reedificação de templos. A trolha constrói o templo externo de pedra, assentando as pedras, em cujo interior, ao alisar as paredes, melhora as relações entre as pedras vivas que estão construindo e reconstruindo templos vivos. Os maçons reúnem-se num templo de pedra que representa o Universo, local sagrado onde cada indivíduo reconstrói seu próprio lugar sagrado, o templo de si mesmo. É local também onde se provoca e incentiva ao seu irmão a edificar e melhorar seu templo. Cada um atua num templo de carne que é a representação em miniatura do Universo dentro de um templo de pedra que representa o Universo. Os templos melhorados pelo trabalho em si mesmos agradecem ao privilégio de vestirem ossos com carne, animados pela força ativa do espírito que exalta o dom da vida. É pelo conjunto de todo o trabalho de construção e reconstrução, planejado racionalmente, que o maçom declara a glória do Grande Arquiteto do Universo.



Autor:
Ir.´. Charles Evaldo Boller



Ilustração e Adaptação: 
Ir Daniel Martina FRC


Bibliografia:


1. CAMINO, Rizzardo da, Rito Escocês Antigo e Aceito, Graus um ao Trinta e Três, ISBN 978-85-370-0222-3, primeira edição, Madras Editora Ltda., 302 páginas, São Paulo, 2009;



2. CLAUSEN, Henry C., Comentários Sobre Moral e Dogma, primeira edição, 248 páginas, Estados Unidos da América, 1974;



3. MIRANDA, Pedro Campos de, Os Caminhos da Maçonaria, ISBN 85-7252-216-6, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 160 páginas, Londrina, 2006;



4. SANSÃO, Valdemar, O Despertar para a Vida Maçônica, ISBN 85-7252-206-9, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 192 páginas, Londrina, 2005;



5. SOBRINHO, Octacílio Schüler, Maçonaria, Introdução Aos Fundamentos Filosóficos, ISBN 85-85775-54-8, primeira edição, Obra Juridica, 158 páginas, Florianópolis, 2000;



6. SPOLADORE, Hercule, O Homem, o Maçom e a Ordem, ISBN 85-7252-204-2, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 194 páginas, Londrina, 2005.






Grau do Texto: Aprendiz Maçom


Área de Estudo: Espiritualidade, Filosofia, Maçonaria, Simbologia 


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